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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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47. Abel Salazar tinha uma concepção aberta <strong>da</strong> ciência e, muito an-<br />

tes de Thomas Khun, exemplificou, explicitamente, e chamou a<br />

atenção para o papel dos compêndios, <strong>da</strong> tradição e <strong>da</strong>s comuni-<br />

<strong>da</strong>des científicas na elaboração dos paradigmas <strong>da</strong> investigação.<br />

Paradigmas que Khun analisou em “A Revolução Copernicana”,<br />

no qual considera que esta foi muito menos importante do que<br />

“a nova maneira de olhar a natureza, o homem e Deus – um nova<br />

perspectiva científica e cosmológica que, durante os séculos XVIII e<br />

XIX, repeti<strong>da</strong>mente, enriqueceu as ciências e reformulou tanto a filo-<br />

sofia religiosa quanto a política”.<br />

48. A revolução copernicana descentrou, de fato, a nossa linguagem<br />

culturalmente vincula<strong>da</strong> à civilização judeo-cristã , obrigando-a<br />

a questionamentos teogônicos e teleológicos, antes impensáveis.<br />

Mas, a linguagem, alicerça<strong>da</strong> no empirismo permanen<strong>tem</strong>ente<br />

atualizado pela vivência social, resistiu tantas vezes a um cien-<br />

tismo que ameaçava, e ain<strong>da</strong> ameaça, tudo querer dominar. Por<br />

isso, Heidegger não deixava de ter razão, quando afirmava que<br />

“as ciências são triviais. Só nos dão as respostas possíveis. São as per-<br />

guntas que importam.”<br />

49. Perguntas sobre o estatuto ontológico e metafísico do homem<br />

ou sobre o sentido essencial, o estatuto epis<strong>tem</strong>ológico <strong>da</strong>s reali-<br />

<strong>da</strong>des que investiga e manipula não <strong>tem</strong> a ciência para tudo isso<br />

respostas, porque, insiste Heidegger, “a ciência não pensa”.<br />

50. Vão, aliás, no mesmo sentido as considerações de Wittgenstein,<br />

ao afirmar que a ciência não poderia resolver, nunca iria resol-<br />

ver, os problemas realmente importantes <strong>da</strong> existência humana,<br />

porque estes são de natureza ética e estética, entendi<strong>da</strong> esta, na<br />

acepção de Kant, como próxima <strong>da</strong> morali<strong>da</strong>de. Pois, aqui está, de<br />

novo, o Homem como sujeito e objeto dos seus próprios enun-<br />

ciados epistémicos, aqueles que, no final <strong>da</strong> evolução vertiginosa<br />

298 • <strong>Quem</strong> <strong>tem</strong> <strong>medo</strong> de <strong>pesquisa</strong> <strong>empírica</strong>?

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