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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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do provincianismo e do deslumbramento, considerava justamen-<br />

te que essa cultura do igualitarismo, que ele atribuía sobretudo ao<br />

“solipsismo comunitário do pós-modernismo”, contaminou o mundo<br />

acadêmico, antes ancorado no mérito e nos saberes clássicos que<br />

lhe <strong>da</strong>vam substância e adequa<strong>da</strong> perspetiva histórica.<br />

38. Defendendo o mérito e os saberes clássicos contra a crescen-<br />

te hegemonia dos estudos identitários e advogando um ethos de<br />

austeri<strong>da</strong>de perante o encantamento por uma democratização<br />

basea<strong>da</strong> em padrões de consumo, responsável principal por essa<br />

“uniformi<strong>da</strong>de descendente”, geradora de novas formas de estrati-<br />

ficação no acesso ao conhecimento, Judt reflete nostalgicamente:<br />

“Na minha geração, víamo-nos a nós próprios como sendo ao mesmo<br />

<strong>tem</strong>po radicais e membros de uma elite. Se isso parece incoerente, é a<br />

incoerência de uma certa herança liberal, […] a incoerência <strong>da</strong> me-<br />

ritocracia: <strong>da</strong>r a todos as mesmas oportuni<strong>da</strong>des e depois privilegiar<br />

os talentosos.”<br />

39. É que, continua Judt, antes do desenfreado consumismo pós-<br />

colonial e pós-moderno, “a austeri<strong>da</strong>de não era apenas uma<br />

condição econômica: aspirava a ser uma ética pública”. A acu-<br />

tilância e atuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> análise de Judt vão mais longe, quando<br />

afirma: “Uma visão empobreci<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, basea<strong>da</strong> na comu-<br />

nhão através do consumo, é tudo o que merecemos <strong>da</strong>queles que nos<br />

governam. Se queremos melhores governantes, <strong>tem</strong>os de aprender<br />

a exigir mais deles e menos para nós próprios. Alguma austeri<strong>da</strong>de<br />

vinha a calhar.”<br />

40. A maturi<strong>da</strong>de do pensamento desse ensaísta, nascido no <strong>tem</strong>po<br />

do baby-boomer do após Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, aluno de es-<br />

cola pública num bairro de classe média-baixa, dos subúrbios de<br />

Londres, antes de se graduar no seleto King’s College <strong>da</strong> Uni-<br />

versi<strong>da</strong>de de Cambridge e, mais tarde, na não menos seleta École<br />

A Pesquisa Empírica como instrumento de • 295<br />

comunicação científica • 295

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