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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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2. Desde, pelo menos, o Ensaio sobre o entendimento humano, de<br />

John Locke, o conhecido filósofo do empirismo, o papel <strong>da</strong> ex-<br />

periência no conhecimento científico <strong>tem</strong> sido exaltado como<br />

forma de combater a, por vezes, tão exacerba<strong>da</strong> metafísica.<br />

3. O abade francês, Condillac, que Karl Marx considerou, a justo<br />

título, discípulo direto de Locke, inspirar-se-ia naquele ensaio<br />

fun<strong>da</strong>dor para escrever o seu Ensaio sobre a origem dos conheci-<br />

mentos humanos, no qual arremessou o sensorialismo do filósofo<br />

inglês contra a metafísica do século XVII, assim reforçando a<br />

importância <strong>da</strong> ciência <strong>empírica</strong>.<br />

4. O apreço de Marx sobre o ensaio de Locke, no qual se formula<br />

o princípio de que na<strong>da</strong> existe no pensamento que não tenha<br />

passado, primeiro, pelos sentidos, levou o filósofo germânico a<br />

perguntar-se se o inglês não teria sido ele próprio um discípulo<br />

de Espinosa.<br />

5. A interrogação de Marx quanto à influência de Espinosa em<br />

Locke e deste em Condillac, confirma, afinal, a afirmação de Po-<br />

pper, segundo a qual “as teorias científicas estão em perpétua<br />

mutação”, não, por mero acaso, mas pela decorrência mesma <strong>da</strong><br />

ciência <strong>empírica</strong>. Com efeito, os sentidos, na sua apreensão <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de, são condicionados pelo estado psicológico de quem<br />

experiência ou observa e pelo <strong>tem</strong>po em que experiência ou ob-<br />

serva, produzindo o pensamento, por isso, enunciados cientifi-<br />

camente diferenciados, de acordo com o momento diferente em<br />

que os formula.<br />

6. Esta é a característica distintiva do discurso <strong>da</strong>s ciências huma-<br />

nas: produzir enunciados teóricos, científicos, portanto lógicos,<br />

acerca <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, a partir <strong>da</strong> sua observação subjetiva. O termo<br />

teoria, do étimo grego theoros, significa exatamente “observação”,<br />

284 • <strong>Quem</strong> <strong>tem</strong> <strong>medo</strong> de <strong>pesquisa</strong> <strong>empírica</strong>?

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