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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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ocultos para agir de modo abrasivo e destrutivo sobre antigas formas de<br />

cultura” (p. V, <strong>da</strong> edição original). Em segui<strong>da</strong>, ele se dedica a demonstrar<br />

detalha<strong>da</strong>mente a originali<strong>da</strong>de do método histórico de Innis, de modo<br />

a evidenciar e valorizar, segundo me parece, as características de seu pró-<br />

prio método e, desse modo, reclamar uma filiação innisiana.<br />

Em primeiro lugar, McLuhan destaca que, para Innis, o trabalho do<br />

historiador não se reduz à mera descrição dos fatos, pois, além disso,<br />

busca identificar os padrões e as tendências subjacentes, como ele mes-<br />

mo tentou fazer. Nesse sentido, Innis não é tão original quanto pensa<br />

McLuhan. Devemos recor<strong>da</strong>r, com efeito, que os historiadores franceses<br />

Lucien Febvre e Marc Bloc fun<strong>da</strong>ram, em 1929, a revista dos Annales<br />

d’histoire économique et sociale e o marco do que se tornaria a escola dos<br />

Annales, que exaltava a abertura às outras ciências sociais e proclamava<br />

a uni<strong>da</strong>de e a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> história. Após a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial,<br />

os herdeiros dessa escola, como, por exemplo, Fernand Braudel, eviden-<br />

ciaram o estudo do <strong>tem</strong>po longo <strong>da</strong> história, <strong>da</strong>s grandes evoluções, em<br />

detrimento do <strong>tem</strong>po curto, dos eventos. A escola dos Annales teve uma<br />

grande influência, muito além <strong>da</strong>s fronteiras francesas.<br />

Em segundo lugar, Innis, segundo McLuhan, não se limita ao papel<br />

de observador externo que apresenta, em segui<strong>da</strong>, um ponto de vista. Ele<br />

se envolve pessoalmente na explicação dos fenômenos estu<strong>da</strong>dos, parti-<br />

cipando ativamente em um processo complexo de análise multifatorial:<br />

“Innis não apenas se coloca no centro mesmo de ações históricas vela<strong>da</strong>s,<br />

distinguindo as culturas no interior de seus processos em vez de descre-<br />

ver e narrar desde o seu exterior, mas ele sempre é paradoxal, graças ao<br />

fato de oferecer mais de um aspecto de uma situação simultaneamente”<br />

(p. VI). Vemos aqui novamente a tabela mcluhaniana que dicotomiza as<br />

mídias quentes e frias, as mídias informativas e as participativas, sendo<br />

que, para McLuhan, as segun<strong>da</strong>s são mais ricas e superiores às primeiras.<br />

Percebemos igualmente a valorização <strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong>de de aspectos <strong>da</strong><br />

situação analisa<strong>da</strong>, uma referência pouco disfarça<strong>da</strong> <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem em<br />

mosaico de McLuhan.<br />

190 • <strong>Quem</strong> <strong>tem</strong> <strong>medo</strong> de <strong>pesquisa</strong> <strong>empírica</strong>?

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