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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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A abertura que a <strong>pesquisa</strong> qualitativa permite não pode nos levar a<br />

supor que, com ela, deixem de existir as exigências e critérios que de-<br />

vem regular uma <strong>pesquisa</strong>. Embora com características próprias, as pes-<br />

quisas qualitativas, também, obedecem a certos protocolos, tais como: a<br />

delimitação e formulação claras de um problema, sua inserção em um<br />

quadro teórico de referência, a coleta escrupulosa de <strong>da</strong>dos, a observa-<br />

ção, as entrevistas, quando necessárias, a determinação de um método, a<br />

análise dos <strong>da</strong>dos, o teste <strong>da</strong>s hipóteses, a necessi<strong>da</strong>de de generalização<br />

<strong>da</strong>s conclusões etc. Enfim, o recurso ao qualitativo não pode servir para o<br />

<strong>pesquisa</strong>dor se abrigar, confortavelmente, na rejeição aos métodos com a<br />

desculpa de que estes são rígidos e castradores <strong>da</strong> inspiração criativa. Na<br />

<strong>pesquisa</strong>, sem método, inspiração é mito, como o é na própria arte, pois<br />

esta também se submete a métodos que lhe são muito próprios.<br />

Não há um consenso em relação ao sentido que se pode <strong>da</strong>r à pes-<br />

quisa qualitativa. Há um sentido amplo, conforme foi discutido, acima,<br />

e um sentido mais estreito. No sentido estreito, a <strong>pesquisa</strong> qualitativa é<br />

toma<strong>da</strong> apenas como uma parte <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong> quantitativa, aquela relativa<br />

à análise de conteúdo. De acordo com Laville e Dionne (ibid.: 225),<br />

até os anos 1970, a análise do discurso manifesto, colhido através de<br />

documentos, de questionários, entrevistas, etc., realiza<strong>da</strong> pela <strong>pesquisa</strong><br />

quantitativa, privilegiava os cálculos de frequência dos termos e <strong>da</strong>s ex-<br />

pressões utilizados no discurso. Uma vez que essa abor<strong>da</strong>gem não costu-<br />

mava render os frutos esperados, o domínio e as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des do que se<br />

chamava de análise de conteúdo ampliaram-se, absorvendo abor<strong>da</strong>gens<br />

qualitativas, quer dizer, interpretativas, <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de sentido, <strong>da</strong>s rela-<br />

ções entre elas e do que delas emana. Não obstante esse sentido estrito, a<br />

<strong>pesquisa</strong> qualitativa acabou por desenvolver autonomia própria, podendo<br />

se referir a to<strong>da</strong>s as <strong>pesquisa</strong>s que privilegiam a interpretação dos <strong>da</strong>dos,<br />

em lugar de sua mensuração.<br />

Para concluir, dentro de uma perspectiva <strong>da</strong> comunicação, cumpre<br />

lembrar que até os anos 1970, entrando mesmo nos 80, as <strong>pesquisa</strong>s em<br />

comunicação, no Brasil, ficaram dividi<strong>da</strong>s nos campos antagônicos <strong>da</strong><br />

178 • <strong>Quem</strong> <strong>tem</strong> <strong>medo</strong> de <strong>pesquisa</strong> <strong>empírica</strong>?

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