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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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Consequências para a Área de Conhecimento<br />

Que conclusões devemos tirar <strong>da</strong> análise dessas conversões para a<br />

área de conhecimento? Se os procedimentos de redução são intrínsecos<br />

ao trabalho científico, nem por isso devemos aceitar sua naturalização. Ora,<br />

como devemos entender, então, esse hiato que se abre entre o uso legítimo<br />

e delicado de um expediente epis<strong>tem</strong>ológico e, de outra parte, o fato que as<br />

operações de conversão não recebam tratamento a altura de sua importância?<br />

A identificação dos processos comunicacionais a outras instâncias<br />

se reflete na indefinição <strong>da</strong>s <strong>pesquisa</strong>s dos comunicólogos em relação a<br />

outras áreas de conhecimento. Isso <strong>tem</strong> fornecido um ilusório respaldo<br />

metodológico, mesmo ao preço de que o resultado final seja a redução do<br />

comunicacional. Tal concepção <strong>da</strong> área <strong>tem</strong> sido alvo fácil para as críticas<br />

céticas no tocante à autonomia do saber comunicacional (Martino, 2003).<br />

De outra parte, e igualmente muito expressiva, é a posição <strong>da</strong>queles<br />

que leem essa identificação no sentido inverso, como se os processos de<br />

comunicação fossem o fun<strong>da</strong>mento dos processos psicológicos, compor-<br />

tamento etc. Como se todo o universo <strong>da</strong>s ações humanas pudesse ser<br />

reduzido à comunicação.<br />

Para a primeira, a comunicação é efeito de outros níveis, por isso, deve<br />

ser necessariamente reduzi<strong>da</strong>. O processo de comunicação é apenas um<br />

“<strong>da</strong>do empírico”, um fenômeno a ser explicado (explicans), nunca aparece<br />

como explicadum (termo que explica). Na falta dessa perspectiva epis<strong>tem</strong>oló-<br />

gica, os processos comunicacionais passam a ser explicados pela psicologia, pela<br />

sociologia etc. Não seria possível, portanto, constituir uma disciplina científica.<br />

De outra parte, aqueles que tomam a comunicação como fun<strong>da</strong>mento<br />

universal dos fenômenos humanos (por exemplo, Anderson, 1987; Boug-<br />

noux, 1999; Martin Serrano, 1982), adotam uma posição filosófica que<br />

estende o campo <strong>da</strong> comunicação ao conjunto <strong>da</strong>s ciências do homem. Eles<br />

visam marcar um tipo de supremacia: “Se as ciências naturais são to<strong>da</strong>s físicas,<br />

então, as ciências sociais são to<strong>da</strong>s comunicação” (Anderson, 1987, p.48).<br />

144 • <strong>Quem</strong> <strong>tem</strong> <strong>medo</strong> de <strong>pesquisa</strong> <strong>empírica</strong>?

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