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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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disciplina. Tudo se passa como se o trabalho teórico se desse somente<br />

“após” a conversão, (até então o processo é naturalizado). Em outros ter-<br />

mos, o tratamento empírico é garantido graças a abor<strong>da</strong>gens (tratamento<br />

metodológico, recursos teóricos) de outras disciplinas, sem que este pro-<br />

cedimento seja discutido.<br />

Em suma, essa “importação de teoria” – que corresponde à conversão<br />

do processo de comunicação – pode ser justifica<strong>da</strong> ingenuamente por<br />

uma identificação dos processos de comunicação aos processos de outra<br />

natureza ou, de modo mais sofisticado, por sua remissão a outras instân-<br />

cias <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, como realiza<strong>da</strong> pelo positivismo filosófico.<br />

Para muitas <strong>pesquisa</strong>s <strong>da</strong> corrente <strong>da</strong> communication research, a redu-<br />

ção <strong>da</strong> comunicação ao comportamento não seria somente a exigência de<br />

uma base material, mas uma redução no sentido de fun<strong>da</strong>r o processo de<br />

comunicação em algo existente (plano ontológico). Segundo a doutrina<br />

de Auguste Comte, afirmar que os fenômenos de um determinado nível<br />

podem ser reduzidos a um nível mais fun<strong>da</strong>mental equivale a dizer que<br />

este nível é mais real e pode melhor explicar aqueles fenômenos.<br />

O livre trânsito de teorias também poderia ser justificado por uma<br />

posição interdisciplinar, que nega as fronteiras entre as disciplinas. Mas,<br />

tanto num caso quanto no outro, o processo comunicacional é apenas<br />

uma reali<strong>da</strong>de imediata, explica<strong>da</strong> por outra instância <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de (ver<br />

adiante, os processos comunicacionais como explicans).<br />

De outra parte, para a corrente crítica, o deslocamento <strong>da</strong> significação<br />

também recebe uma justificativa ontológica. A redução <strong>da</strong> comunicação<br />

às estruturas do poder e à prática <strong>da</strong> dominação também é a exigência<br />

de um termo último. A explicação seria uma significação “mais profun<strong>da</strong>”.<br />

Os <strong>da</strong>dos empíricos têm um valor menor, visto que sua significação últi-<br />

ma resta diretamente liga<strong>da</strong> a uma questão humana, por isso, ideológica<br />

e política, como a própria interpretação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de física. Tal concepção<br />

ontológica coloca em xeque a própria noção de “empírico”, que aparece<br />

como resultado de uma operação política, relativa às condições do modo<br />

de produção econômica ou às estruturas do poder.<br />

Pesquisa <strong>empírica</strong> e o campo aca<strong>da</strong>mêmico <strong>da</strong> comunicação • 141

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