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Quem tem medo da pesquisa empírica? - Portcom - Intercom

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não é outro o motivo, senão tratar-se de questões “humanas, demasia<strong>da</strong>-<br />

mente humanas” (parodiando-se Nietzsche) .<br />

Nunca é demais lembrar que o termo “empiria” <strong>tem</strong> longo curso no<br />

vocabulário filosófico, enquanto doutrina relativa à natureza do conheci-<br />

mento. No interior do círculo discursivo <strong>da</strong> filosofia, costuma-se restrin-<br />

gir o empirismo à filosofia clássica moderna: de um lado, o empirismo<br />

inglês (Francis Bacon, Thomas Hobbes, J. Berkeley, David Hume); do<br />

outro, o racionalismo continental com Malebranche, Spinoza, Descartes,<br />

Leibniz e Wolff. Guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s as devi<strong>da</strong>s diferenças, o que há de comum, no<br />

pensamento empirista, é o empenho de explicar o conhecimento como<br />

um fenômeno a posteriori, ou seja, como algo decorrente <strong>da</strong>s sensações ou<br />

<strong>da</strong>s impressões obti<strong>da</strong>s pelo sujeito em sua experiência de mundo.<br />

Antes de se in<strong>da</strong>gar sobre os caminhos do empirismo na Comunica-<br />

ção, vale à pena recor<strong>da</strong>r as duas metáforas propostas por Karl Popper 8<br />

para a <strong>pesquisa</strong> nas ciências sociais. A primeira é a “metáfora do balde”,<br />

que dá conta <strong>da</strong> perspectiva empirista. Por ela, o conhecimento procede<br />

<strong>da</strong> observação passiva. A mente seria como um balde a ser cheio pelos<br />

canais dos órgãos dos sentidos. Ao invés de conceitos gerais (como no<br />

racionalismo), os <strong>da</strong>dos concretos <strong>da</strong> experiência.<br />

A segun<strong>da</strong> é a “metáfora do holofote”, proposta e adota<strong>da</strong> por Popper.<br />

Para ele, a observação não é o começo <strong>da</strong> construção do conhecimento,<br />

pois é precedi<strong>da</strong> por problemas, interesses, etc. que guiam o que se tenta<br />

ver. Assim como um holofote coloca algo em foco e deixa na penumbra<br />

o restante, as expectativas <strong>da</strong>quele que busca conhecer guiam o processo<br />

de observação. O que vemos depende de quem somos e procuramos, e<br />

o objeto observado é, assim, construído por nós, sendo a observação um<br />

procedimento ativo e seletivo <strong>da</strong>quele que observa. O conhecimento e<br />

a ciência não começariam, assim, por um processo indutivo, observando<br />

coleções de fatos, e sim por problemas, pela tensão entre conhecimento e<br />

8. Cf A Lógica <strong>da</strong>s Ciências Sociais, Tempo Brasileiro, 1978<br />

Pesquisa <strong>empírica</strong> e o campo aca<strong>da</strong>mêmico <strong>da</strong> comunicação • 111

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