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Lasar Segall e as vanguardas judaicas na Europa e no ... - Unicamp

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principalmente a retratar a paisagem br<strong>as</strong>ileira e sua<br />

população. Nesse período, realiza obr<strong>as</strong> como Ba<strong>na</strong><strong>na</strong>l,<br />

Perfil de Zulmira e a série Mangue. O tema dos “Emigrantes”<br />

será também abordado numa série de gravur<strong>as</strong>,<br />

em grande parte realizada a partir de fotografi<strong>as</strong><br />

e esboços colhidos durante sua travessia do Atlântico.<br />

Naquele momento o tema ainda não havia adquirido o<br />

significado de protesto contra a política <strong>na</strong>zista, como<br />

em Navio de emigrantes (1939/41) [Fig. 14].<br />

Podemos dizer que a temática judaica retoma<br />

sua centralidade <strong>na</strong> obra de <strong>L<strong>as</strong>ar</strong> <strong>Segall</strong> após a <strong>as</strong>censão<br />

do <strong>na</strong>zismo <strong>na</strong> Alemanha e durante o Holocausto;<br />

mais especificamente a partir de 1937, quando<br />

<strong>as</strong> <strong>no</strong>tíci<strong>as</strong> sobre a perseguição em m<strong>as</strong>sa de judeus<br />

<strong>na</strong> Alemanha e <strong>na</strong> <strong>Europa</strong> do leste começam a difundir-se.<br />

Obr<strong>as</strong> como Pogrom (1937), o álbum Visões de<br />

guerra (1940/43), Navio de emigrantes (1939/41) e Campo<br />

de concentração fazem parte desta constelação. Se em seu<br />

período alemão, <strong>Segall</strong> engajara-se <strong>no</strong> debate sobre <strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> de construção de uma “identidade judaica”,<br />

agora a questão que aflorava era aquela da possibilidade<br />

real de extinção desse povo e de sua cultura. Em<br />

1937 <strong>Segall</strong> teve vári<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> incluíd<strong>as</strong> <strong>na</strong> exposição de<br />

“Arte degenerada”, organizada pelo Terceiro Reich, e<br />

muitos de seus amigos europeus tiveram de optar pelo<br />

exílio. As obr<strong>as</strong> monumentais que <strong>Segall</strong> pintaria n<strong>as</strong><br />

décad<strong>as</strong> de 30 e 40 visavam, antes de tudo, denunciar<br />

a perseguição e a tentativa de aniquilamento do povo<br />

judeu imposta pela política de ge<strong>no</strong>cídio <strong>na</strong>zista. Nesse<br />

processo, <strong>Segall</strong> criaria não só a partir d<strong>as</strong> informações<br />

que recebia por jor<strong>na</strong>is, revist<strong>as</strong> e cart<strong>as</strong> de amigos<br />

ainda <strong>na</strong> <strong>Europa</strong>, m<strong>as</strong> também (e talvez sobretudo) a<br />

partir de sua própria memória. Portanto, como indica<br />

Maria Luiza Tucci Carneiro, podemos ver uma certa<br />

afinidade dess<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> com a produção anterior, ainda<br />

que os tem<strong>as</strong> retornem profundamente re-significados<br />

e re-contextualizados em função dos acontecimentos<br />

políticos da época. Comenta a autora:<br />

Poderíamos dizer que tem<strong>as</strong> anteriores foram retomados<br />

e reinterpretados sob uma <strong>no</strong>va dimensão<br />

mais introspectiva e humanista. O emigrante retratado<br />

<strong>na</strong> década anterior <strong>as</strong>sume ares de refugiado<br />

cujo drama social se faz, desta vez, limitado pelo<br />

espectro <strong>na</strong>zista que ronda (quando não domi<strong>na</strong>) <strong>as</strong><br />

terr<strong>as</strong> do Velho Mundo ... Ainda que não tenha testemunhado<br />

“ao vivo” muitos dos tem<strong>as</strong> retratados<br />

Claudia Valladão de Mattos<br />

90 RHAA 7<br />

entre 1936-1947, <strong>Segall</strong> conseguiu “reconstruir” ...<br />

os atos de injustiça social, o sofrimento dos eter<strong>no</strong>s<br />

caminhantes e <strong>as</strong> atrocidades da guerra. 21<br />

Diante da tarefa premente de engajamento social,<br />

vemos <strong>Segall</strong> af<strong>as</strong>tar-se d<strong>as</strong> <strong>no</strong>ções de “vanguarda” que<br />

haviam <strong>no</strong>rteado sua obra <strong>no</strong> período europeu e <strong>no</strong>s<br />

primeiros a<strong>no</strong>s de Br<strong>as</strong>il. O projeto d<strong>as</strong> “vanguard<strong>as</strong>”<br />

– inclusive da “vanguarda judaica” – fundamentado <strong>na</strong><br />

idéia de construção de uma <strong>no</strong>va linguagem artística<br />

cedeu lugar à necessidade de resistência e denúncia.<br />

Toda sua arte foi colocada a serviço da comoção do<br />

outro, como forma de estabelecer uma rede de solidariedade<br />

fundamentada, como diz Tucci Carneiro, <strong>na</strong><br />

idéia de “Fraternidade”. 22 É nesse sentido que devemos<br />

interpretar, por exemplo, a desaprovação de <strong>Segall</strong> à<br />

posição de Kandinsky, que em 1937 lhe escreveria <strong>as</strong><br />

seguintes palavr<strong>as</strong> sobre sua atitude pessoal:<br />

... eu fecho a porta do meu ateliê e o “mundo” desaparece.<br />

Muito mais importante do que a Checoslováquia,<br />

é para mim a questão de saber se este azul<br />

está bem colocado com aquele marrom, se a extensão<br />

e a direção da linha combi<strong>na</strong>m totalmente, se os<br />

pesos foram colocados de maneira feliz, etc. 23<br />

Em tom irônico, <strong>Segall</strong> responderia ao amigo<br />

dos tempos de Paris:<br />

O Sr., caro Kandinsky, é o mais feliz, o Sr. tem força<br />

para se fechar ao mundo, seu ateliê, dedicar-se com<br />

tranqüilidade ao trabalho, considerando os problem<strong>as</strong><br />

da arte mais importantes do que os fatos do<br />

mundo de hoje, com os quais nós todos, querendo<br />

ou não, estamos estreitamente ligados e dos quais<br />

somos infelizmente, como pesso<strong>as</strong> e como artist<strong>as</strong>,<br />

completamente dependentes. 24<br />

Confrontado com os eventos de seu tempo,<br />

<strong>Segall</strong> conclui que questões de “arte”, <strong>as</strong>sim como a<br />

própria idéia de “vanguarda”, deveriam ser suspens<strong>as</strong><br />

e toda a experiência plástica do artista colocada a serviço<br />

da denúncia da violência gratuita contra o povo<br />

judeu. Essa denúncia, <strong>no</strong> entanto, por fundamentar-se<br />

<strong>na</strong> idéia de solidariedade e fraternidade, tor<strong>na</strong>va-se uma<br />

conde<strong>na</strong>ção do preconceito e da violência sob qualquer<br />

circunstância, ultrap<strong>as</strong>sando os limites impostos pelo

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