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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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pertence, e, por isso mesmo, tornan<strong>do</strong>-o propriedade dele. Retiran<strong>do</strong>-o <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> comum <strong>em</strong> que a natureza o colocou, anexou-lhe por esse trabalho<br />

algo que o exclui <strong>do</strong> direito comum de outros homens.” (Segun<strong>do</strong> Trata<strong>do</strong><br />

sobre o Governo, p. 45; os grifos são nossos).<br />

Não t<strong>em</strong>os aqui, neste parágrafo, nenhuma distinção essencial entre trabalho e<br />

obra. Aliás, a seção 44, um pouco mais adiante, explicita melhor o que Locke entendia<br />

por apropriação: “De tu<strong>do</strong> isso, é evidente que, <strong>em</strong>bora a natureza tu<strong>do</strong> nos ofereça <strong>em</strong><br />

comum, o hom<strong>em</strong>, sen<strong>do</strong> senhor de si próprio e proprietário de sua pessoa e das ações<br />

ou <strong>do</strong> trabalho que executa [the actions or labour of it], teria ainda <strong>em</strong> si mesmo a base<br />

da propriedade (...)” (Segun<strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> sobre o Governo, p. 51; os grifos são nossos).<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, o final da seção 35 diz o seguinte: “(...) a condição da vida humana,<br />

que exige trabalho e material com que trabalhar, necessariamente introduziu a<br />

propriedade privada” (Segun<strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> sobre o Governo, p. 48).<br />

<strong>Arendt</strong>, referin<strong>do</strong>-se a Locke, na página 96, reconhece que “o trabalho <strong>do</strong> nosso<br />

corpo e a obra de nossas mãos” se confund<strong>em</strong> porque ambos são “meios” de “apropriar”<br />

aquilo que pertence <strong>em</strong> comum a to<strong>do</strong>s os homens, apesar de ter ainda dito algumas<br />

páginas antes que <strong>em</strong>bora Locke tivesse da<strong>do</strong> pouca atenção à sua distinção entre “o<br />

trabalho <strong>do</strong> nosso corpo e a obra de nossas mãos”, ele foi força<strong>do</strong>, no entanto, a<br />

reconhecer a distinção entre coisas de “curta duração” e aquelas suficient<strong>em</strong>ente<br />

“dura<strong>do</strong>uras” “para que os homens pudess<strong>em</strong> guardá-las s<strong>em</strong> que se estragass<strong>em</strong>” (HC,<br />

p. 90). Ora, justamente nas duas seções que correspond<strong>em</strong> a este comentário de <strong>Arendt</strong>,<br />

as seções 46 e 47 <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> sobre o Governo, Locke não estabelece uma<br />

distinção entre obra e trabalho, mas introduz, isto sim, uma distinção, por um la<strong>do</strong>,<br />

entre coisas que são realmente úteis à vida humana, coisas, <strong>em</strong> geral, “de curta<br />

duração”, o hom<strong>em</strong> adquirin<strong>do</strong> a propriedade sobre elas pelo seu trabalho e, por outro<br />

la<strong>do</strong>, o ouro e a prata, “objetos dura<strong>do</strong>uros”, “de pouca utilidade para a vida humana<br />

(...), ten<strong>do</strong> valor somente pelo consenso <strong>do</strong>s homens”, que os homens pod<strong>em</strong> guardar,<br />

que não se deterioram n<strong>em</strong> se estragam e que, por consentimento mútuo, receb<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

troca de “sustentáculos da vida, verdadeiramente úteis mas perecíveis”. 8 <strong>Arendt</strong> diz<br />

ainda, na página 89, que Locke foi obriga<strong>do</strong> a introduzir o dinheiro para poder explicar<br />

8. “E assim originou-se o uso <strong>do</strong> dinheiro - algo de dura<strong>do</strong>uro que os homens pudess<strong>em</strong> guardar s<strong>em</strong><br />

estragar-se, e que por consentimento mútuo recebess<strong>em</strong> <strong>em</strong> troca de sustentáculos da vida,<br />

verdadeiramente úteis mas perecíveis” (J. Locke, Segun<strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> sobre o Governo, seção 47, p. 53).<br />

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