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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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É essa a crítica de <strong>Arendt</strong> à sociedade moderna e cont<strong>em</strong>porânea: “Os ideais <strong>do</strong><br />

homo faber, fabricante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, que são a permanência, a estabilidade e a<br />

durabilidade, foram sacrifica<strong>do</strong>s <strong>em</strong> beneficio da abundância, que é o ideal <strong>do</strong> animal<br />

laborans” (HC, p. 110). Esta sociedade ter-se-ia torna<strong>do</strong> uma sociedade de<br />

consumi<strong>do</strong>res, o que significaria para ela que “viv<strong>em</strong>os numa sociedade de<br />

trabalha<strong>do</strong>res”. Todas as atividades foram reduzidas “ao denomina<strong>do</strong>r comum de<br />

assegurar as coisas necessárias à vida e de produzi-las <strong>em</strong> abundância” (HC, p. 110).<br />

7 - Uma sociedade de consumi<strong>do</strong>res [A Consumer’s Society]<br />

A última divisão deste capítulo insiste nesta crítica ao privilégio que teria si<strong>do</strong><br />

da<strong>do</strong> ao trabalho, na era moderna. A <strong>em</strong>ancipação <strong>do</strong> trabalho não apenas não<br />

conseguiu, escreve <strong>Arendt</strong>, “instaurar uma era de liberdade para to<strong>do</strong>s”, mas, ao<br />

contrário, acabou “por submeter à necessidade, pela primeira vez, toda a humanidade”<br />

(HC, p. 113; os grifos são nossos).<br />

Numa sociedade de consumi<strong>do</strong>res, ou de trabalha<strong>do</strong>res, “quanto mais fácil se<br />

tornar a vida (...), mais difícil será ainda ter consciência das exigências da necessidade<br />

que a impele, mesmo quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>r e o esforço (...) são quase imperceptíveis” (HC, p.<br />

116). Haveria então um perigo: “O perigo é que tal sociedade, deslumbrada ante a<br />

abundância de sua crescente fertilidade e presa ao suave funcionamento de um processo<br />

s<strong>em</strong> fim, já não seria capaz de reconhecer a sua própria futilidade: a futilidade de uma<br />

vida que [<strong>Arendt</strong> termina este capítulo com a citação de uma das definições de trabalho<br />

improdutivo, <strong>em</strong> Smith] “não se fixa n<strong>em</strong> se realiza <strong>em</strong> nenhum objeto permanente (...)<br />

que perdure após encerra<strong>do</strong> o serviço” [A. Smith, A Riqueza das Nações, p. 286]” (HC,<br />

pp. 116-117), isto é, a futilidade de uma vida que se limita ao trabalho improdutivo<br />

segun<strong>do</strong> uma das definições de Smith.<br />

Para <strong>Arendt</strong>, o que caracteriza a era moderna é a perda da propriedade, isto é, a<br />

perda da “posse privada de uma parcela de um mun<strong>do</strong> comum”, propriedade privada<br />

que seria, para ela, “a mais el<strong>em</strong>entar condição política para o pertencer-ao-mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

hom<strong>em</strong> [for man’s worldliness] (HC, p. 230; os grifos são nossos). Mas a alienação <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> (“produzida no duplo processo de expropriação e de acumulação de riqueza”),<br />

que caracteriza a era moderna, não é a única que interessa a <strong>Arendt</strong>, sua importância<br />

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