A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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caracterizaria, segun<strong>do</strong> ele, a divisão social <strong>do</strong> trabalho, na sociedade capitalista de sua<br />
época, é que o trabalho perdera to<strong>do</strong> o seu caráter de especialidade. A divisão social <strong>do</strong><br />
trabalho, resulta<strong>do</strong> da acumulação <strong>do</strong> capital, escreve Marx, “destruiu a especialidade<br />
<strong>do</strong> trabalho, destruiu a especialidade <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, e ao colocar <strong>em</strong> seu lugar um<br />
trabalho que to<strong>do</strong>s pod<strong>em</strong> fazer, aumentou a concorrência entre os operários”. 67<br />
A divisão manufatureira <strong>do</strong> trabalho, que, segun<strong>do</strong> Marx, caracteriza a sociedade<br />
moderna, “pressupõe a autoridade incondicional <strong>do</strong> capitalista sobre seres humanos<br />
transforma<strong>do</strong>s <strong>em</strong> simples m<strong>em</strong>bros de um mecanismo global que a ele pertence”;<br />
quanto à divisão social <strong>do</strong> trabalho, ela confronta, escreve Marx, “produtores<br />
independentes de merca<strong>do</strong>rias, que não reconhec<strong>em</strong> nenhuma outra autoridade senão a<br />
da concorrência, a coerção exercida sobre eles pela pressão de seus interesses<br />
recíprocos, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que no reino animal o bellum omnium contra omnes<br />
preserva mais ou menos as condições de existência de todas as espécies”. A mesma<br />
consciência burguesa, observa de forma critica Marx, “que festeja a divisão<br />
manufatureira <strong>do</strong> trabalho, a anexação <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r por toda a vida a uma operação<br />
parcial e a subordinação incondicional <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res parciais ao capital como uma<br />
organização [o grifo é nosso] <strong>do</strong> trabalho que aumenta a força produtiva, denuncia com<br />
igual alari<strong>do</strong> qualquer controle e regulação social consciente [os grifos são nossos] <strong>do</strong><br />
processo social de produção como uma infração <strong>do</strong>s invioláveis direitos de<br />
propriedade, da liberdade e da “genialidade” autodeterminante <strong>do</strong> capitalista<br />
individual [os grifos são nossos]. É muito característico que os mais entusiásticos<br />
apologistas <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a fabril não saibam dizer nada pior contra toda organização geral<br />
<strong>do</strong> trabalho social além de que ela transformaria toda a sociedade numa fábrica”. 68<br />
A revolução industrial, escreve <strong>Arendt</strong>, “substituiu to<strong>do</strong> obra artesanal<br />
[craftmanship] pelo trabalho, e o resulta<strong>do</strong> foi que os objetos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno se<br />
tornaram produtos <strong>do</strong> trabalho, cujo destino natural é ser<strong>em</strong> consumi<strong>do</strong>s, ao invés de<br />
produtos da obra, que se destinam a ser usa<strong>do</strong>s” (HC, p. 108). A perpetuidade da<br />
produção só pode então ser garantida “se os seus produtos perder<strong>em</strong> o caráter de objetos<br />
de uso e se tornar<strong>em</strong> cada vez mais objetos de consumo” (HC, p. 109).<br />
67. K. Marx, Discours sur le libre échange [1848], in K. Marx, Oeuvres Economie I, p. 149.<br />
68. Cf. K. Marx, O Capital, Livro Primeiro, vol. I, p. 280.<br />
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