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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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<strong>do</strong>méstica” (HC, pp. 105-106; os grifos são nossos). <strong>Arendt</strong> cita aqui Aristóteles<br />

(Política, 1253 b 30-1254 a 18) para justificar o que acaba de afirmar: ele também<br />

imaginou certa vez, diz ela, que “cada instrumento seria capaz de executar o seu<br />

trabalho quan<strong>do</strong> se lho ordenasse” e isso significaria que o “artesão já não dependeria de<br />

assistentes humanos”, mas não significaria que os “escravos <strong>do</strong>mésticos pudess<strong>em</strong> ser<br />

dispensa<strong>do</strong>s”. Os escravos “não eram instrumentos da fabricação ou da produção”, mas<br />

sim “instrumentos da vida que constant<strong>em</strong>ente consome os seus serviços” (HC, p. 106).<br />

Trata-se, s<strong>em</strong> dúvida, de uma leitura muito pessoal <strong>do</strong>s parágrafos 1253 b 30-1254 a 18 da<br />

Política de Aristóteles. O que Aristóteles afirma é o seguinte: “Com efeito, se cada<br />

instrumento pudesse a uma ord<strong>em</strong> dada ou apenas prevista, executar sua tarefa (...), se<br />

os plectros tirass<strong>em</strong> espontaneamente sons da cítara, então os mestres <strong>do</strong>s artesãos não<br />

teriam necessidade de trabalha<strong>do</strong>res n<strong>em</strong> os senhores de escravos” [os grifos são<br />

nossos].<br />

No que diz respeito à própria atividade <strong>do</strong> trabalho, essas ferramentas e esses<br />

instrumentos descobertos pelo homo faber seriam, para <strong>Arendt</strong>, “de importância<br />

secundária”. Mas eles seriam muito importantes, diz ela, para o “outro grande princípio<br />

<strong>do</strong> processo de trabalho humano” (HC, p. 106; os grifos são nossos). Chegamos assim,<br />

finalmente, à divisão de trabalho. A divisão <strong>do</strong> trabalho, esse outro grande princípio <strong>do</strong><br />

processo de trabalho humano, afirma <strong>Arendt</strong>, é resulta<strong>do</strong> direto <strong>do</strong> processo de trabalho,<br />

isto é, <strong>do</strong> metabolismo <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> com a natureza, processo este que define segun<strong>do</strong> ela<br />

o trabalho, e que não se confunde com a especialização “que prevalece nos processos de<br />

fabricação” (HC, p. 106). O que a especialização da obra e a divisão <strong>do</strong> trabalho têm <strong>em</strong><br />

comum -esta seria a única característica comum destas duas atividades que são no fun<strong>do</strong><br />

bastante diferentes- é o “princípio geral da organização”, princípio este que, não estan<strong>do</strong><br />

vincula<strong>do</strong> ao trabalho n<strong>em</strong> à obra, “deve sua orig<strong>em</strong> à esfera estritamente política da<br />

vida” [esfera pública na qual “os homens não apenas viv<strong>em</strong> mas ag<strong>em</strong> juntos”], (HC,<br />

pp. 106-107; os grifos são nossos). Seria, portanto, este princípio da organização que<br />

permite explicar o surgimento da divisão <strong>do</strong> trabalho, assim como o surgimento da<br />

especialização da obra: “Somente dentro da estrutura da organização política (...) pod<strong>em</strong><br />

ocorrer a especialização da obra e a divisão <strong>do</strong> trabalho” (HC, p. 107).<br />

Para Marx, os materiais <strong>do</strong>s economistas (as relações de produção, a divisão <strong>do</strong><br />

trabalho) “são a vida ativa e atuante <strong>do</strong>s homens” (Miséria da Filosofia, p. 102). O que<br />

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