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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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Na era moderna, o <strong>do</strong>mínio social e o <strong>do</strong>mínio político reca<strong>em</strong> um sobre o outro,<br />

não se distingu<strong>em</strong>, e acabam por identificar-se. De acor<strong>do</strong> com <strong>Arendt</strong>, esta promoção<br />

<strong>do</strong> social “coincidiu historicamente com a transformação <strong>em</strong> preocupação pública <strong>do</strong><br />

que era anteriormente uma preocupação individual com a propriedade privada”. Logo<br />

que entrou no <strong>do</strong>mínio público, diz ela, a sociedade “assumiu o disfarce de uma<br />

organização de proprietários [property-owners] que, ao invés de solicitar<strong>em</strong> acesso à<br />

esfera pública <strong>em</strong> virtude de sua riqueza, exigiram dela proteção para a acumulação de<br />

mais riqueza” (HC, p. 60). Na Antigüidade, a política não era apenas um meio de<br />

proteger a sociedade. O <strong>do</strong>mínio da polis, afirma <strong>Arendt</strong>, era a esfera da liberdade, e a<br />

vitória sobre as necessidades da vida (<strong>do</strong>mínio priva<strong>do</strong> da família) era a condição para a<br />

liberdade da polis. A necessidade era assim, para os gregos, segun<strong>do</strong> ela, um “fenômeno<br />

pré-político, característico da organização da família”, e era nessa esfera que a força e a<br />

violência eram justificadas por ser<strong>em</strong> os “únicos meios de vencer a necessidade” (HC,<br />

p. 29). A liberdade não existia dentro da esfera da família, esfera que era o centro da<br />

desigualdade: o chefe da família só poderia ser considera<strong>do</strong> livre (cidadão) na medida<br />

<strong>em</strong> que ingressava no <strong>do</strong>mínio político, onde to<strong>do</strong>s eram iguais. Essa igualdade, na<br />

esfera pública, significava viver entre pares e pressupunha a existência de “desiguais”<br />

que eram s<strong>em</strong>pre de fato, reconhece <strong>Arendt</strong>, a “maioria da população numa polis” (HC,<br />

p. 31). A própria vida é ameaçada quan<strong>do</strong> a necessidade é totalmente eliminada: “a<br />

eliminação da necessidade”, escreve <strong>Arendt</strong>, “longe de resultar automaticamente na<br />

instauração da liberdade, apenas obscurece a linha que distingue a liberdade da<br />

necessidade” (HC, pp. 62-63). Na era moderna, a sociedade constitui a organização<br />

pública <strong>do</strong> próprio processo vital: “A sociedade é a forma na qual o fato da dependência<br />

mútua <strong>em</strong> função da vida, e de nada mais, assume importância pública, e onde foi<br />

permiti<strong>do</strong> a atividades que diz<strong>em</strong> respeito à mera sobrevivência aparecer <strong>em</strong> público”<br />

(HC, p. 43). O processo vital estabelece o seu <strong>do</strong>mínio público na esfera <strong>do</strong> social e<br />

desencadeia, para <strong>Arendt</strong>, um crescimento artificial <strong>do</strong> natural. É justamente contra esse<br />

crescimento, e não simplesmente contra a sociedade, diz ela, que o priva<strong>do</strong> (o íntimo,<br />

para os modernos) e o político (no senti<strong>do</strong> restrito desse termo) “mostraram-se<br />

incapazes de se defender” (HC, p. 44). A esfera pública tornou-se função da esfera<br />

privada e a esfera privada tornou-se uma preocupação comum (social).<br />

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