A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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da humanidade a manter-se na treva da <strong>do</strong>r e da necessidade. (...) essa treva é natural,<br />
inerente à condição humana” (HC, 103; os grifos são nossos). Apenas é artificial, diz<br />
ela, o “ato de violência ao qual recorre um grupo de homens para tentar libertar-se <strong>do</strong>s<br />
grilhões que nos prend<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s à <strong>do</strong>r e à necessidade” (HC, p. 103). Para <strong>Arendt</strong>, a total<br />
eliminação da <strong>do</strong>r e <strong>do</strong> esforço <strong>do</strong> trabalho “não só despojaria a vida biológica de seus<br />
prazeres mais naturais, mas privaria a vida especificamente humana de seu próprio<br />
vigor e vitalidade” (HC, p. 103; os grifos são nossos). Esta vitalidade e este vigor “só<br />
pod<strong>em</strong> ser conserva<strong>do</strong>s na medida <strong>em</strong> que os homens se disponham a arcar com o ônus,<br />
a labuta e o infortúnio da vida” (HC, p. 104; os grifos são nossos). Os homens? To<strong>do</strong>s<br />
os homens deveriam aceitar essa condição ou apenas uma parte da humanidade estaria<br />
disposta a arcar com este ônus, ou seria forçada a fazê-lo, de mo<strong>do</strong> a permitir à outra<br />
parte uma vida especificamente humana?<br />
Uma vez que foi o homo faber que forneceu ao animal laborans as ferramentas e<br />
os instrumentos de trabalho, estes produtos, escreve <strong>Arendt</strong>, “não são, eles mesmos,<br />
produtos <strong>do</strong> trabalho” –Marx estaria portanto equivoca<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> disse que eles eram<br />
produtos <strong>do</strong> trabalho humano– “mas produtos da obra [obra ou atividade da fabricação<br />
que não está inserida num mo<strong>do</strong> de produção determina<strong>do</strong>, mas que deve ser entendida<br />
no senti<strong>do</strong> de sua característica básica, de um ponto de vista t<strong>em</strong>poral, como o sugere<br />
Ricoeur <strong>em</strong> seu prefácio a este livro: a sua capacidade de durar, de permanecer no<br />
mun<strong>do</strong>]; não pertenc<strong>em</strong> ao processo de consumo: são parte integrante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> de<br />
objetos de uso” (HC, p. 105; os grifos são nossos). Assim, explicita aqui <strong>Arendt</strong>, “o<br />
nascimento <strong>do</strong> homo faber e o surgimento de um mun<strong>do</strong> de coisas, feito pelo hom<strong>em</strong>,<br />
são, na verdade, cont<strong>em</strong>porâneos da descoberta [o grifo é nosso] de instrumentos e<br />
ferramentas”. Tratar-se-ia, portanto, de uma descoberta e não de um produto <strong>do</strong> trabalho<br />
humano. A própria qualidade das coisas fabricadas, “desde o mais simples objeto de<br />
uso até a obra-prima de arte”, escreve <strong>Arendt</strong>, “depende essencialmente da existência de<br />
instrumentos adequa<strong>do</strong>s” (HC, p. 105). Como surgiram esses instrumentos e que tipo de<br />
descoberta foi essa, <strong>Arendt</strong> não o explica.<br />
Haveria limitações desses instrumentos e dessas ferramentas, limitações<br />
fundamentais “quan<strong>do</strong> se trata de facilitar o trabalho da vida” (final da página 105).<br />
Assim, diz <strong>Arendt</strong>, “uma centena de aparelhos na cozinha ou uma meia dúzia de robôs<br />
no subsolo [in the cellar] nunca pod<strong>em</strong> substituir os serviços de uma <strong>em</strong>pregada<br />
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