A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
liberdade. Essa liberdade consistiria <strong>em</strong> “hobbies”, <strong>em</strong> atividades “fora-<strong>do</strong>-mun<strong>do</strong>”?<br />
Pod<strong>em</strong>os pelo menos duvidar dessa interpretação.<br />
6 - Os instrumentos da obra e a divisão <strong>do</strong> trabalho [The Instruments of Work and<br />
the Division of <strong>Labor</strong>]<br />
Os produtos <strong>do</strong> trabalho, produtos <strong>do</strong> metabolismo <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> com a natureza -é<br />
assim que <strong>Arendt</strong> concebe esses produtos- “não duram no mun<strong>do</strong> o t<strong>em</strong>po suficiente<br />
para se tornar<strong>em</strong> parte dele”, e a própria atividade <strong>do</strong> trabalho, diz ela, “concentrada<br />
exclusivamente na vida e <strong>em</strong> sua manutenção é bastante indiferente ao mun<strong>do</strong> e está<br />
situada fora <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> [is oblivious of the world to the point of wordlessness]” (HC, p.<br />
102). Não se trata mais aqui da era moderna, mas da apresentação da própria concepção<br />
arendtiana da atividade <strong>do</strong> trabalho.<br />
Ela pode então dizer que “uma sociedade de massas” -e esta autora especifica:<br />
“uma sociedade de trabalha<strong>do</strong>res”- “tal como Marx a imaginava quan<strong>do</strong> falava da<br />
“humanidade socializada” consiste <strong>em</strong> “espécimens fora-<strong>do</strong>-mun<strong>do</strong> da espécie Hom<strong>em</strong><br />
[wordless specimens of the species man-kind]” (HC, p. 102). Seria esta sociedade de<br />
trabalha<strong>do</strong>res, esta “humanidade socializada”, equivalente à sociedade de massas tal<br />
como <strong>Arendt</strong> a concebe?<br />
O animal laborans não foge <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, escreve <strong>Arendt</strong>, “mas dele é expeli<strong>do</strong> na<br />
medida <strong>em</strong> que está encarcera<strong>do</strong> na privacidade de seu próprio corpo, preso à satisfação<br />
de necessidades das quais ninguém pode compartilhar e que ninguém pode comunicar<br />
inteiramente” (HC, p. 102).<br />
O ônus da vida biológica, que pesa sobre a existência especificamente humana<br />
entre o nascimento e a morte, só pode ser elimina<strong>do</strong>, diz aqui <strong>Arendt</strong>, “mediante o uso<br />
de servos” (HC, p. 103; os grifos são nossos). Era o que ela já nos tinha dito na página<br />
30: “Uma vez que to<strong>do</strong>s os seres humanos são sujeitos à necessidade, têm o direito de<br />
<strong>em</strong>pregar a violência contra os outros; a violência é o ato pré-político de libertar-se da<br />
necessidade da vida para ter acesso à liberdade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” (os grifos são nossos). Marx<br />
estaria, portanto, equivoca<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> critica o trabalho aliena<strong>do</strong>, o trabalho assalaria<strong>do</strong>.<br />
O preço para suavizar os ombros de to<strong>do</strong>s os cidadãos <strong>do</strong> ônus da vida era enorme,<br />
escreve <strong>Arendt</strong>, “e de mo<strong>do</strong> algum consistia apenas na injusta violência de forçar parte<br />
48