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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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vida da sociedade como um to<strong>do</strong>, ao invés das vidas limitadas <strong>do</strong>s indivíduos, é<br />

considerada como o sujeito gigantesco <strong>do</strong> processo de acumulação” (HC, p. 100).<br />

Poderíamos mencionar aqui a crítica de Marx ao comunismo grosseiro, uma<br />

crítica que se encontra nos seus Manuscritos de 1844: “A primeira superação positiva<br />

da propriedade privada, o comunismo grosseiro, não é portanto nada mais <strong>do</strong> que uma<br />

forma fenomênica da infância da propriedade privada que se quer instaurar como<br />

coletividade positiva”. 66<br />

Teria si<strong>do</strong> o interesse pelo crescimento da riqueza e o processo de acumulação<br />

como tal que levou Marx a definir o hom<strong>em</strong>, nos seus Manuscritos de 1844, como um<br />

“ser genérico”? Ou, ao contrário, teria si<strong>do</strong> sua própria concepção <strong>do</strong> trabalho nestes<br />

Manuscritos, <strong>do</strong> trabalho como atividade livre, que permite compreender essa<br />

concepção <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> como ser genérico e compreender, ao mesmo t<strong>em</strong>po, sua crítica,<br />

nestes Manuscritos, ao trabalho aliena<strong>do</strong>, trabalho que faz da essência <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> um<br />

meio para a sua existência (para a sua sobrevivência)?<br />

N<strong>em</strong> a abundância de bens, n<strong>em</strong> a redução <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po gasto no trabalho, insiste<br />

aqui <strong>Arendt</strong>, “resultarão no estabelecimento de um mun<strong>do</strong> comum e o animal laborans<br />

expropria<strong>do</strong> não se torna menos priva<strong>do</strong> pelo fato de já não possuir um lugar priva<strong>do</strong><br />

onde possa esconder-se e proteger-se <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio comum” (HC, p.101). Neste ponto<br />

ficam b<strong>em</strong> claras as intenções, até agora implícitas, <strong>do</strong> pensamento político de <strong>Arendt</strong>: a<br />

abolição da propriedade privada e/ou <strong>do</strong>s instrumentos de produção não garante e até<br />

mesmo impede a criação de uma esfera pública.<br />

No final desta divisão, <strong>Arendt</strong> afirma que Marx estaria igualmente certo, “isto é,<br />

coerente com a sua concepção <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> como um animal laborans [Marx nunca<br />

defendeu esta concepção] quan<strong>do</strong> previu que os “homens socializa<strong>do</strong>s”, libertos <strong>do</strong><br />

trabalho, gozariam essa liberdade <strong>em</strong> atividades estritamente privadas e essencialmente<br />

fora-<strong>do</strong>-mun<strong>do</strong> [wordless] que hoje chamamos de ‘hobbies’” (HC, p. 101). Ora, o que<br />

Marx realmente diz, nesse fragmento <strong>do</strong> final <strong>do</strong> Livro Terceiro de O Capital, é que o<br />

hom<strong>em</strong> socializa<strong>do</strong>, e não mais o hom<strong>em</strong> aliena<strong>do</strong>, efetuaria então conscient<strong>em</strong>ente o<br />

trabalho, o trabalho dita<strong>do</strong> pela necessidade e pelos fins externos, e que seria fora da<br />

esfera de produção material propriamente dita que começaria o verdadeiro reino da<br />

66. K. Marx, Manuscrits Parisiens [1844], in K. Marx, Oeuvres - Economie II, pp. 69-70; tradução de<br />

José Carlos Bruni, in Karl Marx, Coleção Os Pensa<strong>do</strong>res, p. 8.<br />

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