A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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simultaneamente mística e alegórica e concede ao Sr. Proudhon o pleno<br />
direito de afirmar: “D<strong>em</strong>onstrei com a teoria e com os fatos, o princípio de<br />
que to<strong>do</strong> trabalho deve deixar um excedente”. (...) O que é, no final das<br />
contas, este Prometeu ressuscita<strong>do</strong> pelo Sr. Proudhon? É a sociedade, são as<br />
relações sociais fundadas no antagonismo entre as classes. Elas não são<br />
relações entre indivíduos, mas relações entre o operário e o capitalista, o<br />
arrendatário e o proprietário fundiário etc. Suprimidas estas relações, estará<br />
suprimida a sociedade e o Prometeu não será mais que um fantasma s<strong>em</strong><br />
braços ou pernas, ou seja, s<strong>em</strong> fábrica, s<strong>em</strong> divisão <strong>do</strong> trabalho, s<strong>em</strong>, numa<br />
palavra, tu<strong>do</strong> aquilo que a princípio lhe foi atribuí<strong>do</strong> para obter esse<br />
excedente de trabalho” (Miséria da Filosofia, pp. 96-98; os grifos são<br />
nossos).<br />
Que <strong>Arendt</strong> não diga agora –e é justamente o que ela diz no último parágrafo da<br />
página 92 e nas páginas seguintes– que Marx, ao falar da força de trabalho e da maisvalia,<br />
estaria falan<strong>do</strong> desse fantasma cria<strong>do</strong> ou ressuscita<strong>do</strong> por Proudhon!<br />
5 – O caráter priva<strong>do</strong> da propriedade e da riqueza [The Privacy of Property and<br />
Wealth]<br />
À primeira vista parece realmente estranho, escreve <strong>Arendt</strong>, logo no início desta<br />
divisão, “que uma teoria que terminou tão conclusivamente com a abolição de toda<br />
propriedade tenha ti<strong>do</strong> como seu ponto de partida a fundação teórica [the theoretical<br />
establishment] da propriedade privada” (HC, p. 95).<br />
O que a era moderna defendeu tão apaixonadamente, diz ela, “nunca foi a<br />
propriedade como tal, mas a busca desenfreada de mais propriedade, ou da apropriação”<br />
(HC, p. 95) O que interessava realmente a Locke, l<strong>em</strong>bra ela, era a apropriação e o<br />
que ele buscava era uma “atividade de apropriação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> [Locke refere-se à<br />
apropriação da terra que pertence <strong>em</strong> comum a todas os homens, apropriação esta<br />
efetuada pelo trabalho], cujo caráter priva<strong>do</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po, estivesse fora de dúvida<br />
ou questão” (HC, p. 96). De todas as “atividades” impostas pelo próprio processo vital,<br />
o trabalho é a única atividade que “sentimos que não t<strong>em</strong> de ser escondida” e, nesse<br />
senti<strong>do</strong>, ela é a “menos privada”; esta atividade está, no entanto, suficient<strong>em</strong>ente<br />
próxima <strong>do</strong> processo vital (e nada seria mais priva<strong>do</strong>, para <strong>Arendt</strong>, que as funções<br />
corporais desse processo) para “tornar plausível o argumento a favor <strong>do</strong> caráter priva<strong>do</strong><br />
da apropriação” (não é esse o argumento de Locke: ele justificava o caráter priva<strong>do</strong> da<br />
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