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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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Quanto à ação [action, das Handeln, l'action ou l'agir], a “única atividade que se exerce<br />

diretamente entre os homens, s<strong>em</strong> a mediação <strong>do</strong>s objetos ou da matéria”, essa atividade<br />

humana fundamental “corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que os<br />

homens, e não o Hom<strong>em</strong>, viv<strong>em</strong> na terra e habitam o mun<strong>do</strong>” (HC, p. 9).<br />

To<strong>do</strong>s estes aspectos da condição humana, escreve <strong>Arendt</strong>, “têm alguma relação<br />

com a política”, mas é a pluralidade (que caracteriza a ação) que é especificamente “a<br />

condição -não apenas a conditio sine qua non, mas ainda a conditio per quam- de toda<br />

vida política” (HC, pp. 9-10).<br />

O trabalho e a obra (ou fabricação) são duas modalidades fundamentalmente<br />

diferentes da atividade humana não-política; n<strong>em</strong> o trabalho, n<strong>em</strong> a obra consegu<strong>em</strong><br />

abrir um espaço para a pluralidade humana. <strong>Arendt</strong> insiste ao longo de to<strong>do</strong> seu livro no<br />

fato de que esta distinção entre trabalho e obra foi eliminada ou <strong>em</strong> grande parte<br />

ignorada na era moderna. To<strong>do</strong> o seu esforço consiste <strong>em</strong> resgatar esta distinção<br />

(distinção que correspondia, na Antigüidade, à distinção entre o trabalho não produtivo<br />

<strong>do</strong> escravo e a atividade produtiva <strong>do</strong> artesão) e <strong>em</strong> explicitar as implicações que<br />

decorr<strong>em</strong> de sua não distinção na era moderna.<br />

A promoção <strong>do</strong> social na era moderna, isto é, a “ascensão da administração <strong>do</strong><br />

lar, de suas atividades, seus probl<strong>em</strong>as e recursos organizacionais” (HC, p. 35) diluiu a<br />

antiga divisão entre o público e o priva<strong>do</strong> e, ao mudar bastante o senti<strong>do</strong> destes <strong>do</strong>is<br />

termos, tornou-os quase irreconhecíveis. O surgimento <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio social, que não é<br />

n<strong>em</strong> priva<strong>do</strong> n<strong>em</strong> público no senti<strong>do</strong> restrito destes termos, coincidiu, para <strong>Arendt</strong>, com<br />

o nascimento da era moderna e encontrou sua forma política no Esta<strong>do</strong>-nação. Para os<br />

modernos, as coletividades políticas são consideradas como famílias cujos negócios<br />

cotidianos dev<strong>em</strong> ser atendi<strong>do</strong>s por uma gigantesca administração: o que chamamos, na<br />

era moderna, de “sociedade” é um conjunto de famílias economicamente organizadas<br />

cuja forma política de organização é a “nação”. A reflexão científica que corresponde a<br />

essa mudança <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> termo político não se denomina mais ciência política, mas<br />

sim “economia nacional”, “economia social”, ou Volkswirtschaft; tu<strong>do</strong> o que era<br />

considera<strong>do</strong> “economia” ou que dizia respeito à vida <strong>do</strong> indivíduo e da espécie era por<br />

definição, para os Antigos, não político, mas assunto da família, portanto assunto<br />

priva<strong>do</strong> (HC, p. 28).<br />

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