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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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como produto final” (HC, p. 87) - este mo<strong>do</strong> de conceber a atividade da fabricação (a<br />

obra) está muito próximo <strong>do</strong> que Marx entendia por trabalho útil, isto é, a atividade <strong>do</strong><br />

hom<strong>em</strong> que, no processo de trabalho, efetua, por meio <strong>do</strong>s instrumentos de trabalho,<br />

uma transformação da matéria, pretendida desde o princípio, e cria assim um objeto útil,<br />

um valor de uso.<br />

Haveria ainda para <strong>Arendt</strong> uma segunda tarefa <strong>do</strong> trabalho, uma tarefa imposta<br />

com menos severidade ao hom<strong>em</strong>, mas que estaria igualmente vinculada aos ciclos<br />

recorrentes <strong>do</strong>s movimentos naturais: a tarefa de proteção e de salvaguarda <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

contra os processos naturais. Tratar-se-ia de uma tarefa que exige a “execução<br />

monótona de trabalhos diariamente repeti<strong>do</strong>s”, que é “ainda menos “produtiva” que o<br />

metabolismo direto <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> com a natureza”, e que teria uma “relação muito mais<br />

íntima com o mun<strong>do</strong> que ela defende contra a natureza” (HC, p. 87).<br />

Ora se para <strong>Arendt</strong> é a linguag<strong>em</strong> e as experiências humanas que ela recobre que<br />

nos ensinam que as coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> são bastante diversas e que elas foram produzidas<br />

por atividades muito diferentes, <strong>em</strong> que se fundamenta agora esta segunda tarefa que ela<br />

atribui ao trabalho?<br />

4 - <strong>Trabalho</strong> e fertilidade [<strong>Labor</strong> and Fertility]<br />

“A súbita e espetacular promoção <strong>do</strong> trabalho”, que passou a ser considera<strong>do</strong> na<br />

era moderna como a mais estimada de todas as atividades humanas, começou, escreve<br />

<strong>Arendt</strong> no início desta quarta divisão, “quan<strong>do</strong> Locke descobriu que o trabalho é a fonte<br />

de toda propriedade. Ela prosseguiu quan<strong>do</strong> Adam Smith afirmou que o trabalho [seria<br />

mais correto dizer a divisão <strong>do</strong> trabalho] era a fonte de toda a riqueza e atingiu seu<br />

clímax”, <strong>em</strong> Marx, que considerava o trabalho como sen<strong>do</strong> a “fonte de toda<br />

produtividade e a expressão da própria humanidade <strong>do</strong> hom<strong>em</strong>” (HC, p. 88).<br />

Cada um deles –Locke, Smith e Marx–, mas nenhum mais que Marx, diz ela,<br />

“viu-se diante de certas contradições muito genuínas”: eles não distinguiram o trabalho<br />

–”a mais natural e a menos mundana das atividades”– da obra, e atribuíram ao trabalho<br />

“certas qualidades que somente a obra possui” (HC, p. 88). Para <strong>Arendt</strong>, estes autores<br />

reduziram a obra ao trabalho ao atribuír<strong>em</strong> ao trabalho qualidades que só a obra possui:<br />

“toda obra tornar-se-ia trabalho porque todas as coisas seriam entendidas, não <strong>em</strong> sua<br />

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