A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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No capítulo V, da Seção III <strong>do</strong> Livro Primeiro, de O Capital, Marx escreve: “O<br />
processo de trabalho deve ser considera<strong>do</strong> de início independent<strong>em</strong>ente de qualquer<br />
forma social determinada”. 52 Portanto, é no contexto <strong>do</strong> trabalho útil, <strong>em</strong> geral, trabalho<br />
que produz algo, abstrain<strong>do</strong> contu<strong>do</strong> a sua inscrição num mo<strong>do</strong> de produção<br />
determina<strong>do</strong>, que Marx define o trabalho:<br />
“Antes de tu<strong>do</strong>, o trabalho é um processo entre o hom<strong>em</strong> e a natureza, um<br />
processo [Prozess] <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong>, por sua própria ação, media<br />
[vermittelt], regula e controla seu metabolismo [suas trocas orgânicas,<br />
Stoffwechsel] com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural<br />
como uma força natural. Ele põe <strong>em</strong> movimento as forças naturais<br />
pertencentes à sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de<br />
apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao<br />
atuar, por meio desse movimento, sobre a natureza externa a ele e ao<br />
modificá-la, ele modifica, ao mesmo t<strong>em</strong>po, sua própria natureza. Ele<br />
desenvolve as potências nela a<strong>do</strong>rmecidas e sujeita o jogo de suas forças a<br />
seu próprio <strong>do</strong>mínio. Não se trata aqui das primeiras formas instintivas,<br />
animais, de trabalho. O esta<strong>do</strong> <strong>em</strong> que o trabalha<strong>do</strong>r se apresenta no<br />
merca<strong>do</strong> como vende<strong>do</strong>r de sua própria força de trabalho deixou para o<br />
fun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos primitivos o esta<strong>do</strong> <strong>em</strong> que o trabalho humano não se<br />
desfez ainda de sua primeira forma instintiva. Pressupomos o trabalho<br />
numa forma <strong>em</strong> que pertence exclusivamente ao hom<strong>em</strong>”. 53<br />
Mesmo neste primeiro aspecto, que justamente não o interessa, Marx não definiu<br />
o trabalho como um “metabolismo entre o hom<strong>em</strong> e a natureza”. O termo<br />
“Stoffwechsel”, trocas orgânicas, é um termo da fisiologia (e da química) que pode,<br />
evident<strong>em</strong>ente, ser traduzi<strong>do</strong> <strong>em</strong> português por metabolismo - Marx aceitou a tradução<br />
deste termo, na primeira edição francesa de O Capital, por “circulation matérielle” e<br />
ainda por “circulation des matières”. No entanto, Marx não diz que o trabalho é um<br />
metabolismo, mas sim que ele é um “processo <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong>, por sua própria ação,<br />
media, regula e controla seu metabolismo com a natureza”.<br />
Ao falar <strong>do</strong> trabalho humano, <strong>do</strong> trabalho numa forma <strong>em</strong> que pertence<br />
exclusivamente ao hom<strong>em</strong>, Marx afirma que, no processo de trabalho, a atividade <strong>do</strong><br />
hom<strong>em</strong> “efetua (...), mediante o meio de trabalho, uma transformação <strong>do</strong> objeto de<br />
trabalho, pretendida desde o princípio”. 54 Este processo de trabalho (humano)<br />
52. K. Marx, O Capital, Livro Primeiro, vol. I, p. 149; os grifos são nossos.<br />
53. Ibid<strong>em</strong>; os grifos são nossos.<br />
54. Ibid<strong>em</strong>, p. 151; os grifos são nossos.<br />
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