A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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cíclico <strong>do</strong> processo vital [the cyclical mov<strong>em</strong>ent of the life process]” (HC, p. 329). Aqui,<br />
<strong>Arendt</strong> poderia ter menciona<strong>do</strong> Hegel e sua concepção <strong>do</strong> trabalho. É bastante<br />
surpreendente que Hegel não seja menciona<strong>do</strong> neste terceiro capítulo, um capítulo que<br />
trata justamente das concepções modernas <strong>do</strong> trabalho. Ora, o trabalho não é<br />
considera<strong>do</strong> por Hegel como sen<strong>do</strong> um movimento apenas repetitivo, s<strong>em</strong>elhante ao<br />
“círculo prescrito pelos processos biológicos <strong>do</strong> organismo vivo”. Bastaria l<strong>em</strong>brar aqui<br />
os Princípios da Filosofia <strong>do</strong> Direito [1821], e <strong>em</strong> particular a seção que trata das<br />
modalidades das necessidades e de sua satisfação. No parágrafo 196 desta obra, Hegel<br />
escreve:<br />
“(...) o trabalho é uma atividade media<strong>do</strong>ra que consiste <strong>em</strong> produzir e<br />
adquirir meios particulariza<strong>do</strong>s apropria<strong>do</strong>s a carecimentos igualmente<br />
particulariza<strong>do</strong>s. Pelo seu trabalho, o hom<strong>em</strong> diferencia, por meio de<br />
procedimentos varia<strong>do</strong>s, o material que a natureza lhe oferece<br />
imediatamente para adaptá-lo a fins múltiplos. Esta transformação efetuada<br />
pelo trabalho dá ao meio o seu valor e sua utilidade, de mo<strong>do</strong> que o hom<strong>em</strong><br />
utiliza essencialmente para seu consumo os produtos <strong>do</strong> trabalho humano e<br />
<strong>do</strong>s esforços humanos (investi<strong>do</strong>s nesses produtos)”. 50<br />
Esta atividade de transformação das matérias naturais <strong>em</strong> produtos da atividade<br />
humana não é um “movimento apenas repetitivo”, mas é essencialmente cria<strong>do</strong>ra: “O<br />
ato individual de produção de um objeto torna-se o momento através <strong>do</strong> qual a natureza<br />
interioriza-se no processo de trabalho e onde o hom<strong>em</strong> se faz objetivo e real, na<br />
transformação prática <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”. 51<br />
Voltan<strong>do</strong> agora à página 86, encontramos um parágrafo excessivamente confuso<br />
referente a Marx e ao que ele teria dito: “Ao definir o trabalho como o “metabolismo <strong>do</strong><br />
hom<strong>em</strong> com a natureza”, <strong>em</strong> cujo processo o “material da natureza é adapta<strong>do</strong>, por uma<br />
mudança de forma, às necessidades <strong>do</strong> hom<strong>em</strong>”, de sorte que o “trabalho se incorporou<br />
ao seu sujeito”, Marx deixou claro que estava “falan<strong>do</strong> fisiologicamente”, e que o<br />
trabalho e o consumo são apenas <strong>do</strong>is estágios <strong>do</strong> eterno ciclo da vida biológica” (HC,<br />
p. 86; os grifos são nossos).<br />
Vamos parar aqui e tentar compreender como <strong>Arendt</strong> chegou a este amálgama<br />
de conceitos e de definições.<br />
50. Hegel, Principes de la Philosophie du Droit ou Droit Naturel et Science de L’Etat en abrégé<br />
(tradução francesa de R. Derathé), Paris, Vrin, 1982, p. 223.<br />
51. D. L. Rosenfield, Política e Liberdade <strong>em</strong> Hegel, São Paulo, Brasiliense, 1983, p. 179.<br />
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