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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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Capital – e ele não confunde objetivação e alienação. No entanto, é num contexto<br />

muito especifico que ele se refere à objetivação <strong>do</strong> trabalho, ou seja, no contexto <strong>do</strong><br />

trabalho aliena<strong>do</strong>. Lukács, que não conhecia os Manuscritos de 1844 (eles só foram<br />

publica<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 1932) quan<strong>do</strong> escreveu História e Consciência de Classe (escrito <strong>em</strong><br />

1922, este livro foi publica<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 1923, <strong>em</strong> Berlim), desenvolve, nessa obra, o conceito<br />

de reificação [Verdinglichung] equivalente ao conceito de objetivação-alienação. Este<br />

termo, “Verdinglichung”, encontra-se nos últimos capítulos <strong>do</strong> Livro III de O Capital.<br />

Ver<strong>em</strong>os mais adiante, na quarta divisão, “<strong>Trabalho</strong> e fertilidade”, deste terceiro<br />

capítulo, a confusão criada por <strong>Arendt</strong> entre objetivação e reificação (termos que seriam<br />

equivalentes para ela) quan<strong>do</strong> se refere (na página 89) ao termo<br />

“Vergegenständlichung” <strong>em</strong> Marx.<br />

Uma vez que o trabalho não produz, para <strong>Arendt</strong>, um mun<strong>do</strong> de objetos, a<br />

produção deste mun<strong>do</strong> estranho, alheio ao trabalha<strong>do</strong>r, esta pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong><br />

econômico, que caracteriza para Marx a produção capitalista, não pode aqui, nesta<br />

divisão intitulada “O caráter-de-coisa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> [The Thing-Character of the World]”,<br />

interessar a <strong>Arendt</strong>. 49<br />

Ao contrário, para <strong>Arendt</strong>, a realidade e a confiabilidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> humano<br />

repousam, fundamentalmente, no fato de que estamos rodea<strong>do</strong>s de coisas mais<br />

permanentes <strong>do</strong> que a atividade pela qual foram produzidas, e potencialmente até mais<br />

permanentes que as próprias vidas de seus autores: “A vida humana, na medida <strong>em</strong> que<br />

constrói um mun<strong>do</strong>, está engajada num processo constante de reificação, e o grau de<br />

mundanidade das coisas produzidas que, todas juntas, formam o artifício humano,<br />

depende de sua maior ou menor permanência no próprio mun<strong>do</strong>” (HC, p. 83).<br />

Diferentes <strong>do</strong>s bens de consumo e <strong>do</strong>s objetos de uso, escreve <strong>Arendt</strong>, “são os<br />

“produtos” da ação e <strong>do</strong> discurso que, juntos, constitu<strong>em</strong> a textura das relações e <strong>do</strong>s<br />

assuntos humanos” (HC, p. 82). A realidade destes produtos “depende inteiramente da<br />

pluralidade humana, da presença constante de outros que pod<strong>em</strong> ver, ouvir e, portanto,<br />

test<strong>em</strong>unhar sua existência”. Para <strong>Arendt</strong>, a vida humana só conhece uma atividade que<br />

49. Na nota 22 da página 78, <strong>Arendt</strong> escreve: “A acusação original de Marx contra a sociedade capitalista,<br />

não era simplesmente que esta transformava to<strong>do</strong>s os objetos <strong>em</strong> merca<strong>do</strong>rias, mas sim que “o<br />

trabalha<strong>do</strong>r se comporta <strong>em</strong> relação ao produto de seu trabalho como se este fosse um objeto estranho”<br />

(“dass der Arbeiter zum Produkt seiner Arbeit als ein<strong>em</strong> frenden Gegenstand sich verhält”<br />

[Jugendschriften, p. 83] ) - <strong>em</strong> outras palavras, que as coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, uma vez produzidas pelos<br />

homens, são até certo ponto independentes, “alienadas”, da vida humana.” (HC, p. 327) -- uma das<br />

raras notas na qual <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> não deforma por completo o texto de Marx.<br />

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