A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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O que Marx queria também compreender era o fato de o trabalho ter si<strong>do</strong><br />
reduzi<strong>do</strong>, no mo<strong>do</strong> de produção capitalista <strong>em</strong> sua época, a um simples instrumento, um<br />
meio de vida, a serviço <strong>do</strong> capital:<br />
“Enquanto cria<strong>do</strong>r de valor, o trabalho <strong>do</strong> operário, a partir <strong>do</strong> momento <strong>em</strong><br />
que está inseri<strong>do</strong> no processo de produção, é incorpora<strong>do</strong> a esse processo<br />
como mo<strong>do</strong> de existência <strong>do</strong> valor <strong>do</strong> capital. É por isso que essa força que<br />
não apenas conserva o valor mas cria também um novo valor é a força <strong>do</strong><br />
capital, e esse processo se apresenta como processo de autovalorização <strong>do</strong><br />
capital, ou mais especificamente, como processo de <strong>em</strong>pobrecimento <strong>do</strong><br />
operário que, ao produzir o valor, cria o valor alheio a ele”. 47<br />
Que o dinheiro produz dinheiro, afirma <strong>Arendt</strong> –e ela poderia ter dito aqui que o<br />
valor produz valor–, essa seria, a seu ver, a “mais grosseira superstição da era moderna”<br />
(HC, p. 91).<br />
Considera<strong>do</strong>s como pertencen<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong>, os produtos da obra, diz agora<br />
<strong>Arendt</strong>, e não os produtos <strong>do</strong> trabalho, “garant<strong>em</strong> a permanência e a durabilidade s<strong>em</strong> as<br />
quais um mun<strong>do</strong> não seria de mo<strong>do</strong> algum possível”; e seria justamente dentro desse<br />
mun<strong>do</strong> de coisas duráveis que “encontramos os bens de consumo com os quais a vida<br />
assegura os meios de sua sobrevivência” (HC, p. 82; os grifos são nossos). T<strong>em</strong>os aqui,<br />
então, o seguinte: por um la<strong>do</strong>, os produtos <strong>do</strong> trabalho não faz<strong>em</strong> parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, uma<br />
vez que eles não garant<strong>em</strong> a permanência e a durabilidade que caracterizam o mun<strong>do</strong>,<br />
mas, por outro la<strong>do</strong>, é no interior desse mun<strong>do</strong> de coisas duráveis que encontramos os<br />
bens de consumo, ou seja, as coisas produzidas pelo trabalho.<br />
Para Marx, o valor de uso produzi<strong>do</strong> pelo trabalho, a transformação <strong>do</strong> trabalho<br />
<strong>em</strong> objeto, a objetivação <strong>do</strong> trabalho [Vergegenständliche Arbeit], pelo menos na<br />
produção capitalista, aparece como desefetivação [Entwirklichung] <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r: “o<br />
trabalha<strong>do</strong>r se relaciona com [comporta-se perante] o produto de seu trabalho como<br />
com um objeto alheio” 48 - o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s objetos produzi<strong>do</strong>s pelo trabalha<strong>do</strong>r é um<br />
mun<strong>do</strong> alheio a ele. A objetivação <strong>do</strong> trabalho torna-se, assim, perda <strong>do</strong> hom<strong>em</strong>, <strong>do</strong><br />
trabalho e <strong>do</strong> objeto que estão aqui separa<strong>do</strong>s; essa objetivação é, portanto, um<br />
alienação. Marx utiliza o termo trabalho objetiva<strong>do</strong> [Vergegenständliche Arbeit] nos<br />
seus escritos de juventude, <strong>em</strong> particular nos Manuscritos de 1844, mas também <strong>em</strong> O<br />
47. K. Marx, Matériaux pour l'Economie [1861-1865], in K. Marx, Oeuvres-Economie II, pp. 417-418.<br />
48. K. Marx, Manuscrits Parisiens [1844], in K. Marx, Oeuvres - Economie II, p. 58; tradução de Viktor<br />
von Ehrenreich, in K. Marx, F. Engels: História, p. 150<br />
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