A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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<strong>Arendt</strong> faz uma distinção entre três atividades humanas fundamentais: trabalho,<br />
obra (ou fabricação), ação; a estas três atividades correspond<strong>em</strong> três condições<br />
humanas: vida, pertencer-ao-mun<strong>do</strong> (mundanidade), pluralidade. Considera ainda uma<br />
distinção entre duas esferas da vida humana: a esfera privada (correspond<strong>em</strong> a este<br />
espaço as atividades <strong>do</strong> trabalho e da obra) e a esfera pública (corresponde a este espaço<br />
a atividade da ação). Mas ela também faz uma outra distinção, desta vez entre trabalho<br />
(esfera privada) e obra de arte-ação (esfera pública). O estatuto da obra de arte<br />
permanece probl<strong>em</strong>ático: a tríade trabalho-obra-ação é muito mais, e isso apesar das<br />
supostas provas fenomenais <strong>em</strong> seu favor, uma distinção entre trabalho, por um la<strong>do</strong>, e<br />
obra de arte-ação, por outro la<strong>do</strong>. No seu livro Between Past and Future 4 , política e arte<br />
são consideradas ambas como fenômenos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> público. 5<br />
O trabalho [labor, Arbeit, travail] é considera<strong>do</strong> aqui como sen<strong>do</strong> a “atividade<br />
que corresponde ao processo biológico <strong>do</strong> corpo humano, cujo crescimento espontâneo,<br />
metabolismo, e eventual declínio estão liga<strong>do</strong>s às necessidades vitais produzidas pelo<br />
trabalho para alimentar o processo da vida. A condição humana <strong>do</strong> trabalho é a própria<br />
vida” (HC, p. 9). Trata-se, portanto, de uma atividade cuja única finalidade é satisfazer<br />
as necessidades básicas da vida e que não deixa nenhuma marca durável, uma vez que o<br />
seu resulta<strong>do</strong> desaparece no consumo. Ao contrário, a obra ou a fabricação [work, Werk<br />
ou das Herstellen, l’oeuvre, l’oeuvrer] é a “atividade que corresponde à nãonaturalidade<br />
[ao artificialismo] da existência humana, que não está incrustada no<br />
s<strong>em</strong>pre-recorrente ciclo vital da espécie e cuja mortalidade não é compensada por este<br />
ciclo”. A obra, escreve <strong>Arendt</strong>, “produz um mun<strong>do</strong> “artificial” de objetos, nitidamente<br />
diferente de to<strong>do</strong> meio natural. Dentro de suas fronteiras habita cada uma das vidas<br />
individuais, <strong>em</strong>bora este mun<strong>do</strong> ele próprio se destine a sobreviver e a transcender todas<br />
elas. A condição humana da obra é o pertencer-ao-mun<strong>do</strong> [a mundanidade -<br />
worldliness]” (HC, p. 9). Ou seja, trata-se de uma atividade que possui um começo<br />
preciso e um fim determina<strong>do</strong> –um objeto durável– que não é consumi<strong>do</strong><br />
imediatamente, mas é utiliza<strong>do</strong> para fins que não são propriamente os da vida biológica.<br />
4. Cf. H. <strong>Arendt</strong>, Between Past and Future: Eight Exercises in Political Thought. New York, Viking<br />
Press, 1968 (edição revista e aumentada). Tradução francesa de Patrick Lévy: La crise de la culture:<br />
Huit exercices de pensée politique, Paris, Gallimard, 1972. No Brasil, esta obra foi traduzida por Mauro<br />
W. Barbosa de Almeida e publicada <strong>em</strong> 1972, <strong>em</strong> São Paulo, pela Editora Perspectiva, sob o título<br />
Entre o Passa<strong>do</strong> e o Futuro, com uma Introdução de Celso Lafer (“Da Dignidade da Política: sobre<br />
<strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>”, pp. 9-27).<br />
5. Ver aqui o sexto ensaio de Between Past and Future.<br />
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