A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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interpretação de <strong>Arendt</strong>) produz objetos, e cuja “preocupação fundamental é com sua<br />
própria reprodução” (HC, p. 77).<br />
Gostaríamos de saber por que motivo um mo<strong>do</strong> de produção determina<strong>do</strong> se<br />
interessa tanto por essa “força de trabalho” se ela se limita apenas a reproduzir-se! Não<br />
apenas essa “força de trabalho” produz objetos úteis, merca<strong>do</strong>rias e mais-valia, mas fora<br />
reduzida na época de Marx ao nível da “subsistência” mínima:<br />
“Para extrair valor <strong>do</strong> consumo de uma merca<strong>do</strong>ria, nosso possui<strong>do</strong>r de<br />
dinheiro precisaria ter a sorte de descobrir dentro da esfera da circulação, no<br />
merca<strong>do</strong>, uma merca<strong>do</strong>ria cujo próprio valor de uso tivesse a característica<br />
peculiar de ser fonte de valor, portanto, cujo verdadeiro consumo fosse <strong>em</strong><br />
si objetivação de trabalho [Vergegenständlichung der Arbeit], por<br />
conseguinte, criação de valor [os grifos são nossos]. E o possui<strong>do</strong>r de<br />
dinheiro encontra no merca<strong>do</strong> tal merca<strong>do</strong>ria específica - a capacidade de<br />
trabalho ou a força de trabalho. Por força de trabalho ou capacidade de<br />
trabalho entend<strong>em</strong>os o conjunto das faculdades físicas e espirituais que<br />
exist<strong>em</strong> na corporalidade, na personalidade viva de um hom<strong>em</strong> e que ele<br />
põe <strong>em</strong> movimento toda vez que produz valores de uso de qualquer espécie<br />
[os grifos são nossos]. (...) O processo de consumo da força de trabalho é,<br />
simultaneamente, o processo de produção de merca<strong>do</strong>ria e de mais-valia”. 32<br />
<strong>Arendt</strong> reduz aqui a força de trabalho que produz merca<strong>do</strong>ria e mais-valia na<br />
produção capitalista, segun<strong>do</strong> Marx, a uma simples reprodução da vida biológica <strong>do</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>r ou, no máximo, ao fato de que “mediante a exploração capitalista da época<br />
de Marx, [esta força] pode ser canalizada de tal forma que o trabalho de alguns é<br />
bastante para a vida de to<strong>do</strong>s” (HC, p. 77; os grifos são nossos). Só para a vida<br />
individual ou para a vida de to<strong>do</strong>s? Mas <strong>em</strong> que se fundamenta, então, para Marx, toda a<br />
produção capitalista?<br />
O que ela critica então, e mais particularmente a Marx, é o “ponto de vista<br />
puramente social <strong>do</strong> trabalho” (HC, p. 77; os grifos são nossos), um ponto de vista que<br />
seria “idêntico à interpretação que apenas leva <strong>em</strong> conta o processo vital da<br />
humanidade; dentro de seu sist<strong>em</strong>a de referência tu<strong>do</strong> torna-se objeto de consumo” (HC,<br />
p. 78; os grifos são nossos). O próprio Marx, <strong>em</strong> 1847, afirma:<br />
“A troca t<strong>em</strong> a sua própria história, que percorreu diferentes fases. Houve<br />
um t<strong>em</strong>po, como na Idade Média, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> que só o supérfluo, o<br />
excedente da produção sobre o consumo, era troca<strong>do</strong>. (...) Veio, enfim, um<br />
32. K. Marx, O Capital, Livro Primeiro, vol. I, pp. 139-144.<br />
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