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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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o verdadeiro reino da liberdade. (...) A redução da jornada de trabalho é a<br />

condição fundamental desta liberação”. 31<br />

A produção econômica estaria nesse momento, segun<strong>do</strong> esta hipótese,<br />

inteiramente racionalizada, <strong>do</strong>minada graças à ciência e à tecnologia. A unidade <strong>do</strong><br />

processo de trabalho, unidade <strong>do</strong> trabalho intelectual e manual, estaria de novo presente<br />

aqui, mas agora num estágio superior de sua formação, independente de qualquer<br />

contingência material e de qualquer necessidade exterior. A atividade verdadeira, o que<br />

Marx chama aqui de reino da liberdade, poderia então desenvolver-se.<br />

A grande contradição que atravessa toda a obra de Marx, segun<strong>do</strong> <strong>Arendt</strong>, seria a<br />

seguinte: <strong>em</strong>bora o trabalho tenha si<strong>do</strong> defini<strong>do</strong> por Marx, por um la<strong>do</strong>, como uma<br />

“eterna necessidade imposta pela natureza”, a revolução se destinava, por outro la<strong>do</strong>,<br />

diz ele, a “<strong>em</strong>ancipar o hom<strong>em</strong> <strong>do</strong> trabalho” (HC, p. 90). E esta contradição é, diz<br />

<strong>Arendt</strong>, o resulta<strong>do</strong> da atitude equívoca de Marx <strong>em</strong> relação ao trabalho. <strong>Arendt</strong> também<br />

critica aqui a obra de Jules Vuill<strong>em</strong>in, L’ être et le travail [1949], obra que seria, a seu<br />

ver, “um ex<strong>em</strong>plo <strong>do</strong> que acontece quan<strong>do</strong> se tenta resolver as contradições e equívocos<br />

<strong>do</strong> pensamento de Marx” (HC, p. 332, nota 48).<br />

Não se trata aqui, para nós, de tentar resolver ou solucionar as contradições e os<br />

equívocos <strong>do</strong> pensamento de Marx, mas poderíamos pelo menos exigir que essas<br />

contradições foss<strong>em</strong> formuladas de mo<strong>do</strong> mais justo, não ignoran<strong>do</strong> ou deforman<strong>do</strong> os<br />

próprios textos de Marx. De fato, encontramos <strong>em</strong> Marx duas t<strong>em</strong>áticas que parec<strong>em</strong><br />

contraditórias: de um la<strong>do</strong>, o hom<strong>em</strong> realiza a sua humanidade pelo trabalho, de outro,<br />

ao contrário, segun<strong>do</strong> a concepção que se encontra explicitamente nesse fragmento <strong>do</strong><br />

Livro Terceiro de O Capital, o hom<strong>em</strong> só é verdadeiramente livre fora <strong>do</strong> trabalho (no<br />

senti<strong>do</strong> de trabalho aliena<strong>do</strong>). Examinar<strong>em</strong>os, mais adiante, esta contradição.<br />

Volt<strong>em</strong>os à página 77: <strong>Arendt</strong> não está totalmente equivocada quan<strong>do</strong> afirma<br />

que o “excedente” da “força de trabalho” [Arbeitskraft] explica a produtividade <strong>do</strong><br />

trabalho, mas é necessário acrescentar ao texto, “na produção capitalista”, e explicitar o<br />

que é, para Marx, esse excedente e essa produtividade. Para <strong>Arendt</strong>, a “produtividade da<br />

obra, que acrescenta novos objetos ao artifício humano” seria muito diferente da<br />

“produtividade da força de trabalho”, produtividade que só ocasionalmente (é essa a<br />

31 . K. Marx, Le Capital, Livre Troisième, in K. Marx, Oeuvres - Economie II, pp. 1487-1488 (os grifos<br />

são nossos).<br />

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