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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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é conheci<strong>do</strong> por ele e que determina o mo<strong>do</strong> e a maneira de seu fazer como lei e ao qual<br />

deve subordinar sua vontade”. 30<br />

Por que motivo <strong>Arendt</strong> afirma não se tratar aqui da própria concepção de Marx<br />

<strong>do</strong> trabalho, quan<strong>do</strong> ele a explicita justamente <strong>em</strong> to<strong>do</strong> este capítulo? O processo de<br />

trabalho [Arbeits-Prozess] tal como foi concebi<strong>do</strong> por Marx, caracteriza-se pela unidade<br />

<strong>do</strong> trabalho intelectual e corporal, <strong>do</strong> trabalho consciente e de sua realização material,<br />

unidade esta que o trabalho assalaria<strong>do</strong> vai justamente separar. A que teoria ou a que<br />

concepção <strong>do</strong> trabalho, <strong>em</strong> Marx, refere-se então <strong>Arendt</strong>? Ao fato de que o trabalho<br />

tornou-se, na produção capitalista, trabalho assalaria<strong>do</strong>, trabalho aliena<strong>do</strong>? É o que<br />

Marx critica s<strong>em</strong> cessar.<br />

Mas voltan<strong>do</strong> um pouco atrás, ao início da p. 77 (e à nota 17), <strong>Arendt</strong> afirma<br />

agora que Marx pensava “que faltava apenas um passo para abolir totalmente o trabalho<br />

e a necessidade”. Bastaria l<strong>em</strong>brar aqui um fragmento <strong>do</strong> final <strong>do</strong> Livro Terceiro de O<br />

Capital, no qual Marx afirma que o trabalho é e não deixa de ser a esfera da<br />

necessidade e que a liberdade só começa onde termina o trabalho, fragmento este que é<br />

cita<strong>do</strong> por <strong>Arendt</strong> na nota 17 deste capítulo. Daí a conclusão de Marx tantas vezes<br />

citada: “é necessário reduzir a jornada de trabalho” [o grifo é nosso]. Convém citar to<strong>do</strong><br />

esse fragmento:<br />

“Na verdade, o reino da liberdade só começa onde termina o trabalho<br />

imposto pela necessidade e pelos fins exteriores. Tal como o hom<strong>em</strong><br />

primitivo, o hom<strong>em</strong> civiliza<strong>do</strong> é obriga<strong>do</strong> a confrontar-se com a natureza<br />

para satisfazer as suas necessidades, começar e reproduzir sua vida; o<br />

hom<strong>em</strong> sofre esse constrangimento <strong>em</strong> todas as formas de sociedade, sejam<br />

quais for<strong>em</strong> os tipos de produção. Ao desenvolver-se, este império da<br />

necessidade estende-se, porque as necessidades multiplicam-se, mas,<br />

concomitant<strong>em</strong>ente, o processo produtivo para satisfazê-las desenvolve-se<br />

[processo produtivo este que distingue, segun<strong>do</strong> Marx, os homens <strong>do</strong>s<br />

animais]. Nesta esfera [a esfera da necessidade], a liberdade só pode<br />

consistir no seguinte: os produtores associa<strong>do</strong>s, o hom<strong>em</strong> socializa<strong>do</strong>,<br />

regulam de maneira racional as suas trocas orgânicas com a natureza e as<br />

controlam <strong>em</strong> comum, <strong>em</strong> vez de ser<strong>em</strong> <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s pelo poder cego dessas<br />

trocas; e eles o faz<strong>em</strong> gastan<strong>do</strong> o mínimo de energia possível, <strong>em</strong> condições<br />

mais dignas, adequadas à sua natureza humana. Mas, o império da<br />

necessidade não deixa por isso de existir. É para além dele que começa (...)<br />

30. Tradução de J. A. Giannotti, in <strong>Trabalho</strong> e Reflexão, Ensaios para uma dialética da sociabilidade,<br />

São Paulo, Brasiliense, 1983, pp. 85-86.<br />

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