A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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Moscou, <strong>em</strong> 1932), nos permite compreender este parágrafo de mo<strong>do</strong> completamente<br />
diferente. Marx escreve:<br />
“O primeiro pressuposto de toda a história humana [os grifos são nossos] é<br />
naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos. (...) Pode-se<br />
distinguir os homens <strong>do</strong>s animais pela consciência, pela religião, pelo que se<br />
queira. Eles mesmos começam a se distinguir <strong>do</strong>s animais tão logo<br />
começam a produzir os seus meios de vida, um passo condiciona<strong>do</strong> pela sua<br />
organização corporal. Ao produzir<strong>em</strong> os seus meios de vida, os homens<br />
produz<strong>em</strong> indiretamente a sua vida material mesma. O mo<strong>do</strong> [o grifo é<br />
nosso] pelo qual os homens produz<strong>em</strong> os seus meios de vida depende<br />
inicialmente da constituição mesma <strong>do</strong>s meios de vida encontra<strong>do</strong>s aí e a ser<br />
produzi<strong>do</strong>s. Este mo<strong>do</strong> da produção não deve ser considera<strong>do</strong> só segun<strong>do</strong> o<br />
aspecto de ser a reprodução da existência física <strong>do</strong>s indivíduos [os grifos<br />
são nossos]. EIe já é antes uma maneira determinada de atividade desses<br />
indivíduos, uma maneira determinada de manifestar <strong>em</strong> a sua vida, um<br />
mo<strong>do</strong> de vida determina<strong>do</strong>. Os indivíduos são assim como manifestam a sua<br />
vida. O que eles são coincide portanto com a sua produção, tanto com o que<br />
produz<strong>em</strong> quanto também com o como produz<strong>em</strong>. Portanto, o que os<br />
indivíduos são depende das condições materiais da sua produção”. 26<br />
O que Marx afirma aqui? Que os homens, e apenas os homens, ao produzir<strong>em</strong> os<br />
seus meios de vida produz<strong>em</strong> também suas relações de produção, a sua existência<br />
social; essa atividade verdadeiramente humana, segun<strong>do</strong> Marx, o trabalho, é também<br />
produção da história. Pode-se contestar a obra de Marx, mas é impossível ler, neste<br />
parágrafo da Ideologia Al<strong>em</strong>ã, “o próprio conteú<strong>do</strong> da definição <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> como<br />
animal laborans”.<br />
Poderíamos ainda mencionar aqui um texto mais antigo de Marx, o <strong>do</strong>s<br />
Manuscritos de 1844, texto este que <strong>Arendt</strong> conhece (ver sua citação de parte deste<br />
texto, na nota 41 deste capítulo):<br />
“Claro que o animal também produz. Constrói um ninho, moradas para si,<br />
tal como a abelha, castor, formiga, etc. Só que produz apenas o de que<br />
precisa imediatamente para si ou seu filhote; produz unilateralmente, ao<br />
passo que o hom<strong>em</strong> produz universalmente; produz apenas sob o <strong>do</strong>mínio<br />
da necessidade física imediata, ao passo que o hom<strong>em</strong> produz mesmo livre<br />
da necessidade física imediata e só produz verdadeiramente sen<strong>do</strong> livre da<br />
mesma [os grifos são nossos]; só produz a si mesmo, ao passo que o hom<strong>em</strong><br />
reproduz a natureza inteira; o seu produto pertence imediatamente ao seu<br />
corpo físico, ao passo que o hom<strong>em</strong> se defronta livre com o seu produto. (...)<br />
26. K. Marx, A Ideologia Al<strong>em</strong>ã [1845-1846], tradução de Viktor von Ehrenreich, in K. Marx, F. Engels,<br />
História, p. 187.<br />
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