A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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“O animal é imediatamente um com a sua atividade vital. Não se distingue<br />
dela. É ela. O hom<strong>em</strong> faz da sua atividade vital mesma um objeto <strong>do</strong> seu<br />
querer e da sua consciência. T<strong>em</strong> atividade vital consciente [o grifo é<br />
nosso]. N<strong>em</strong> é uma determinidade com a qual ele conflua imediatamente. A<br />
atividade vital consciente distingue o hom<strong>em</strong> imediatamente da atividade<br />
vital animal [os grifos são nossos]. Só por isto a sua atividade é atividade<br />
livre. O trabalho aliena<strong>do</strong> inverte a relação de maneira tal que precisamente<br />
porque é um ser consciente o hom<strong>em</strong> faz da sua atividade vital, da sua<br />
essência, apenas um meio para a sua existência”. 24<br />
E esta é uma distinção que Marx não aban<strong>do</strong>na.<br />
A era moderna <strong>em</strong> geral, e Karl Marx <strong>em</strong> particular, prossegue <strong>Arendt</strong>, no final<br />
da página 76, “tendiam quase irresistivelmente a considerar to<strong>do</strong> trabalho como obra e a<br />
falar <strong>do</strong> animal laborans <strong>em</strong> termos muito mais adequa<strong>do</strong>s ao homo faber”.<br />
Mas o que <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> quer dizer aqui?<br />
O trabalho sob uma forma que pertence exclusivamente ao hom<strong>em</strong> é o ponto de<br />
partida de Marx. To<strong>do</strong> o probl<strong>em</strong>a aqui, é que me parece completamente inútil querer<br />
encontrar <strong>em</strong> Marx (na sua concepção de trabalho) o equivalente <strong>do</strong> “animal laborans”<br />
–uma das espécies animais, poder-se-ia dizer a mais alta das que viv<strong>em</strong> na terra–, ou o<br />
equivalente <strong>do</strong> trabalho tal como <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> o define; to<strong>do</strong> o seu esforço nesse<br />
senti<strong>do</strong> consegue apenas criar uma série de distorções nos textos de Marx. 25<br />
Assim, quan<strong>do</strong> ela afirma, na nota 36 deste capítulo –“Toda a teoria de Marx<br />
assenta no insight inicial de que o trabalha<strong>do</strong>r, antes de mais nada, reproduz sua própria<br />
vida ao produzir os seus meios de subsistência. Em seus primeiros escritos, Marx<br />
achava que [<strong>Arendt</strong> cita aqui a Ideologia Al<strong>em</strong>ã] “os homens começam a se distinguir<br />
<strong>do</strong>s animais tão logo começam a produzir os seus meios de vida” (Deutsche Ideologie,<br />
p. 10). É este o próprio conteú<strong>do</strong> [os grifos são nossos] da definição <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> como<br />
animal laborans” (HC, p. 330)–, uma simples leitura <strong>do</strong> trecho da Ideologia Al<strong>em</strong>ã<br />
[1845-1846] aqui cita<strong>do</strong>, obra esta que devi<strong>do</strong> a uma série de dificuldades não foi<br />
publicada por Marx (a primeira edição quase integral desta obra foi publicada <strong>em</strong><br />
24. K. Marx, Manuscrits parisiens [1844], in K. Marx, Oeuvres - Economie II, p. 63; tradução brasileira<br />
de Viktor von Ehrenreich, in K. Marx, F. Engels: História, Coleção Grandes Cientistas Sociais, vol. 36,<br />
p. 146.<br />
25. <strong>Arendt</strong> retoma aqui, s<strong>em</strong> mencioná-la explicitamente, a estrutura que Ernst Jünger atribuiu ao<br />
trabalha<strong>do</strong>r <strong>em</strong> sua obra Der Arbeiter [1932]. Enquanto este autor considera a análise de Marx como<br />
sen<strong>do</strong> “uma etapa que conduz” ao seu Trabalha<strong>do</strong>r (ver “Le travailleur Planétaire, Entretiens avec<br />
Ernst Jünger”, Cahiers de l'Herne-Heidegger, Paris, 1983, pp. 145-150), <strong>Arendt</strong> quer, ao contrário,<br />
encontrar <strong>em</strong> Marx uma concepção <strong>do</strong> trabalho e <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> que não se encontra <strong>em</strong> sua obra.<br />
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