A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
como orig<strong>em</strong> a série de conferências proferidas, <strong>em</strong> 1956, na Universidade de Chicago<br />
sob o título Vita Activa, esta obra trata da vita activa, isto é, de três atividades humanas<br />
fundamentais –o trabalho, a obra ou a fabricação, a ação– e das três condições<br />
humanas –a vida, o pertencer-ao-mun<strong>do</strong> ou a mundanidade [worldliness], a<br />
pluralidade– que correspond<strong>em</strong> a estas atividades. Ao privilegiar a ação e ao criticar a<br />
era moderna e a importância que foi atribuída nessa época ao trabalho, colocan<strong>do</strong>-o<br />
acima de todas as outras atividades, <strong>Arendt</strong> tenta resgatar o que seria um verdadeiro<br />
espaço público, plural e autônomo, de deliberação e de iniciativa.<br />
O totalitarismo, fenômeno essencialmente original <strong>do</strong> século XX, segun<strong>do</strong><br />
<strong>Arendt</strong>, se apóia no desaparecimento <strong>do</strong> espaço público, no isolamento político <strong>do</strong><br />
indivíduo, nesse hom<strong>em</strong> isola<strong>do</strong> e desenraiza<strong>do</strong>, hom<strong>em</strong> moderno cuja condição v<strong>em</strong><br />
sen<strong>do</strong> preparada desde a Revolução Industrial.<br />
É apenas a crítica de <strong>Arendt</strong> a Marx que quer<strong>em</strong>os explicitar e questionar a partir<br />
de uma leitura crítica <strong>do</strong> terceiro capítulo, <strong>Trabalho</strong> [<strong>Labor</strong>], <strong>do</strong> livro The Human<br />
Condition.<br />
Esta obra está vinculada ao livro anterior The Origins of Totalitarianism. Não se<br />
trata mais, para <strong>Arendt</strong>, n<strong>em</strong> de compreender a natureza <strong>do</strong> totalitarismo, n<strong>em</strong> de<br />
descrever as s<strong>em</strong>elhanças estruturais entre o nazismo e o stalinismo, mas de uma<br />
reflexão filosófica que busca identificar os traços mais duráveis da condição humana,<br />
aqueles que são menos vulneráveis às vicissitudes da era moderna; é nesse senti<strong>do</strong>,<br />
“como o livro da resistência e da reconstrução” que Ricoeur, no seu Prefácio a esta<br />
obra, nos aconselha sua leitura. 3<br />
A distinção entre trabalho [labor], obra [work] e ação [action] deveria ser<br />
examinada acentuan<strong>do</strong> o ponto de vista t<strong>em</strong>poral da durabilidade dessas diferentes<br />
atividades humanas. Esta sugestão de Ricoeur, esta sua escolha de leitura, não elimina<br />
to<strong>do</strong> um questionamento quanto à coerência e plena validez da tríade trabalho-obra-<br />
ação. Infelizmente, a tradução de Roberto Raposo não nos ajuda, mas apenas dificulta,<br />
confunde e até impede a compreensão desta distinção.<br />
3. Prefácio de Paul Ricoeur à segunda edição francesa (Condition de l’homme moderne [1961], tradução<br />
de George Fradier, Paris, Calmann-Lévy, 1983), pp. X-XI.<br />
2