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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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<strong>do</strong>mésticos, mas também “o soberano (...), to<strong>do</strong>s os oficiais de justiça e de guerra (...),<br />

to<strong>do</strong> o Exército e Marinha”, e ainda os “eclesiásticos, advoga<strong>do</strong>s, médicos, homens de<br />

letras de to<strong>do</strong>s os tipos, atores, palhaços, músicos, cantores de ópera, dançarinos de<br />

ópera, etc.” (A Riqueza das Nações, p. 286)], “t<strong>em</strong> muito mais a ver com a opinião prémoderna<br />

[o grifo é nosso] sobre este assunto <strong>do</strong> que com sua glorificação moderna”.<br />

Um século separa Smith de Marx; ad<strong>em</strong>ais Marx refere-se s<strong>em</strong>pre ao trabalho<br />

produtivo e improdutivo no contexto da produção capitalista, mo<strong>do</strong> de produção que ele<br />

critica s<strong>em</strong> cessar. A burguesia metamorfoseou-se durante esse século, de classe<br />

ascendente passa à classe <strong>do</strong>minante. Esta mesma burguesia apoderou-se <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Adam Smith, como também a burguesia ela própria, era, um século antes de Marx,<br />

bastante crítica e severa <strong>em</strong> relação ao Esta<strong>do</strong> - essa burguesia industrial sabia, e tinha<br />

uma consciência aguda dessa situação, que estava manten<strong>do</strong> ou sustentan<strong>do</strong> os<br />

servi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e as profissões improdutivas. É por isso que Smith considerava as<br />

despesas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e a manutenção <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res improdutivos como “falsos custos<br />

de produção” (pseu<strong>do</strong>custos de produção) que deveriam ser reduzi<strong>do</strong>s ao mínimo. Uma<br />

vez no poder, essa mesma burguesia recuperou e integrou todas essas profissões que<br />

tinha considera<strong>do</strong> anteriormente como improdutivas. Os economistas começaram, a<br />

partir desse momento, a glorificar e a justificar todas as esferas de atividades sociais -<br />

para to<strong>do</strong>s os críticos de Smith (Rossi, Garnier, Nassau Senior) era uma verdadeira<br />

injúria ser chama<strong>do</strong> de trabalha<strong>do</strong>r improdutivo [<strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> teria, portanto, razão<br />

na página 89 e não na página 76 quan<strong>do</strong> se refere ao desprezo de Smith pelas profissões<br />

improdutivas]. É aí que Smith encontra <strong>em</strong> Marx um brilhante advoga<strong>do</strong> - e por que<br />

motivo?<br />

Ao defender a causa da burguesia industrial, Smith defendia de certo mo<strong>do</strong><br />

também o povo (que estava uni<strong>do</strong> com essa burguesia contra a nobreza, o inimigo<br />

comum de ambos). Daí haver o que se poderia chamar um acor<strong>do</strong> entre Marx e Smith<br />

quanto a esta questão. Marx encontra-se, um século depois, numa situação mais ou<br />

menos análoga à de Smith <strong>em</strong> relação ao Esta<strong>do</strong> e aos trabalha<strong>do</strong>res improdutivos: a<br />

burguesia no poder vive então, como vivera anteriormente a nobreza, graças ao trabalho<br />

de outros. Mas, tratar-se-ia, por isso, <strong>do</strong> mesmo desprezo, e de um desprezo que Marx<br />

partilharia com a opinião pública moderna?<br />

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