A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...
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trabalho e obra” (HC, p. 76). É de fato típico de to<strong>do</strong> trabalho, diz ela, “nada deixar<br />
atrás de si: o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu esforço é consumi<strong>do</strong> quase tão depressa quanto o esforço<br />
é despendi<strong>do</strong>”. A única definição de Smith <strong>do</strong> trabalho, que <strong>Arendt</strong> reconhece aqui<br />
como justa, é a <strong>do</strong> trabalho improdutivo, tal como ele a formulou na sua segunda<br />
concepção, isto é, o trabalho <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mésticos, trabalho este que “não se fixa n<strong>em</strong><br />
se realiza <strong>em</strong> um objeto específico ou merca<strong>do</strong>ria vendável” e que perece no próprio<br />
instante <strong>em</strong> que é executa<strong>do</strong>, não deixan<strong>do</strong> atrás de si n<strong>em</strong> vestígio ou valor.<br />
Se voltarmos agora a nossa atenção para a página 94, <strong>Arendt</strong>, ao criticar Marx,<br />
menciona o desprezo com que ele trata as distinções entre trabalho produtivo e<br />
improdutivo de seus predecessores: “A razão pela qual os predecessores de Marx não<br />
puderam se esquivar dessas distinções, que essencialmente equival<strong>em</strong> [os grifos são<br />
nossos] à distinção mais fundamental entre obra e trabalho, não consistiu <strong>em</strong> que eles<br />
foss<strong>em</strong> menos “científicos”, e sim que partiram ainda da pr<strong>em</strong>issa da propriedade<br />
privada ou, pelo menos, da apropriação da riqueza nacional pelo indivíduo”. Para Marx,<br />
como to<strong>do</strong>s sab<strong>em</strong>, a propriedade privada é, na sua forma moderna, a expressão mais<br />
perfeita <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de produção e de apropriação funda<strong>do</strong> na exploração de uns pelos<br />
outros. Mas, já que <strong>Arendt</strong> nos diz agora (na página 94) que Marx desprezou ou tratou<br />
com desdém a distinção feita por seus predecessores (e, portanto, por Smith) entre<br />
trabalho produtivo e improdutivo –de fato, Marx criticou severamente a segunda<br />
concepção de Smith dessa distinção– por que então ter dito <strong>em</strong> primeiro lugar, na<br />
página 76, que “não foi por acaso que os <strong>do</strong>is grandes teóricos nesta área, Adam Smith e<br />
Karl Marx, fundaram nela [nesta distinção] toda a estrutura de suas <strong>do</strong>utrinas”?<br />
Será que tanto Smith quanto Marx, como o afirma <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, “estavam de<br />
acor<strong>do</strong> com a opinião pública moderna [os grifos são nossos] quan<strong>do</strong> menosprezaram o<br />
trabalho improdutivo, que para eles era parasítico, realmente uma espécie de perversão<br />
<strong>do</strong> trabalho, como se fosse indigno desse nome toda atividade que não enriquecesse o<br />
mun<strong>do</strong>” (HC, p. 76)?<br />
Mas, antes de explicitarmos a relação de Marx com Smith quanto a esta questão,<br />
convém ainda assinalar que mais adiante, nas páginas 89-90, <strong>Arendt</strong>, ao referir-se a<br />
Smith, diz que o desdém com que este trata o trabalho improdutivo, trabalho que “morre<br />
no próprio instante de sua produção”, e não deixa atrás de si n<strong>em</strong> vestígio ou valor<br />
[Smith engloba na categoria de trabalha<strong>do</strong>res improdutivos não apenas os cria<strong>do</strong>s<br />
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