11.04.2013 Views

A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

desagradável de tu<strong>do</strong> isto”, diz ela, é que o “triunfo que o mun<strong>do</strong> moderno 10 conseguiu<br />

sobre a necessidade se deve à <strong>em</strong>ancipação <strong>do</strong> trabalho, isto é, ao fato de que o animal<br />

laborans pôde ocupar o <strong>do</strong>mínio público; e, no entanto, enquanto o animal laborans<br />

continuar de posse dele, não poderá existir um <strong>do</strong>mínio verdadeiramente público, mas<br />

apenas atividades privadas expostas à luz <strong>do</strong> dia” (HC, p. 115; os grifos são nossos).<br />

Não é assim que Marx considera a época moderna. Em 1965, no seu Essai sur<br />

les libertés, Raymond Aron escreve:<br />

“No ponto de partida, Marx não quer voltar atrás no que diz respeito às<br />

conquistas da Revolução francesa, ele quer consumá-1as. D<strong>em</strong>ocracia,<br />

liberdade e igualdade, estes valores se impunham, com evidência, a ele. O<br />

que causa indignação a Marx, é que a d<strong>em</strong>ocracia seja exclusivamente<br />

política, que a igualdade não fosse além <strong>do</strong> boletim de voto, que a liberdade,<br />

proclamada pela Constituição, não impeça a sujeição <strong>do</strong> proletário ou as<br />

<strong>do</strong>ze horas de trabalho das mulheres e das crianças. (...) Se as liberdades<br />

políticas e pessoais foram nomeadas por ele de “formais”, não era porque<br />

ele as recusava, mas sim porque elas lhe pareciam desprezíveis<br />

enquanto as condições reais de existência impediss<strong>em</strong> a maioria <strong>do</strong>s<br />

homens de usufruir autenticamente esses direitos subjetivos. Criar uma<br />

sociedade na qual to<strong>do</strong>s os homens pudess<strong>em</strong>, durante toda a sua existência,<br />

realizar efetivamente o ideal d<strong>em</strong>ocrático, era essa, s<strong>em</strong> dúvida, a utopia <strong>em</strong><br />

direção à qual o pensamento <strong>do</strong> jov<strong>em</strong> Marx caminhava. (...) Não o<br />

esqueçamos: Marx s<strong>em</strong>pre reconheceu o risco de sujeição que a recusa de<br />

estabelecer uma discriminação entre a sociedade civil e o sociedade política<br />

continha”. 11<br />

Essa utopia <strong>em</strong> direção à qual caminhava o pensamento <strong>do</strong> jov<strong>em</strong> Marx não<br />

parece ser partilhada por <strong>Arendt</strong>.<br />

10. No seu Prólogo a The Human Condition, <strong>Arendt</strong> faz uma distinção entre a era moderna [modern age]<br />

e o mun<strong>do</strong> moderno [modern world]: “{A] era moderna não coincide com o mun<strong>do</strong> moderno.<br />

Cientificamente, a era moderna, que começou no século XVII, terminou no início <strong>do</strong> século XX;<br />

politicamente, o mun<strong>do</strong> moderno <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os hoje nasceu com as primeiras explosões atômicas.<br />

Não discuto este mun<strong>do</strong> moderno, que constitui o fun<strong>do</strong> [background] sobre o qual este livro foi<br />

escrito. Limito-me, por um la<strong>do</strong>, a uma análise daquelas capacidades humanas gerais que provêm da<br />

condição humana e que são permanentes, isto é, que não pod<strong>em</strong> ser irr<strong>em</strong>ediavelmente perdidas<br />

enquanto a própria condição humana não é mudada. O propósito da análise histórica, por outro la<strong>do</strong>, é o<br />

de retraçar até suas origens a alienação moderna <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> [modern world alienation], sua dupla fuga<br />

da Terra para o universo e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> para o Eu [into the self], de mo<strong>do</strong> a chegar a uma compreensão da<br />

natureza da sociedade tal como ela se desenvolvera e se apresentava no instante <strong>em</strong> que foi suplantada<br />

pelo advento de uma nova e ainda desconhecida era.” (HC, p. 6).<br />

11. R. Aron, Essai sur les libertés [1965], Coll. Pluriel, Paris, Calmann-Lévy, 1976 (edição revista e<br />

aumentada), pp. 42-44.<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!