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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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<strong>Arendt</strong>: <strong>em</strong>bora não seja possível “ignorar as provas fenomenais <strong>em</strong> seu favor”,<br />

historicamente, diz ela, “quase nada existe para corroborá-la, tanto na tradição política<br />

pré-moderna, quanto no vasto corpo das teorias modernas <strong>do</strong> trabalho” (HC, p. 72). E, é<br />

justamente a ausência desta distinção entre trabalho e obra, na obra de Marx<br />

(explicitar<strong>em</strong>os mais adiante a concepção marxiana de trabalho), que vai fornecer a<br />

<strong>Arendt</strong> argumentos para criticar mais particularmente Marx, mas também a era<br />

moderna.<br />

Há, observa <strong>Arendt</strong>, uma discrepância entre “a linguag<strong>em</strong> “objetiva”, orientada<br />

para o mun<strong>do</strong> [world-oriented], que falamos, e as teorias subjetivas (...) que usamos <strong>em</strong><br />

nossas tentativas de compreensão” (HC, p. 81). Muito mais <strong>do</strong> que a teoria, seriam a<br />

“linguag<strong>em</strong> e as experiências humanas fundamentais que ela recobre (...) que nos<br />

ensinam que as coisas deste mun<strong>do</strong>, entre as quais transcorre a vita activa, são de<br />

natureza muito diferente e são produzidas por atividades muito diferentes.” (HC, pp. 81-<br />

82; os grifos são nossos).<br />

Não vamos ler as primeiras páginas desta divisão dedicadas à Antigüidade (HC,<br />

pp.72-75); preferimos abordar logo a sua leitura de Smith e Marx.<br />

É surpreendente, diz ela, “que a era moderna –com a sua inversão de todas as<br />

tradições (...), com a sua glorificação <strong>do</strong> trabalho como fonte de to<strong>do</strong>s os valores e sua<br />

elevação <strong>do</strong> animal laborans à posição outrora ocupada pelo animal rationale– não<br />

tenha produzi<strong>do</strong> uma única teoria que distinguisse claramente entre o animal laborans e<br />

o homo faber, “o trabalho <strong>do</strong> nosso corpo e a obra de nossas mãos”” (HC, p. 75). O que<br />

é surpreendente é esta surpresa de <strong>Arendt</strong>. Não foi a distinção entre trabalho e obra que<br />

permitiu que o <strong>do</strong>mínio político fosse valoriza<strong>do</strong> na Antigüidade, mas sim, segun<strong>do</strong> a<br />

própria autora, a distinção entre o priva<strong>do</strong> e o público (HC, p. 75); fica, assim, difícil<br />

compreender por que motivo a indistinção entre trabalho e obra na era moderna estaria<br />

ligada para <strong>Arendt</strong> à perda <strong>do</strong> espaço público, espaço este que ela defende com tanta<br />

energia.<br />

Para <strong>Arendt</strong>, a não-separação entre o priva<strong>do</strong> e o público caracteriza a era<br />

moderna, e mais ainda, a socialização <strong>do</strong> priva<strong>do</strong> –o trabalho, por ex<strong>em</strong>plo, passou o ser<br />

uma categoria social– e a confusão entre o social e o político provocaram o<br />

desmoronamento da própria possibilidade de um mun<strong>do</strong> comum: “A verdade bastante<br />

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