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A Atividade Humana do Trabalho [Labor] em Hannah Arendt ...

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a orig<strong>em</strong> de algo tão permanente quanto a propriedade. Não é b<strong>em</strong> isso o que Locke<br />

afirma: o trabalho, de acor<strong>do</strong> com Locke, “proporciona o direito à propriedade s<strong>em</strong>pre<br />

que qualquer pessoa achou conveniente <strong>em</strong>pregá-lo sobre o que era comum” (Segun<strong>do</strong><br />

Trata<strong>do</strong> sobre o Governo, seção 45, p. 52); ou seja, Locke defende aqui a tese de que o<br />

trabalho é a orig<strong>em</strong> e o fundamento da propriedade privada. Quanto ao dinheiro, seu<br />

uso teria da<strong>do</strong> aos homens, afirma Locke, a oportunidade de continuar a ampliar suas<br />

posses (Segun<strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> sobre o Governo, seção 48, p. 53).<br />

Insistimos: não encontramos, <strong>em</strong> Locke, <strong>em</strong> todas estas seções <strong>do</strong> Capítulo V, <strong>do</strong><br />

Second Treatise of Civil Government, que tratam da propriedade, ou <strong>do</strong> caráter priva<strong>do</strong><br />

da apropriação, uma distinção essencial entre duas atividades, mas simplesmente uma<br />

distinção entre trabalho [labour] –uma atividade humana que proporciona o direito à<br />

propriedade privada– e terra [earth], que pertence <strong>em</strong> comum a to<strong>do</strong>s os homens, como<br />

também uma distinção entre coisas de curta duração (realmente úteis à vida <strong>do</strong> hom<strong>em</strong>,<br />

mas perecíveis) e objetos dura<strong>do</strong>uros como, por ex<strong>em</strong>plo, o ouro e a prata, que dão<br />

orig<strong>em</strong> ao uso <strong>do</strong> dinheiro.<br />

No fun<strong>do</strong>, o interesse que <strong>Arendt</strong> dedica a Locke está liga<strong>do</strong> não tanto à sua<br />

própria distinção entre trabalho e obra –uma distinção que não encontramos neste<br />

capítulo <strong>do</strong> Second Treatise of Civil Government– mas muito mais ao caráter priva<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> trabalho <strong>em</strong> Locke, e, conseqüent<strong>em</strong>ente, ao caráter priva<strong>do</strong> da propriedade que<br />

contrasta com o caráter social <strong>do</strong> trabalho para os modernos e, <strong>em</strong> particular, com a<br />

crítica de Marx à propriedade privada. Toda esta probl<strong>em</strong>ática será examinada mais<br />

detalhadamente ao analisarmos a quinta divisão, “O caráter priva<strong>do</strong> da propriedade e da<br />

riqueza”, deste terceiro capítulo.<br />

Para <strong>Arendt</strong>, a distinção entre trabalho e obra assinala uma diferença<br />

fundamental entre uma atividade que corresponderia ao processo <strong>do</strong> corpo humano, ou<br />

seja, uma atividade ligada à necessidade vital e à produção de bens de consumo –uma<br />

atividade caracterizada pela “natureza transitória das coisas produzidas <strong>em</strong> função da<br />

subsistência”– e uma outra atividade, de fabricação (fabricação de objetos de uso), uma<br />

atividade que “constitui o reino <strong>do</strong> durável”. 9 Esta distinção não é usual, reconhece<br />

9. Cf. P. Ricoeur, Prefácio à segunda edição de Condition de l’homme moderne, Paris, Calmann-Lévy,<br />

1983, p. XV.<br />

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