contos de fadas: a construção discursiva ea ... - ICHS/UFOP
contos de fadas: a construção discursiva ea ... - ICHS/UFOP
contos de fadas: a construção discursiva ea ... - ICHS/UFOP
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
elemento fundamental da fábula e a razão pela qual elas <strong>de</strong>vem ser feitas. Como veremos a<br />
seguir a moral do conto <strong>de</strong> Perrault nos revela a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> oculta do lobo:<br />
Percebemos aqui que as criancinhas,/Principalmente as menininhas/ Lindas,<br />
boas, engraçadinhas,/ Fazem mal <strong>de</strong> escutar todos que se acercam,/ (...) Se<br />
um lobo mau então as coma, e bem./Digo lobo, lobo em geral, /Pois há lobo<br />
que é cordial/ Mansinho, familiar e até civilizado/ Que, gentil, bem<br />
educado,/ Persegue donzelas mais puras (...) / Quem não sabe, infeliz, que<br />
esses lobos melosos, /Dos lobos todos são os bem mais perigosos?<br />
(PERRAULT, 2004, p. 75)<br />
Dessa forma, o verda<strong>de</strong>iro lobo é o homem civilizado, bajulador e sedutor. Para<br />
Marina Warner (1999), Perrault “vira a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> costumeira do lobo <strong>de</strong> cabeça para baixo e<br />
o situa próximo <strong>de</strong> si, em vez <strong>de</strong> distante e como o Outro.” (p. 215). A autora afirma que se<br />
não houvesse em suas transcrições a inserção da moral, e não soubessem da sua afinida<strong>de</strong><br />
com as précieuses, dificilmente os seus contemporâneos associariam o lobo a um homem<br />
refinado do século XVII. Bruno Bettelheim em A Psicanálise dos Contos <strong>de</strong> Fadas (1990)<br />
afirma que Perrault não <strong>de</strong>sejava apenas entreter seu público, mas apresentar uma lição <strong>de</strong><br />
moralida<strong>de</strong> específica. O psicanalista afirma ainda que a moral do escritor francês ocasiona a<br />
perda <strong>de</strong> significações possíveis, pois fica óbvio que o lobo não é um animal, mas uma<br />
metáfora. Portanto, a moralida<strong>de</strong> do conto <strong>de</strong> Perrault nos mostra como <strong>de</strong>vemos interpretar o<br />
conto. Chapeuzinho Vermelho é uma história que narra, antes <strong>de</strong> qualquer coisa, a travessia<br />
<strong>de</strong> uma criança à maiorida<strong>de</strong>, ou a perda da inocência <strong>de</strong> uma criança.<br />
O conto dos irmãos Grimm inicia-se <strong>de</strong> forma semelhante. Uma característica<br />
diferente se encontra na fala da mãe que adverte a menina para que não saia do caminho e<br />
nem se <strong>de</strong>more. “Quando a menina chegou à floresta, encontrou o lobo. Mas não sabia que ele<br />
era um animal malvado, por isso, não sentiu um pingo <strong>de</strong> medo.” (p. 285). Ela, então, conta<br />
ao lobo para on<strong>de</strong> vai e ele pensa: “Essa criaturinha será um bom petisco. Bem mais gostosa<br />
que a velha. Preciso ser esperto e abocanhar as duas” (p. 285). Persuadida pelo lobo a pegar<br />
flores para sua avó, Chapeuzinho se <strong>de</strong>mora pelo caminho e sai da trilha, <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cendo,<br />
assim, sua mãe. Imediatamente, o lobo vai à casa da avó e a <strong>de</strong>vora. Quando Chapeuzinho<br />
Vermelho chega à casa da avó, percebe algo estranho e fica apreensiva. Ao se aproximar da<br />
cama da avó a heroína percebe que a velha estava diferente.<br />
Em seguida, há o diálogo entre a menina e o lobo que nos dois <strong>contos</strong> em questão<br />
constituem o clímax. Após dizer: “Mas, vovó, que <strong>de</strong>ntes gran<strong>de</strong>s a senhora tem.” e o lobo<br />
respon<strong>de</strong>r: “É para comê-la melhor, minha querida”, a menina é <strong>de</strong>vorada. O final do conto,