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contos de fadas: a construção discursiva ea ... - ICHS/UFOP

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Ao chegar à casa da avó, o narrador afirma que “talvez [Chapeuzinho] estivesse um<br />

pouco <strong>de</strong>sapontada por ver apenas a avó sentada ao lado da lareira” (p. 210), mas o rapaz logo<br />

tira a colcha fora e salta para a porta, trancando-a. A menina não podia esten<strong>de</strong>r a mão para<br />

pegar a faca que estava no cesto, pois ele tinha os olhos fixos nela. A menina exclama: “Que<br />

olhos gran<strong>de</strong>s você tem! – São para te ver melhor!” (p. 210), e pergunta: “On<strong>de</strong> está minha<br />

avó?”, ao que o homem respon<strong>de</strong>: “Aqui não há mais ninguém, só nos dois, meu amor.” (p.<br />

211). Nisso, elevou-se um<br />

uivo <strong>de</strong> uma multidão <strong>de</strong> lobos; ela sabia que os piores lobos são peludos na<br />

parte <strong>de</strong> baixo e teve um arrepio apesar do xale encarnado, que ela<br />

aconchegou mais a si como se a pu<strong>de</strong>sse proteger, embora tão vermelho<br />

como o sangue que teria <strong>de</strong> <strong>de</strong>rramar. (CARTER, 1999, p. 211).<br />

A menina chega perto da janela para ver os lobos que estavam a uivar e fala: “Está tão<br />

frio, coitadinhos! – disse ela. – Não admira que uivem assim.” (p. 211). Nessa fala,<br />

percebemos que a protagonista não sente medo dos lobos, mas pena. Em seguida, ela tira o<br />

xale “da cor dos sacrifícios, da cor das menstruações, e, uma vez que o medo não a ajudava<br />

em nada, <strong>de</strong>ixou-o <strong>de</strong> lado” (p. 211), ou seja, ela, por um lado, <strong>de</strong>spiu-se do medo e, por<br />

outro, abandonou o receio <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r sua inocência, representada no xale, vestimenta que<br />

simbolizava a tradição cultural <strong>de</strong> sua época. Após a protagonista tirar sua roupa, ela vai ter-<br />

se com o rapaz, tira-lhe a blusa e afirma: “Que braços gran<strong>de</strong>s você tem!” e ele respon<strong>de</strong>:<br />

“São para abraçá-la melhor!” (p. 212). Como po<strong>de</strong>mos ver em seguida o diálogo entre<br />

Chapeuzinho e lobisomem continua:<br />

“(...) ela <strong>de</strong> livre vonta<strong>de</strong> lhe <strong>de</strong>u o beijo <strong>de</strong>vido.<br />

- Que <strong>de</strong>ntes gran<strong>de</strong> você tem!<br />

Ela viu-lhe a queixada cobri-se <strong>de</strong> baba (...) mas não vacilou nem quando<br />

ele disse:<br />

- São para te comer melhor!<br />

A menina <strong>de</strong>satou a rir, sabia que não era carne para ninguém comer. Riulhe<br />

em cheio na cara, tirou-lhe a camisa e atirou-a no fogo, na esteira <strong>de</strong><br />

fago da roupa que ela própria tinha <strong>de</strong>spido.”. (p. 212)<br />

A sensualida<strong>de</strong> que paira entre as personagens é construída através das falas dos<br />

diálogos dos <strong>contos</strong> <strong>de</strong> <strong>fadas</strong> tradicionais, mas que ao serem pronunciadas por estas<br />

personagens e nesse contexto, apresentam outro sentido. A menina, ao invés <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar-se ser<br />

<strong>de</strong>vorada pelo lobisomem, nesse conto, o seduz assumindo, assim, as iniciativas <strong>de</strong> sua<br />

iniciação sexual. Dessa forma, a protagonista se distancia das “heroínas inocentes

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