contos de fadas: a construção discursiva ea ... - ICHS/UFOP
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sua avó. A menina tem certeza que as “feras” não irão lhe fazer mal e, para se proteger, coloca<br />
uma faca no cesto. Como nos é <strong>de</strong>scrito, ela sempre fora amada <strong>de</strong>mais para sentir medo e a<br />
(...) tão bonita e caçula temporã, teve todos os mimos da mãe e da avó, que<br />
lhe fez o xale vermelho que hoje tem aspecto brilhante e ominoso <strong>de</strong> sangue<br />
na neve. Os seios começam a <strong>de</strong>spontar; o cabelo parece linho, tão louro<br />
que mal forma sombra na testa; as faces são <strong>de</strong> um escarlate e branco<br />
emblemáticos, e já lhe começaram as regras, esse relógio <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la que<br />
dará sinal uma vez por mês. (CARTER, 1999, p. 205)<br />
Enquanto nos <strong>contos</strong> dos escritores <strong>de</strong> <strong>fadas</strong> tradicionais a Chapeuzinho Vermelho é<br />
<strong>de</strong>scrita categoricamente como bela, sem haver nenhuma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> sua beleza, no conto da<br />
escritora britânica a beleza da heroína nos é mostrada, com os seus <strong>de</strong>talhes mais íntimos.<br />
Além disso, po<strong>de</strong>mos verificar como a protagonista <strong>de</strong> Carter é ousada, pois mesmo sabendo<br />
os perigos que a floresta representa, ela insiste em levar a cesta para avó.<br />
A protagonista fica impressionada com um jovem que encontra na floresta, pois<br />
“nunca tinha visto um rapaz tão fino, não entre os rústicos palhaços da al<strong>de</strong>ia natal” (p. 206).<br />
Ele, que tinha no bolso uma bússola, garante a heroína que chegaria à casa da avó antes <strong>de</strong>la.<br />
A garota, que sabia que se saísse do caminho ou se per<strong>de</strong>ria imediatamente ou seria atacada<br />
por lobos, pergunta ao rapaz se ele não tem medo <strong>de</strong>sses animais. Ele, então, dá uma<br />
palmadinha no cano da espingarda que carrega e sorri. Os dois <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m fazer disso uma<br />
aposta e como prêmio o jovem pe<strong>de</strong> à garota um beijo. Ele vai pelo matagal e leva consigo o<br />
cesto da menina, mas ela que se esquecera <strong>de</strong> ter medo dos animais, “queria <strong>de</strong>morar no<br />
caminho para ter certeza <strong>de</strong> que o lindo rapaz ganharia a aposta” (p. 207).<br />
Em seguida, a avó da jovem nos é <strong>de</strong>scrita como<br />
“idosa e frágil, [em que] três quartos da vovozinha estão dominados pelo<br />
falecimento que a dor nos ossos lhe promete, e ela está quase pronta para<br />
ren<strong>de</strong>r-se inteiramente.” (p. 208)<br />
Bateram na porta. Fingindo ser a neta da velha, o rapaz entra na casa; ao ver o cesto <strong>de</strong> sua<br />
neta, a avó pergunta: “Oh, meu Deus, o que você fez a ela?” (p. 209). O jovem então se <strong>de</strong>spe<br />
da roupa humana e “A última coisa que a senhora <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> viu neste mundo foi um jovem,<br />
olhos como cinza, nu como veio ao mundo, aproximar-se da cama” (p. 209). Ele, após acabar<br />
com ela, lambeu a beiçada e vestiu-se rapidamente, tal qual estava a velha quando ele entrou.<br />
Por conseguinte, ele queima o cabelo da velha que não se podia comer, guarda os ossos numa<br />
caixa e, cuidadosamente, troca os lençóis ensanguentados por novos.