11.04.2013 Views

Consciência fonológica e aprendizagem da leitura: Mais ... - SciELO

Consciência fonológica e aprendizagem da leitura: Mais ... - SciELO

Consciência fonológica e aprendizagem da leitura: Mais ... - SciELO

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>leitura</strong>? Ou, pelo contrário, será que o desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> consciência <strong>fonológica</strong> (nas suas<br />

várias dimensões, incluindo não só a consciência<br />

dos fonemas, mas também <strong>da</strong>s sílabas e <strong>da</strong>s<br />

uni<strong>da</strong>des intra-silábicas), constitui uma base<br />

fun<strong>da</strong>mental para que as crianças apren<strong>da</strong>m a ler.<br />

Ou, por outro lado, será que esta questão –<br />

consciência <strong>fonológica</strong> causa ou consequência<br />

<strong>da</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> – é uma falsa dicotomia?<br />

Vamos analisar detalha<strong>da</strong>mente a fun<strong>da</strong>mentação<br />

destas duas posições.<br />

1.1. A consciência <strong>fonológica</strong> enquanto efeito<br />

<strong>da</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong><br />

Esta posição é defendi<strong>da</strong> pelo chamado grupo<br />

de Bruxelas (Content, Morais, Alegria et al.,<br />

1987), que assume que a capaci<strong>da</strong>de de explicitação<br />

consciente <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> fala decorre<br />

geralmente <strong>da</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>. Estes<br />

autores consideram que a capaci<strong>da</strong>de para pensar<br />

e li<strong>da</strong>r com as uni<strong>da</strong>des fonéticas não se desenvolve<br />

espontaneamente, mas requer algum tipo<br />

de treino que induza os sujeitos a centrarem-se<br />

nas uni<strong>da</strong>des segmentais <strong>da</strong> fala. Este tipo de<br />

treino, acontece para a maior parte <strong>da</strong>s pessoas,<br />

aquando <strong>da</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> e escrita<br />

num sistema de escrita alfabético. Estes autores<br />

não excluem, no entanto, a hipótese <strong>da</strong> consciência<br />

segmental se desenvolver, através de programas<br />

de treino específico que inci<strong>da</strong>m sobre pistas<br />

articulatórias, mas consideram que o principal<br />

factor de desenvolvimento <strong>da</strong> consciência fonética<br />

é para a maior parte <strong>da</strong>s pessoas a <strong>aprendizagem</strong><br />

do código alfabético.<br />

Este ponto de vista é confirmado de algum<br />

modo quando se comparam os desempenhos em<br />

tarefas de natureza fonética de sujeitos analfabetos<br />

e sujeitos alfabetizados; de sujeitos alfabetizados<br />

num sistema de escrita ideográfico e sujeitos<br />

alfabetizados num código alfabético ou ain<strong>da</strong><br />

quando se comparam as performances <strong>da</strong>s crianças<br />

neste tipo de tarefas antes e após a <strong>aprendizagem</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>leitura</strong>. Analisemos alguns destes estudos.<br />

Dados relativos a analfabetos<br />

Em 1979, Morais, Alegria, Cary e Bertelson<br />

efectuaram um estudo onde foram comparar o<br />

desempenho de 30 adultos analfabetos com o de-<br />

284<br />

sempenho de 30 adultos alfabetizados em adultos<br />

em tarefas de natureza <strong>fonológica</strong>. As tarefas<br />

envolviam a adição e subtracção de fonemas de<br />

palavras podendo originar palavras ou não-palavras.<br />

As diferenças regista<strong>da</strong>s nas taxas de sucesso<br />

entre os dois grupos (19% para o 1.º grupo<br />

e 72% para o 2.º grupo), sugerem que a experiência<br />

<strong>da</strong> <strong>aprendizagem</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> parece fun<strong>da</strong>mental<br />

para a consciência fonética.<br />

Esta perspectiva é confirma<strong>da</strong> num outro estudo<br />

(Morais, Cluytens, Alegria & Content, citado<br />

por Goswami & Bryant, 1990), onde os autores<br />

foram comparar novamente o desempenho de<br />

um grupo de sujeitos analfabetos e um grupo de<br />

sujeitos alfabetizados em adultos em tarefas <strong>fonológica</strong>s<br />

que implicavam a manipulação de fonemas<br />

e sílabas.<br />

A análise do desempenho dos dois grupos nas<br />

provas de supressão do fonema inicial de uma<br />

não-palavra e supressão de uma sílaba inicial<br />

igualmente de uma não-palavra, permite verificar<br />

que os analfabetos têm sempre piores resultados,<br />

mas essa desvantagem foi particularmente<br />

acentua<strong>da</strong> na prova do fonema.<br />

Também numa tarefa que envolvia a selecção<br />

de duas palavras que rimavam num grupo de<br />

cinco, os sujeitos analfabetos tiveram resultados<br />

20% piores do que o outro grupo.<br />

Estes <strong>da</strong>dos sugerem que os analfabetos são<br />

capazes de ter algum sucesso em tarefas que envolvem<br />

uni<strong>da</strong>des maiores do que os fonemas,<br />

mas têm resultados muito maus em tarefas de<br />

manipulação fonética. Consequentemente, parece<br />

lógico concluir de que a <strong>aprendizagem</strong> do código<br />

alfabético tem uma influência determinante<br />

para o desenvolvimento <strong>da</strong> consciência fonética.<br />

Dados relativos a grupos de sujeitos ensinados<br />

em escritas ideográficas<br />

Os resultados obtidos nos estudos com analfabetos<br />

parecem ser confirmados num estudo de<br />

Read, Zhang, Nie & Ding (1986, citado por<br />

Gowami et al., 1990). Estes autores foram comparar<br />

os resultados em provas de adição e subtracção<br />

de fonemas de palavras de dois grupos<br />

de sujeitos chineses. Os sujeitos do primeiro grupo<br />

conheciam apenas a escrita ideográfica tradicional<br />

chinesa mas os sujeitos do segundo grupo<br />

sabiam também ler num sistema de escrita alfabética<br />

(o pinyin). A taxa de sucesso dos sujeitos<br />

do primeiro grupo foi de 21%, significativa-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!