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Degustação do Livro.

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Malabares I<br />

Como fogos de artifício<br />

com brilho de luzes incomparáveis<br />

lancei-me afoita pela vida<br />

sedenta <strong>do</strong> novo<br />

e das emoções primárias ...<br />

Sutis foram as entrelinhas<br />

violentas as descobertas<br />

sublimes foram as preces.<br />

No extremo das escolhas<br />

as opções foram uma-a-uma<br />

refletidas num grande espelho.<br />

Nas mãos a chama eterna <strong>do</strong>s sonhos<br />

que a gente sonha acorda<strong>do</strong> na noite que amanhece<br />

e no dia que anoitece<br />

e que se fazem reais<br />

na dança de malabares.<br />

15<br />

Malabares


Noemia Fonseca<br />

Malabares II<br />

Qual um menino de Rua que se lança à frente <strong>do</strong>s carros<br />

e se equilibra em cima de pernas de pau<br />

lançamos aos ares nossos sonhos<br />

num jogo de malabares.<br />

tropeçamos nas nossas pernas pequenas<br />

que não alcançam os tempos de paz<br />

cruzamos as mesmas avenidas<br />

quan<strong>do</strong> podíamos dialogar.<br />

No alto abraçamos respostas<br />

de perguntas que nem ousamos fazer.<br />

No chão, sentimos o peso das dúvidas<br />

que vivemos sem resolver...<br />

16


Mitos<br />

Amor sagra<strong>do</strong><br />

Vida profana<br />

Mito desmenti<strong>do</strong> da morte<br />

Pinceladas de sorrisos<br />

Lágrimas molham<br />

Ao som <strong>do</strong>s viadutos<br />

Povoa<strong>do</strong>s por pixotes<br />

Eterna só a dúvida da paz<br />

Extinção da espécie<br />

Risco de começar o novo<br />

Sem lembranças<br />

Missão difícil<br />

Não impossível<br />

Resgatar a esperança<br />

E viver de novo<br />

A ambição <strong>do</strong> homem<br />

Razão em <strong>do</strong>minar<br />

Dominar pela razão<br />

Deus há que mudar esse destino<br />

Sob o signo das guerras<br />

Armadas pelos poderosos<br />

Felicidade no meio da desgraça<br />

Ainda há quem tenha...<br />

17<br />

Malabares


Noemia Fonseca<br />

Gênesis<br />

A poesia pretende arrebatar-me<br />

Em sua construção circense...<br />

Mágica...Na corda bamba, me debato<br />

Assustada entre as verdades<br />

E as mentiras.<br />

Não há defesa possível.<br />

Quan<strong>do</strong> abristes este livro<br />

A rede de proteção foi tirada.<br />

Prá mim e prá você...<br />

..........................................................................<br />

Pois sim, poeta és tu!<br />

Tu que me devoras.<br />

Sou teu alimento agora.<br />

Me persegue a tua fome e eu não existo<br />

a não ser naquilo que como imaginas, exponho.<br />

Doce engano. Tu<strong>do</strong> existe<br />

por que agora estou na tua imaginação<br />

e essa vontade saiu de ti, fruto de um parto sem gestação.<br />

Essa vida te devo.<br />

18


Registro<br />

... quan<strong>do</strong> lancei sobre o papel<br />

estas palavras pareciam somente<br />

o meu sentimento exposto<br />

hoje são estilhaços das <strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s amores<br />

das impressões e <strong>do</strong> drama<br />

de muitos outros, por isso não existe ponto<br />

nem vírgula que possa refrear<br />

um torpor que incandesce<br />

esse próximo minuto<br />

...<br />

onde a vida existe na leitura<br />

que teus olhos experimentam<br />

e mesmo quan<strong>do</strong> estiverem gélidas as minhas mãos<br />

e nada existir da matéria que sou<br />

um sentimento pulsante há de se encontrar<br />

cúmplice destas palavras<br />

aparentemente insanas e tresloucadas<br />

aquiescen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong><br />

pois no cosmos to<strong>do</strong>s somos um<br />

e vivemos “uno” à divina luz<br />

que nos criou<br />

assim:<br />

sem começo e sem fim...<br />

19<br />

Malabares


Noemia Fonseca<br />

Para não só falar de flores, vou...<br />

falar de um funeral de amores<br />

“Copian<strong>do</strong> malemá Saramago”<br />

A pequena multidão se ajuntava em procissão As vestes negras<br />

escuras faziam sombra no dia de sol Mas a alegria estava de luto<br />

E as palavras que podiam dizer tu<strong>do</strong> estavam guardadas no porão<br />

Somente algumas meio monossilábicas estavam à disposição...<br />

Que dó Que dó Era o refrão Bem que eu gostava desse jeito de<br />

iluminar a vida Bem que eu tinha uma viagem escondida em cada<br />

livro que lia... Bem que eu tinha guarda<strong>do</strong> um poema que<br />

registrava a minha emoção Bem que eu tinha esperança de ver a<br />

literatura na flor da mocidade cantada em prosa e versos na lira<br />

de um cantor Na lida de um escritor Bem que eu gostaria de não<br />

estar nesse funeral onde a leitura está guardada no caixão <strong>Livro</strong>s<br />

e livros velhos e novos, obsoletos, neófitos Relega<strong>do</strong>s a serem o<br />

pó da terra quan<strong>do</strong> deveriam ser o sal ou apenas o pão e o mel o<br />

registro <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal Embalsamadas... Suas páginas<br />

amarelecidas, suas letras quase apagadas A capa desmanchan<strong>do</strong><br />

sem o viço <strong>do</strong> seu nascimento Aquelas linhas sem destino quase<br />

perdidas.............No meio tantas páginas rasgadas, arrancadas <strong>do</strong><br />

seio de sua família de... cartas poesias contos ensaios crônicas<br />

artigos... Estavam to<strong>do</strong>s na vala comum <strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>s da<br />

humanidade Um amontoa<strong>do</strong> de ossos que perderam a identidade<br />

Ah! Os livros que li e os que não pude ler... estão mortos e serão<br />

20


21<br />

Malabares<br />

sepulta<strong>do</strong>s ante o choro das carpideiras ao som das ladainhas<br />

funéreas Ah! Os livros que a criança não leu Que a professora<br />

não indicou Que o pai não pôde comprar... Ah! Os livros que<br />

não foram realiza<strong>do</strong>s Que o autor não conseguiu publicar Ah!<br />

Os livros que morreram nas estantes das bibliotecas<br />

esqueci<strong>do</strong>s...Ah! As obras que não puderam ser registradas Nem<br />

em livros nem em cd’s nem pela internet com certeza vagueiam<br />

nas mentes Pululam nos corações ardentes à espera de um sopro<br />

de vida Mas... de repente... um movimento estremece o caixão<br />

que desfila etéreo pelas ruas da metrópole e se assustam os<br />

incautos e os medrosos temen<strong>do</strong> estarem as almas de tantas obras<br />

ali tentan<strong>do</strong> se manifestar Fogem E o caixão estanca mesmo ante<br />

a determinação de seguirem seus carrega<strong>do</strong>res até o sepulcro<br />

derradeiro Mais susto e até correria O caixão se nega a cumprir o<br />

seu destino... e se abre em solavancos eis que o morto inda<br />

respira...

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