Versão eletrônica - Furb
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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE<br />
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM<br />
GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM<br />
VIVÊNCIA DOS PAIS COM FILHOS PREMATUROS INTERNADOS EM UMA<br />
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL<br />
Blumenau<br />
2008<br />
Luciéle N. Weiduschadt<br />
Luísa H. Torres
LUCIÉLE N. WEIDUSCHADT<br />
LUÍSA H. TORRES<br />
VIVÊNCIA DOS PAIS COM FILHOS PREMATUROS INTERNADOS EM UMA<br />
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL<br />
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como<br />
requisito para a conclusão do curso de Graduação<br />
em Enfermagem, Departamento de Enfermagem do<br />
Centro de Ciências da Saúde da Universidade<br />
Regional de Blumenau para obtenção do título de<br />
enfermeira.<br />
Orientadora: Carmen Liliam Brum Marques<br />
Baptista<br />
Blumenau<br />
2008
Dedicamos esta pesquisa primeiramente a Deus que<br />
nos iluminou e nos deu forças para a concretização<br />
do mesmo. A todas as famílias que participaram<br />
desta pesquisa, bem como a instituição que permitiu<br />
a realização desse estudo em suas dependências.<br />
Incluímos, a nós nesta dedicatória pela troca de<br />
experiência, com respeito e compreensão durante<br />
este percurso. Em especial dedicamos à professora<br />
Carmen Liliam que orientou-nos durante todo o<br />
processo de realização da pesquisa.
Nossos agradecimentos,<br />
AGRADECIMENTOS<br />
A Deus, pelo conhecimento adquirido através da sua mão sob aqueles que tiveram<br />
paciência e sabedoria para guiar-nos nessa etapa de nossa vida;<br />
Aos nossos pais que nos deram a vida, em nossa caminhada ensinaram-nos,<br />
educaram-nos e acima de tudo nos amaram, em especial agradecemos pela paciência e<br />
compreensão nesse momento de nossas vidas;<br />
Aos mestres, que nessa caminhada acadêmica ensinaram o que é ser enfermeira, e<br />
despertou um amor ainda maior pela Enfermagem. Em especial a professora Carmen Liliam,<br />
nossa orientadora, que com sua sabedoria conduziu nossos passos durante o estudo;<br />
Aos pais participantes dessa pesquisa, que dedicaram um tempo da sua permanência<br />
ao lado de seu filho, para participação em nossa pesquisa;<br />
A equipe da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal que acolheu-nos e colaborou<br />
com a pesquisa, possibilitando o desenvolvimento do trabalho;<br />
A professora Margit, que além de ensinar, ouviu-nos, ofereceu seu ombro amigo,<br />
suportou as choradeiras, nos aconselhando e orientando;<br />
As nossas amigas, Andréa, Fernanda e Solange, companheiras de quatro anos de luta,<br />
dedicação e muito estudo, ou seja, quase uma vida, pois dividimos e compartilhamos<br />
momentos felizes e tristes, para assim juntas conseguirmos, em fim chegar ao topo mais alto<br />
da nossa vida acadêmica, a conclusão do curso.<br />
Agradecimentos da Luciéle,<br />
A minha família, que soube ser paciente, amiga e companheira, em especial a minha<br />
mãe que acompanhou todo o processo de desenvolvimento do estudo;<br />
As amigas de trabalho, que escutaram e apoiaram, e estiveram presentes nas horas<br />
que mais precisei.<br />
Agradecimentos da Luísa,<br />
A minha família, que acompanhou o desenvolvimento da pesquisa, indiretamente,<br />
porém, presente nos momentos de cansaço, estresse, dando força para chegar ao fim;<br />
Ao meu noivo Jefferson, que em muitas vezes foi um consultor e quase um<br />
orientador, me auxiliando a esclarecer as idéias, que são difíceis de passar para o papel.
“Tu “Tu te te tornas tornas eternamente eternamente eternamente responsável responsável pelo pelo que que que cativas cativa<br />
s [...]<br />
Cada Cada um um que que passa passa em em nossa nossa vida vida passa passa sozinho, sozinho, pois pois cada cada<br />
cada<br />
pessoa pessoa é é única, única, e e nenhuma nenhuma substitui substitui outra. outra. Cada Cada um um que<br />
que<br />
passa passa em em nossa nossa vida vida passa passa sozinho, sozinho, mas mas mas não não vai vai só, só, nem nem nos<br />
nos<br />
deixa deixa só. só. Leva Leva um um pouco pouco de de nós nós mesmos, mesmos, deixa deixa um um pouco pouco de de si<br />
si<br />
mesmo. mesmo. Há Há os os que que levam muito; mas não há os os que não levam<br />
levam<br />
nada. nada. Há Há os os que que deixam deixam muito; muito; mas mas não não há há os os que que não não deixam<br />
deixam<br />
nada. nada. nada. EEsta<br />
E<br />
sta é é a a maior maior responsabilidade responsabilidade de de nossa nossa vida vida e e a a prova<br />
prova<br />
evidente evidente que que duas duas almas almas almas não não se se encontram encontram encontram ao ao acaso”. acaso”.<br />
acaso”.<br />
Saint Saint-Exupéry<br />
Saint Saint Exupéry
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />
UTIN – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal<br />
UTI – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal<br />
RN – Recém Nascido<br />
IG – Idade Gestacional<br />
RNPT – Recém Nascido Pré-termo ou Recém Nascido Prematuro<br />
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para Infância<br />
DUM – Data da Última Menstruação<br />
SUS – Sistema Único de Saúde
RESUMO<br />
A história dos recém-nascidos era contada diferente há poucas décadas atrás, isso devido o<br />
desconhecimento sobre esta população, resultando na mortalidade antes mesmo de completar<br />
um ano de idade. O interesse por esta área aumentou, evoluindo o atendimento aos recém-<br />
nascidos, através da elaboração das unidades de terapia intensivas neonatais (UTIN) e a<br />
introdução de tecnologias e recursos terapêuticos favorecendo a sobrevivência do neonato.<br />
Culturalmente as famílias são responsáveis pelo cuidado de seus entes adoecidos, porém<br />
durante a internação em uma unidade de terapia intensiva (UTI), os cuidados são transferidos<br />
para os profissionais, e a família tende a se afastar, devido às normas e rotinas das unidades<br />
intensivas. Todos os benefícios relacionados à evolução no tratamento dos recém-nascidos<br />
prematuros (RNPT) apresentam fatores negativos, causando o distanciamento dos pais aos<br />
bebês pelo medo de um ambiente desconhecido repleto de equipamentos envolta do recém-<br />
nascido (RN). Outros fatores estão ligados às questões emocionais, ao medo da perda, a<br />
ansiedade quanto a sua sobrevivência e principalmente para a mãe que se culpa questionando-<br />
se, o que poderia ter feito de errado que causou sofrimento ao seu filho. Estes fatores são<br />
pontos cruciais que dificultam a formação do vínculo pais-filho. Esta pesquisa tem o intuito,<br />
identificar os sentimentos vivenciados pelos pais com filhos prematuros internados em uma<br />
UTIN, para que a partir desta compreensão possamos favorecer uma melhor assistência de<br />
enfermagem as famílias e através dela proporcionar a recuperação do RNPT. Do ponto de<br />
vista metodológico, o presente estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva-<br />
exploratória de caráter qualitativo. O estudo foi realizado uma instituição hospitalar de médio<br />
porte localizada na região do Vale do Itajaí. Dentre a sua prestação de serviços inclui-se a<br />
assistência intensiva neonatal e pediátrica. Os sujeitos da pesquisa foram pais com filhos<br />
prematuros internados na UTIN podendo ser o casal ou então individual (pai ou mãe). Os<br />
dados foram coletados nos meses de julho e agosto de 2008, totalizando em seis entrevistas.<br />
Os dados foram transcritos e analisados, confrontando com os objetivos da pesquisa, dando<br />
origem a três categorias: descobrindo a gravidez, vivenciando o filho na UTIN e percebendo o<br />
cuidado da equipe de enfermagem. Os pais diante de uma criança tão frágil, não reconhecem<br />
o seu importante papel na recuperação do filho, isso ocorre devido a gama de sentimentos que<br />
vivenciam, cabe a enfermagem proporcionar o reconhecimento deles como pais responsáveis,<br />
assumindo e se preparando para a realização dos cuidados a esta criança.<br />
Palavras chaves: Prematuro; Família; Unidades de Terapia Intensiva Neonatal.
ABSTRACT<br />
The history of the just-been born ones was counted different behind has few decades, the this<br />
had unfamiliarity on this population, resulting in mortality before exactly to complete one<br />
year of age. The interest for this area increased, evolving the attendance to the just-been born<br />
ones, through the elaboration of the neonates intensive units of therapy (UTIN) and the<br />
therapeutically introduction of technologies and resources favoring the survival of the<br />
neonate. Culturally the families are responsible for the care of its avocados beings, however<br />
during the internment in a intensive units of therapy (UTI) the cares are transferred to the<br />
professionals, and the family tends if to move away, due to the norms and routines of the<br />
intensive units. All the benefits related to the evolution in the treatment of the premature just-<br />
been (RNPT) born ones present negative factors, causing the distance of the parents to the<br />
babies for the fear of an unknown environment replete of equipment enfold of the just-been<br />
(RN) born one. Other factors are on to the emotional questions, to the fear of the loss, the<br />
anxiety how much its survival and mainly for the mother who if guilt questioning itself what<br />
it could have done of wrong that caused suffering to its son. These factors are crucial points<br />
that make it difficult the formation of the bond father-son. This research has intention to<br />
identify the feelings lived deeply for the parents with interned premature children in a UTIN,<br />
so that from this understanding let us can favor one better assistance of nursing the families<br />
and through it to provide the recovery of the RNPT born one. Of the methodological point of<br />
view, the present study it was characterized as a descriptive-exploratory research of<br />
qualitative character. The study a hospital institution of average transport located in the region<br />
of the Vale do Itajaí was carried through. Amongst its rendering of services it is included<br />
neonatal and pediatric intensive assistance. The citizens of the research had been parents with<br />
premature children interned in the UTIN being able to be the individual couple or then (father<br />
or mother). The data had been collected in the months of July and August of 2008, totalizing<br />
in six interviews. The data had been transcribed and analyzed collating with the objectives of<br />
the research, giving origin the three categories: discovering the pregnancy, living deeply the<br />
son in the unit of UTIN and perceiving the care of the nursing team. The parents ahead of a so<br />
fragile child, do not recognize its important paper in the recovery of the son, this occurs due<br />
the gamma of feelings that they live deeply and fits the nursing to provide the recognition of<br />
them as responsible parents, assuming and if preparing for the accomplishment of the cares<br />
this child.<br />
Words keys: Premature; Family; Units of Intensive Therapy Neonatal.
SUMÁRIO<br />
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11<br />
2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 14<br />
2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 14<br />
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................. 14<br />
3 INSTRUMENTALIZANDO A PESQUISA .......................................................... 15<br />
3.1 FAMÍLIAS .............................................................................................................. 15<br />
3.1.1 Contextualizando o tema família ......................................................................... 16<br />
3.1.2 Estruturas familiares ............................................................................................ 17<br />
3.1.3 Famílias e filhos ................................................................................................... 18<br />
3.2 A GESTAÇÃO ....................................................................................................... 19<br />
3.2.1 Classificando do RNPT ............................ ........................................................... 20<br />
3.2.2 Aspectos epidemiológicos do RNPT ............................ ...................................... 21<br />
3.3 CONHECENDO A UTI ................................................ ......................................... 23<br />
3.3.1 Retrospectiva: origem da neonatologia e das unidades de terapia intensiva<br />
neonatais ........................................................................................................................<br />
3.3.2 O ambiente físico ................................................................................................. 24<br />
3.4 VÍNCULO MÃE-FILHO: O APEGO .................................................................... 26<br />
3.5 OS PAIS NA UNIDADE DE TERPIA INTENSIVA NEONATAL: SEUS<br />
SENTIMENTOS EM RELAÇÃO AO FILHO ............................................................<br />
3.6 O MÉTODO MÃE-CANGURU ............................................................................. 32<br />
3.7 O TRABALHO DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR .......................................... 34<br />
23<br />
29
4 TRAGETÓRIA METODOLÓGICA ..................................................................... 36<br />
4.1 TIPO DE ESTUDO ................................................................................................. 36<br />
4.2 LOCAL DO ESTUDO ............................................................................................ 37<br />
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA .................................................................................... 37<br />
4.4 COLETA DE DADOS ............................................................................................ 38<br />
4.5 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................ 38<br />
4.6 ASPECTOS ÉTICOS .............................................................................................. 39<br />
5 DESVELANDO A VIVÊNCIA DOS PAIS ........................................................... 40<br />
5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS ................................................................ 40<br />
5.2 CLASSIFICANDO AS CATEGORIAS ....................................................... 41<br />
5.3 DESCOBRINDO A GRAVIDEZ ........................................................................... 43<br />
5.4 VIVENCIANDO O FILHO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA<br />
NEONTAL ....................................................................................................................<br />
5.5 PERCEBENDO O CUIDADO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM ...................... 55<br />
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 60<br />
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65<br />
APÊNDICE A – INSTRUMENTO PARA ENTREVISTA DA COLETA DE<br />
DADOS ...........................................................................................<br />
ANEXO A – MÉTODO CAPURRO PARA A AVALIAÇÃO DA IDADE<br />
GESTACIONAL DO RN ................................................................<br />
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..... 75<br />
ANEXO C – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA ........................................ 78<br />
47<br />
72<br />
73
1 INTRODUÇÃO<br />
Há algumas décadas a história dos recém-nascidos prematuros (RNPT) era contada de<br />
forma diferente do que é visto hoje nas instituições hospitalares. Anteriormente, a área de<br />
atendimento aos recém-nascidos (RN) era pouco conhecida, o que justificava o grande<br />
número de mortalidade de crianças antes de completar um mês de idade, sendo que estes<br />
óbitos aconteciam em sua maioria logo após o seu nascimento (AVERY et al, 1999).<br />
Avery et al (1999) explica que constante óbito dos RN despertou o interesse de alguns<br />
profissionais, que a partir de então, mudando o curso da historia. Estudos possibilitaram o<br />
conhecimento acerca da fisiologia dos RN e a idealização de um ambiente propício para seu<br />
atendimento, que hoje chamamos de unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN).<br />
A evolução no atendimento aos recém-nascidos possibilitou a introdução de inúmeras<br />
tecnologias e recursos terapêuticos que favorecem a sobrevida dos neonatos. Assim como, a<br />
prevenção das doenças com o acompanhamento no pré-natal (REICHERT; COSTA, 2001).<br />
Hoje, os índices de óbitos neonatais, segundo dados do UNICEF (2006) têm decaído a<br />
cada ano, porém ainda é alto o número de partos prematuros no Brasil, relacionados,<br />
principalmente, às baixas condições sócio-econômicas da população.<br />
A evolução tecnológica apresenta um lado negativo, que vem causando, junto com<br />
outros fatores, também importantes, o distanciamento dos pais de seus bebês, pelo medo<br />
relacionado ao ambiente físico onde consta grande número de equipamentos ao redor do<br />
neonato (GAÍVA; SANTOS; GOMES, 2005).<br />
Outros fatores que contribuem para tal distanciamento são as emoções que<br />
influenciam nas atitudes dos pais, principalmente, da mãe, como o sentimento de culpa e<br />
questionamentos quanto ao ter ou não ter feito algo que provocou o nascimento prematuro, ou<br />
a ansiedade quanto ao futuro do bebê fragilizado internado em uma UTIN e também quanto à<br />
visualização de filho imaginado de forma física completamente diferente (REICHERT;<br />
COSTA, 2001; SCOCHI, 2003).<br />
Entende-se que desde os primórdios a família é responsável por cuidar de seus entes<br />
adoecidos, e quando internados, principalmente em uma unidade de terapia intensiva (UTI),<br />
os cuidados são transferidos a outras pessoas, uma equipe composta por diversos<br />
profissionais. O que influência ainda mais no distanciamento dos pais de seus filhos<br />
(ALTHOFF; ELSEN; NITSCHKE, 2004; MORAES; CABRAL, 2004).<br />
11
A separação do bebê de pais logo após o nascimento devido uma patologia, gera<br />
reações diferentes e imprevisíveis, especialmente quando o bebê é internado em uma<br />
UTIN. Tal experiência representa aos pais um momento conflituoso em suas vidas,<br />
gerando alterações no seu cotidiano, trazendo sentimentos de angustias, dúvidas,<br />
medo do prognóstico e dificuldade na aceitação da separação e condição do filho<br />
(REICHERT; LINS; COLLET, 2007, p.206).<br />
Os sentimentos amorosos e únicos dos pais pelos seus bebês iniciam ou aumentam<br />
depois que eles puderam ter um momento tranqüilo e privado com o RN (ALENCAR;<br />
ROLIM, 2006).<br />
Rico (2001 apud SOUZA 2005) complementa que a formação do vínculo não é<br />
automática e imediata, pelo contrário, é gradativa e, portanto, necessita de tempo,<br />
compreensão e amor para que possa existir e funcionar adequadamente.<br />
Quando o vinculo se inicia intra-útero e é rompido com um parto prematuro, os pais,<br />
após o nascimento deste, assumem um comportamento de choque e torpor. Eles<br />
experimentam sensações de confusão e abandono, podendo comportar-se de modo irracional,<br />
chorar sem controle ou, até mesmo, tentar fugir. Os mesmos terão dificuldade em assimilar<br />
informações e tomar decisões (SIEFERT, 1994 apud MITTAG; WALL, 2004).<br />
Scochi et al (2003) complementam que a separação dos pais, em decorrência da<br />
internação do neonato na UTI, faz com que se sintam tristes, fragilizados e com medo quanto<br />
a vida de seu bebê.<br />
Os autores descrevem que estudos enfatizam a importância dos cuidados maternos e<br />
da permanência das mães juntos aos filhos, durante a hospitalização destes.<br />
Para tanto, a interação da equipe de saúde, é indispensável, porém no cotidiano de<br />
trabalho de uma UTIN percebe-se que os pais reagem de maneiras diversas ao internamento<br />
de seu filho. Alguns conversam com os bebês, outros tocam. Alguns ficam só olhando e não<br />
abrem a incubadora, outros até ajudam em cuidados básicos (MITTAG; WALL, 2004).<br />
Os autores ainda descrevem que os pais podem tratar de forma ríspida a equipe<br />
neonatal, assumindo uma posição de defesa, para desviar-se de sentimentos da perda.<br />
Confrontando com a afirmação acima, Rodrigues e Costenaro (2001 apud PERREIRA,<br />
2005) diz que uma equipe multidisciplinar bem formada e capacitada deve trabalhar pelo um<br />
único objetivo. Favorecendo uma maior interação com as pessoas, nos aspectos ligados ao<br />
paciente, família, equipe e ao ambiente.<br />
A recuperação dos neonatos, visando à humanização da assistência, envolve uma<br />
equipe multidisciplinar, trazendo métodos para esta assistência, como o Método Canguru.<br />
12
Um dos principais métodos utilizados na humanização da assistência é o chamado<br />
Método Canguru lançado em 5 de julho de 2000 pelo Ministério da Saúde, através da portaria<br />
693/2000, que possibilita a aproximação família com o recém-nascido melhorando os laço<br />
rompidos.<br />
Outros métodos existentes também são importantes para a manutenção do vínculo,<br />
como a apresentação e explicação com relação ao ambiente para os pais, o esclarecimento de<br />
dúvidas e mantê-los sempre informados quanto ao quadro do recém-nascido (REICHERT;<br />
LINS; COLLET, 2007).<br />
Tais problemáticas despertaram nosso interesse quanto à recuperação e a manutenção<br />
do vínculo dentro da UTIN, visto que este assunto é abordado com freqüência entre os<br />
autores, aplicados em diversas instituições com planos de humanização elaborados até mesmo<br />
pelo Ministério da Saúde e ainda podemos observar o distanciamento entre o binômio pai-<br />
filho.<br />
A compreensão quanto ao significado para os pais em relação ao filho prematuro<br />
internado numa UTIN poderá mostrar novos caminhos e metodologias a serem aplicadas,<br />
visto que muitas já existem e estas podem apresentar falhas. A partir da visão da família<br />
buscaremos entender a importância da participação da enfermagem neste processo, bem como<br />
o que se espera deste profissional.<br />
13
2 OBJETIVOS<br />
2.1 OBJETIVO GERAL<br />
- Conhecer as vivências dos pais com filhos prematuros internados em uma UTIN.<br />
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />
prematuro(a);<br />
- Identificar os sentimentos relacionados à gestação e à chegada do filho(a)<br />
- Levantar aspectos quanto à separação e à internação do RN;<br />
- Identificar as formas de participação dos pais no processo de internação do filho;<br />
- Conhecer a visão dos pais em relação à equipe de enfermagem.<br />
14
3 INSTRUMENTALIZANDO A PESQUISA<br />
3.1 FAMÍLIAS<br />
O tema família, quanto ao tratamento de neonatais, vem sendo abordado em diversos<br />
âmbitos e revela um crescente interesse dos profissionais devido sua reformulação constante<br />
no decorrer histórico. Para os profissionais de enfermagem a família é parte constante na<br />
interação do cuidado de seu ente adoecido.<br />
Com base nisso, diversos autores justificam seus interesses pelo tema família, Resta e<br />
Budó (2004) descrevem que tal tema possibilita um campo amplo para pesquisas, em<br />
diferentes áreas de conhecimento. Na área da saúde o assunto é fundamental para interação e<br />
melhoria no processo de viver, sendo assim é necessário compreender as famílias em sua<br />
complexidade e diversidade.<br />
O significado para o tema família é definido, de acordo com as áreas de pesquisa, que<br />
segundo, Whaley e Wong (1999) são caracterizados a partir de suas essências, a biologia<br />
define família como o complemento da função biológica para a perpetuação da espécie, já<br />
para a psicologia é tratado diante dos aspectos interpessoais da família e, para a sociologia a<br />
família é vista como uma unidade social que interage em um meio de convívio maior, ou seja,<br />
a sociedade.<br />
Segundo Elsen (2002), as literaturas de enfermagem referenciam o papel da família<br />
como cuidadores e como unidade de cuidado de seus membros, com isso os profissionais<br />
devem apoiá-los, fortalecê-los e orientá-los.<br />
doutorado:<br />
A autora descreve, em relação a sua conclusão sobre o tema família em sua tese de<br />
Concluo ser a família um sistema de saúde para seus membros, sistema este do qual<br />
fazem parte um modelo explicativo de saúde-doença, ou seja, um conjunto de<br />
valores e crenças, conhecimentos e práticas que guiam as ações da família na<br />
promoção da saúde de seus membros, na prevenção e no tratamento de doença<br />
(ELSEN, 1984 apud ELSEN, 2002, p.12).<br />
15
3.1.1 Contextualizando o tema família<br />
A palavra família segundo Flandrin (1992 apud DURMAN, 2004) é descrita como um<br />
conjunto de pessoas ligadas entre si, através do casamento ou da filiação, sendo este o sentido<br />
lato da palavra. Também está relacionada às pessoas que vivem e convivem sob o mesmo<br />
teto, podendo estar além das relações pai, mãe e filhos.<br />
Em contra partida, Rodrigues (1999 apud VICTOR; MOREIRA, 2004) declara que a<br />
família é constituída de pessoas ligadas por vínculo sangüíneo. Os laços consangüíneos são<br />
estabelecidos por meios de linhas de descendências que ligam as famílias, denominado de<br />
parentesco (GIDDENS, 2004).<br />
Segundo Knobel (1992), as famílias são grupos sociais existentes desde os primórdios<br />
que favorece o desenvolvimento do ser humano. Com efeito, a interação familiar prepara o<br />
indivíduo a conviver em sociedade, sendo delineados os traços de personalidade,<br />
responsabilidades ética, morais e cívicas. Porém, a composição das famílias varia de acordo<br />
com o local onde vivem, e até sua cultura e religiosidade (HELMAN 1994 apud RIBEIRO,<br />
1999; NITSCHKE, 1999 apud CECAGNO; SOUZA; JARDIM, 2004).<br />
A família é uma unidade social que constrói um modo de viver que lhe é próprio,<br />
estruturado em crenças e valores que são derivados da história de vida de cada<br />
pessoa que a compõem, a história de vida das famílias de origem, da história de vida<br />
da própria família. Ela tem sua própria cultura que estrutura e fundamenta seu<br />
funcionamento (WERNET, 2007, p.28-29).<br />
Conforme Radovanovic et al. (2004), a vida em família é uma experiência complexa<br />
vivenciada por todos os seres humanos, formada por pessoas com objetivos de vida diferentes<br />
uns dos outros, cada indivíduo tende a seguir um rumo diferenciado. Esta experiência pode<br />
ser satisfatória para alguns grupos familiares, porém, em muitos casos podem ocorrer<br />
momentos de dificuldades, tais como brigas, desacordos, entre outros. Situações que fazem<br />
parte do ciclo natural da vida.<br />
Whaley e Wong (1999, p.54) afirmam que: “a família é vista como um todo que é<br />
diferente do somatório dos membros individuais”. Observa-se, então, uma relação entre a<br />
afirmação da autora citada no parágrafo acima, em que as famílias fazem parte de um<br />
conjunto e cada indivíduo contribui de forma diferente.<br />
Essa relação entre família e seus indivíduos também é citada por Elsen (1999, p.25):<br />
16
Sabe-se que a família é permeada por crises, conflitos e contradições, marcada pela<br />
própria condição de ser formada por seres humanos [...], com características<br />
próprias. Com a família é aprendido, é ensinado, é compartilhado e é vivido, em um<br />
cotidiano único, onde nenhuma outra família se iguala.<br />
Portanto, as famílias são expressas através das diversidades e histórias de vida, seja de<br />
um único membro ou da família como um todo, moldando-se ao logo dos tempos<br />
(ALTHOFF; ELSEN; NITSCHKE, 2004).<br />
3.1.2 Estruturas familiares<br />
Whaley e Wong (1999) explicam que a estrutura familiar determina a posição social<br />
em que ela se encontra, assim como a sua composição. A família nuclear é reconhecida como<br />
estrutura familiar tradicional.<br />
Ziegel e Cranley (1986) relatam que as pessoas em geral possuem conhecimento sobre<br />
as constituições familiares, porém, é difícil chegar a uma definição universal que se adapte a<br />
todas as famílias.<br />
Já Giddens (2004) descreve os grupos familiares classificados na visão de sociólogos e<br />
antropólogos, sendo este, a família nuclear, caracterizado por dois adultos convivendo juntos<br />
com seus filhos biológicos ou adotados. E a família extensa, nesta convivem pessoas com<br />
outros graus de parentescos além do casal e os filhos.<br />
A família nuclear pode ser diferenciada quando o casal espera pelo seu primeiro filho,<br />
classificada como “família nuclear em início” (ZIEGEL; CRANLEY, 1986).<br />
Como se vê, as famílias desempenhavam papéis de grande importância para a<br />
sociedade, como na reprodução biológica, quanto na manutenção dos bons costumes e na<br />
educação dos filhos. Porém, a família contemporânea tem assumido características distintas,<br />
ao longo dos anos as dimensões do núcleo familiar vêm diminuindo, estando relacionado à<br />
emancipação feminina (VICTOR; MOREIRA, 2004; ALTHOFF; ELSEN; NITSCHKE,<br />
2004).<br />
Althoff, Elsen e Nitschke (2004) justificam que as transformações no ambiente<br />
familiar estão relacionadas às mudanças econômicas, na organização do trabalho, nas<br />
mudanças dos valores e liberação de hábitos e costumes, tendo como resultado a diminuição<br />
dos grupos familiares.<br />
17
Hoje novos arranjos familiares são apresentados, como as famílias monoparietais<br />
composta geralmente pela mãe e filhos, sem a presença do pai. E as famílias recompostas,<br />
formada por um casal com filhos de uma união anterior (ALTHOFF; ELSEN; NITSCHKE,<br />
2004; GIDDENS, 2004).<br />
3.1.3 Famílias e filhos<br />
O início da vida em família é classificado como a fase da aquisição, e na maioria das<br />
famílias é marcada pela chegada do primeiro filho. Para adaptação a esta nova fase da vida é<br />
necessário maturidade por parte do casal (BERTHOUD; BERGAMI, 1997).<br />
As autoras citadas acima relatam que o nascimento do primeiro filho pode obter<br />
significados diferentes para cada família. Algumas enfrentaram momentos de crise, já para<br />
outras representará somente um momento de transição.<br />
A transição e a mudança são elementos centrais na experiência familiar. A família<br />
está em interação dinâmica e continua entre seus membros e com a comunidade fora<br />
da família. [...]. Algumas alterações ou transições previstas encontradas pela maioria<br />
das famílias, quando não todas, são o nascimento de uma criança (filhos) (ZIEGEL;<br />
CRANLEY, 1986, p. 215).<br />
Existem pais vivem a espera do nascimento em constante euforia, e com duplos<br />
sentimentos: o primeiro relacionado ao desejo do nascimento de um filho saudável, e o<br />
segundo referente ao medo de o filho não ser aquilo que tanto foi aguardado, como um filho<br />
doente ou malformado. Porém, esta fase proporciona o despertar para a maternidade e<br />
paternidade (VASCONCELOS, 2004).<br />
Segundo Ziegel e Cranley (1986), a gravidez significa mudanças para uma família,<br />
mesmo que cada uma interprete os sentimentos de forma diferente, é certo que as alterações<br />
ocorrem, em primeiro lugar pela espera e logo pelo nascimento.<br />
A gestação causa mudanças biológicas na mulher, além de outros fenômenos que as<br />
afetam. Ocorrem crises devido à fase de maturação e desenvolvimento, período que exige<br />
uma reorganização e adaptação nos valores e função familiar (ZIEGEL; CRANLEY, 1986).<br />
Esta espera tão sonhada de um filho “perfeito” está relacionada aos simbolismos,<br />
assim descrito por Monticelli (1994 apud VASCONCELOS, 2004, p.38): “o nascimento é um<br />
período de muita significação, no qual os simbolismos, os significados e as experiências<br />
18
compartilhadas delineiam os grupos de pertença das pessoas”. O nascimento de um filho<br />
altera a estrutura das famílias e inverte os sonhos dos pais (COSTA; SANTOS; BOAS, 2007).<br />
3.2 A GESTAÇÃO<br />
Durante a gestação o feto passa por diversas alterações de desenvolvimento intra-útero<br />
para que possa suportar a vida extra-uterina (ZIEGEL; CRANLEY, 1986).<br />
Para assegurar que o feto está se desenvolvendo adequadamente a mulher deve realizar<br />
o acompanhamento pré-natal. Durante o pré-natal a idade gestacional pode ser controlada<br />
através de cálculos, que segundo o Manual do Mistério da Saúde – Pré-Natal e Puerpério,<br />
(2005): “Os métodos para esta estimativa dependem da data da última menstruação (DUM),<br />
que corresponde ao primeiro dia de sangramento do último período menstrual referido pela<br />
mulher”. Quando a DUM é desconhecida observa-se a altura do fundo uterino, este parâmetro<br />
é infiel, principalmente após a 30ª semana, o acompanhamento pode ser realizado também<br />
através de ultra-sonografias.<br />
As mudanças no feto ocorrem a cada semana, dando inicio na fecundação com<br />
formação do zigoto, através das divisões celulares originando o embrião. A fase embrionária<br />
dura até a nona semana. Da quarta à oitava semana é considerado o período mais importante<br />
da fase embrionária marcada pelo o início do desenvolvimento das principais estruturas<br />
internas e externas. Na terceira semana observa-se o aparecimento de vasos sanguíneos intra-<br />
embrionários, e na quarta semana são evidenciados batimentos cardíacos primitivos<br />
(ZIEGEL; CRANLEY, 1986).<br />
das semanas:<br />
As autoras também descrevem as principais transformações que ocorrem no decorrer<br />
a) 4ª semana: ocorre o fechamento do túbulo neural brotamento dos membros,<br />
o aparecimento dos brotos pulmonares, formas primitivas da boca, língua,<br />
com o aparecimento e desenvolvimento do sistema gastrointestinal,<br />
desenvolvem-se também o cordão umbilical e alterações no sistema<br />
nervoso central como o início primário dos nervos cranianos;<br />
b) 5ª semana: a cabeça torna-se maior que o tronco, os brotos dos membros<br />
crescem e aparecem raios digitais na mão. O coração passa a ter quatro<br />
19
câmaras, aparece o cérebro, cerebelo e ocorre a formação dos nervos<br />
espinhais.<br />
c) 6ª a 12ª semana: desenvolvem-se diversas partes do organismo, órgão,<br />
pálpebras, cílios, glândulas e músculos.<br />
d) 17ª a 20ª semanas: a mãe começa a perceber os movimentos fetais;<br />
e) 21ª a 25ª semanas: o feto pisca quando estimulado por ruídos. Começa a<br />
produção de surfactante;<br />
f) 26ª a 29ª semanas: os pulmões já são capazes de respirar, as unhas das mãos<br />
e pés já estão visíveis, o baço começa a produção de células, e finaliza por<br />
volta de 28ª semana quando esta função é substituída pela medula óssea;<br />
g) 30ª a 34ª semanas: apresenta reflexo pupilar à luz;<br />
h) 35ª a 38ª semanas: o tamanho do pé é um pouco maior do que o<br />
3.2.1 Classificando o RNPT<br />
comprimento do fêmur, o feto ganha em média 14 g por dia. Em geral os<br />
meninos são mais pesados e compridos do que as meninas.<br />
A idade gestacional caracteriza o tempo entre a concepção e o nascimento. As<br />
gestações entre 38 e 42 são denominadas a termo, nesta idade o feto está totalmente<br />
desenvolvido e a capacidade funcional dos órgãos está adequada para a vida extra-uterina<br />
(THOMPSON; ASHWILL, 1996).<br />
A prematuridade divide-se em três categorias, assim descritas por Usher (1994 apud<br />
REICHET; COSTA, 2001): prematuridade limítrofe, a criança encontra-se com idade<br />
gestacional entre 35 e 37 semanas, pesando entre 2.200 e 2.800g, com comprimento de 45 a<br />
46cm e um perímetro cefálico de aproximadamente 32,5cm; prematuridade moderada a idade<br />
gestacional varia entre 31 a 34 semanas, pesam em torno de 1.500g, medem entre 39 e 43,1cm<br />
de comprimento e seu perímetro cefálico mede entre 29 a 31,3; na prematuridade extrema a<br />
idade gestacional do recém-nascido está entre 24 e 30 semanas, pesando em torno de 1.500g,<br />
medindo menos de 28cm e seu perímetro cefálico não ultrapassa 29cm.<br />
Junior (1997) apresenta as características somáticas de um RNPT, com base no<br />
método de avaliação do sistema Capurro (ANEXO A): a pele é fina, lisa, com aspecto<br />
gelatinoso nos prematuros extremos; a orelha apresenta um encurvamento da borda do<br />
20
pavilhão auricular contrário à idade gestacional, no prematuro tende a ser chata e disforme; a<br />
região plantar possui menos linhas, ou não existem relativo à idade; as glândulas mamárias<br />
não são palpáveis e a aréola mamária é inexistente, sendo possível visualizar somente o<br />
mamilo.<br />
Whaley e Wong (1999) apresentam as características do exame neurológico do RNPT<br />
em relação ao RN a termo:<br />
a) Postura: apresenta uma atitude relaxada, com os membros estendidos, o tamanho<br />
do corpo é pequeno e cabeça pode parecer maior em relação ao corpo. O recém-<br />
nascido a termo fica numa atitude mais fletida;<br />
b) Sinal do cachecol: o cotovelo pode ser trazido facilmente até o tórax com pouca ou<br />
nenhuma resistência. O cotovelo do recém-nascido a termo resiste às tentativas de<br />
trazê-lo além da linha média;<br />
c) Reflexo de preensão: a pressão é fraca, ao contrario do RN a termo;<br />
d) Manobra calcanhar-orelha: o calcanhar é facilmente trazido até a orelha sem<br />
apresentar resistência. A manobra não é possível nos recém-nascidos a termo.<br />
Segundo Reichert e Costa (2001) quanto mais extremo for a prematuridade, mais risco<br />
ele apresentará, os problemas mais freqüentes encontrados em tais RN são a apnéia, síndrome<br />
da angústia respiratória aguda, infecções adquiridas e hemorragias intracranianas.<br />
3.2.2 Aspectos epidemiológicos do RNPT<br />
Para Miura (1997), é de extrema importância conhecer os dados referentes à<br />
mortalidade de fetos e RN, para serem utilizados como base nos programas de atenção a<br />
saúde.<br />
Reichert e Costa (2001) afirmam que há alguns anos a prematuridade representava um<br />
problema de grande importância para saúde pública referente aos altos índices de morbi-<br />
mortalidade infantil.<br />
Existem diversas causas relacionadas à prematuridade, porém em muitos casos ela é<br />
desconhecida. As pesquisas descrevem que os maiores fatores estão relacionados a gestações<br />
múltiplas, a enfermidades maternas como a desnutrição, ao diabete melitos, doenças cardíacas<br />
ou infecciosas. Sabe-se que os maiores índices aparecem nas baixas classes econômicas<br />
(WHALEY; WONG, 1999; THOMPSON; ASHWILL, 1996).<br />
21
Tamez e Silva (2006) descrevem outros fatores além dos citados acima, sendo estes a<br />
hipertensão arterial, doença renal, anomalias uterinas, placenta prévia, descolamento<br />
prematuro de placenta, história prévia de partos prematuros e o abuso de álcool, fumo e<br />
drogas.<br />
As autoras explicam os efeitos causados no feto pelo uso de substâncias ilícitas. O<br />
álcool aumenta o risco de danos neurológicos, baixo peso e abortos espontâneos; o tabaco<br />
diminui a perfusão placentária e consequentemente diminuindo a oxigenação fetal, induz ao<br />
parto prematuro; as drogas ilícitas, como a cocaína, também causam o parto prematuro e<br />
retardo no crescimento intra-uterino.<br />
Segundo Simões (1997 apud VIEIRA, 2007), no Brasil, nos anos 40, mortalidade<br />
infantil revelava valores de aproximadamente 149 mil nascidos vivos. Em 1985 a taxa chegou<br />
a atingir em torno de 57 mil nascidos vivos, nos anos 90 este índice baixo para 48 mil,<br />
chegando a 26,6 mil no ano de 2004.<br />
De acordo com os dados do UNICEF, a região nordeste apresentou no ano de 2006<br />
uma queda de 48% referente à mortalidade infantil, ainda ficando com uma de 50% em<br />
relação à média nacional, com uma média de 36,9% referente à mortalidade entre nascidos<br />
vivos. Aproximadamente 51% dos óbitos ocorrem antes dos seis meses de idades e estão<br />
ligados principalmente à prematuridade.<br />
O banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) informa estatísticas relacionadas<br />
à taxa de mortalidade neonatal precoce, entre 1997 e 2004 apresentadas nas tabelas<br />
subseqüentes.<br />
Tabela 1 - Número de óbitos na idade de 0 a 6 dias por 1.000 nascidos vivos<br />
Brasil, 1997-2004<br />
REGIÃO 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004<br />
Norte 16,50 15,42 15,67 14,75 14,54 13,45 13,27 12,77<br />
Nordeste 21,02 18,63 20,09 19,69 19,48 18,42 17,45 17,58<br />
Sudeste 12,32 11,28 10,70 9,49 8,71 8,41 8,00 7,61<br />
Centro-oeste 12,44 11,91 11,37 10,65 11,19 9,98 9,66 9,18<br />
Sul 8,60 8,78 8,84 8,55 8,22 7,98 7,58 7,42<br />
Fonte: Data SUS <br />
Tabela 2 - Número de óbitos na idade de 7 a 27 dias por 1.000 nascidos vivos<br />
Brasil, 1997-2004<br />
REGIÃO 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004<br />
Norte 4,06 3,84 3,84 3,85 3,63 3,62 3,58 3,53<br />
22
Nordeste 6,09 5,11 4,70 4,79 4,49 4,86 4,40 4,40<br />
Sudeste 3,25 3,03 3,03 2,77 2,75 2,64 2,70 2,66<br />
Centro-oeste 3,18 3,28 3,18 3,47 3,23 3,24 3,28 3,32<br />
Sul 2,30 2,35 2,32 2,33 2,41 2,50 2,58 2,58<br />
Fonte: Data SUS <br />
Os dados confirmam que no Brasil há um declínio no número de óbitos neonatais no<br />
decorrer dos anos e que a região nordeste ainda apresenta um valor significativo em relação as<br />
outras regiões brasileiras principalmente quanto à região sul.<br />
3.3 CONHECENDO A UTIN<br />
Embora tenha havido um significativo avanço na medicina e tecnologia, a<br />
prevalência de nascimentos prematuros em países desenvolvidos como a França<br />
ainda é de 6%, enquanto nos Estados Unidos é de 11%. Já nos países em<br />
desenvolvimento, como o Brasil, a prevalência de prematuros é de aproximadamente<br />
7%. A prevalência de baixo peso ao nascer é de 9,2% no Brasil, 3,3% na Dinamarca,<br />
30% na Índia e 7% nos Estados Unidos (MANCUSO, 2004; MEDEIROS, 2005;<br />
GUIMARÃES, 2002; ZIMMER-GEMBECK, 1996 apud ARAÚJO; PEREIRA;<br />
KAC, 2007).<br />
3.3.1 Retrospectiva: origem da neonatologia e das UTIN<br />
A neonatologia tem origem a partir das raízes da obstetrícia, pediatria e fisiologia,<br />
batizada em 1960, por Alexandre Schaffer, tal classificação é denominada os recém-nascidos<br />
desde seu primeiro dia de vida até 28 dias seqüentes (AVERY, 2007).<br />
O autor citado descreve sobre a importância da obstetrícia para a neonatologia, em<br />
uma época em que o número de mulheres que morriam após o parto era significante, os<br />
obstetras se satisfaziam se o bebê nascesse vivo e esperava-se que os neonatos prematuros e<br />
mal-formados morressem.<br />
Avery (2007) relata ainda que a partir de então os obstetras Piere Budin e Sir D. Baird<br />
foram as figuras que contribuíram para sobrevivida destes recém-nascidos, conforme eles não<br />
estavam somente preocupados com o bem-estar materno e ajudavam aos bebês a nascer,<br />
dando origem ao primeiro ambulatório de puericultura.<br />
23
A pediatria colaborou com a criação do primeiro centro de recém-nascidos prematuros<br />
no inicio do século XX em Chicago, o centro era conhecido como “berçário de prematuros<br />
tranqüilos”, dirigido por Julius Hess e Evelyn Lundeen. Após o passo inicial dado por tais<br />
pediatras originaram-se vários outros centros para atender a esta população. Somente<br />
neonatos prematuros eram internados nesses berçários, enfermeiras treinadas garantiam os<br />
seus cuidados, o controle de infecção era rigoroso através da conduta e delicadeza com<br />
intervenção mínima. Os princípios de Florence Nightingale – o calor, repouso, dieta,<br />
tranqüilidade e saneamento - foram utilizados como base para assegurar condições favoráveis<br />
e permitir a recuperação (AVERY et al, 2007; AVERY; FLETCHER; MACDONALD,<br />
1999).<br />
Outro grande passo foi dado à neonatologia a partir dos estudos relacionados à<br />
fisiologia, pois pouco se conhecia sobre o organismo do recém-nascido. Os primeiros estudos<br />
descreveram a circulação fetal e função placentária e em seguida vieram os estudos<br />
terapêuticos (AVERY; FLETCHER; MACDONALD, 1999).<br />
Segundo Pereira (2005), um médico grego denominado de Soranus de Ephesus,<br />
escreveu sobre cuidados aos recém-nascidos por volta de 98-138 dC. Estes documentos são de<br />
grande relevância para a neonatologia.<br />
Lino e Silva (2001) descrevem que as UTI em geral surgiram para proporcionar<br />
condições no atendimento de pacientes com alto grau de complexidade.<br />
A UTIN surgiu para atender os recém-nascidos prematuros ou outras situações de<br />
risco neonatal, em um espaço próprio destinado ao tratamento. No Brasil foram criadas na<br />
década de setenta, proporcionando sobrevida aos bebês. Hoje as UTIN contam com alta<br />
tecnologia, com aparelhos e equipamentos, profissionais qualificados de diversas áreas que<br />
oferecem melhor qualidade no tratamento e assistência aos neonatos (GAÍVA; SANTOS;<br />
GOMES, 2005; FROTA et al. 2005).<br />
3.3.2 O ambiente físico<br />
O ambiente físico de uma UTIN possui características distintas do ambiente intra-<br />
útero, apresentando fatores crucias que podem interferir no desenvolvimento do recém-<br />
nascido prematuro. O ambiente intra-uterino fornece ao feto um local escuro, confortável e<br />
com barreiras sonoras, propício para o seu desenvolvimento.<br />
24
O prematuro não é considerado um organismo inadequado, apenas não está preparado<br />
para interagir com o ambiente externo, pois se depara com situações adversas ao meio intra-<br />
uterino (REICHERT; LINS; COLLET, 2007; SCOCHI et al. 2001).<br />
Segundo Silva, 2002 (apud LIRA, 2004): “ambiente da UTIN pode ser considerado<br />
como um ambiente de excessos. Há excesso de ruídos, de estímulos, muitos em geral<br />
inadequados”.<br />
Consentino e Malerba, (1996); Merrese, (1996 apud SCOCHI et al. 2001) colocam<br />
que as UTIN possuem iluminação continua, fluorescente e de grande intensidade. A<br />
Academia Americana de Pediatria recomenda uma intensidade de luz de 100 velas<br />
candecentes. A exposição à luz constante pode trazer prejuízos e causar danos<br />
cromossômicos, alterações endócrinas, privação do sono, e a síntese da vitamina D.<br />
Estudos revelam que as estruturas do sistema auditivo fetal amadurecem a partir da 25ª<br />
semana, porém ele está protegido intra-útero dos ruídos externos reduzidos pela parede<br />
uterina e o líquido amniótico (SAPANHOS, 2005)<br />
Desta forma, os ruídos das UTIN são considerados um sério problema, pois o RN é<br />
submetido a ruídos produzidos por ventiladores, monitores, oxímetros, campanhias, entre<br />
outros aparelhos que provocam estresse no prematuro (SAPANHOS, 2005; SCOCHI et al.<br />
2001).<br />
Consentino e Malerba, (1996); Merrese, (1996 apud SCOCHI et al. 2001) relatam que<br />
a exposição excessiva do prematuro a ruídos de níveis elevados pode causar perturbações no<br />
sono, complicações fisiológicas e danos irreversíveis como a perda da audição.<br />
Conforme os autores citados acima, os ruídos na UTIN podem chegar a níveis de<br />
85dB, dentro da incubadora os níveis variam entre 50 a 86dB, e o ato de fechar o porta da<br />
mesma pode chegar a 108dB.<br />
Segundo Fasolo, (1994 apud SCOCHI et al. 2001), no Brasil a NBR 10152, de<br />
dezembro de 1987, estabelece níveis somente para apartamentos, enfermarias, centro<br />
cirúrgicos e berçários de 35dB até no máximo 45dB, são chamados de: “Níveis de Ruídos<br />
para Conforto Acústico”. O autor ainda relata que as normas nacionais não especificam<br />
valores para as incubadoras.<br />
Os ruídos não provocam somente alterações aos RN, mas também nos profissionais de<br />
saúde, diminuindo a segurança dos RN, assim descritos por Kakehashi et al. (2007, p.408):<br />
Em relação aos profissionais da equipe de saúde, alguns autores mencionam efeitos<br />
fisiológicos e emocionais, tais como a hipertensão arterial, vasoconstrição, aumento<br />
25
3.4 VÍNCULO MÃE-FILHO: O APEGO<br />
de liberação de catecolaminas, do hormônio adrenocorti-cotrópico, do cortisol, do<br />
peristaltismo, da tensão muscular, do colesterol, alteração do sistema imunológico,<br />
distúrbio de sono, do humor, fadiga, irritabilidade, e perda de audição. Além disso,<br />
sabe-se que o ruído influencia o desempenho do profissional, podendo induzi-lo à<br />
distração e ao erro. Nesse sentido, o ruído ambiental na UTIN, pode ser um<br />
componente que ameaça a segurança do bebê. Nesta perspectiva, o cuidado intensivo<br />
neonatal exige intervenções que transcendam cuidados meramente técnicos.<br />
A importância de laços emocionais com a mãe foi descrito pela primeira vez por<br />
Sigmund Freud. Sendo que hoje em dia, a visão dominante sobre os primeiros<br />
relacionamentos humanos é de Jonh Bowlby (KAIL, 2004).<br />
Souza (2005), em sua pesquisa também destaca que até meados da década de 1950,<br />
tanto os psicanalistas, como Freud, Lacan e outros, e como os teóricos da aprendizagem,<br />
Piaget, Vygotski, compartilhavam do mesmo ponto de vista sobre a formação de vínculos<br />
afetivos: necessidade de satisfação dos impulsos primários, tais como a alimentação e o sexo.<br />
Bowlby (1951 apud FERREIRA; VARGAS; ROCHA, 1998) complementam que no<br />
século XX, a relação de apego mãe e filho é marcada profundamente pelas teorias<br />
psicanalíticas. A partir da segunda metade do século, aparecem muitos psicanalistas e<br />
psiquiatras infantis empenhados em teorizar a relação mãe e filho. Segundo um destes<br />
teóricos esta é uma relação íntima e afetiva, estabelecida entre o bebê e a figura materna, e<br />
ainda aquela que toda mulher seria capaz de estabelecer com seu filho.<br />
Conforme Souza (2005), Bowlby foi o primeiro a tratar do tema apego e vínculo, com<br />
suas teorias a respeito da formação do vínculo. Segundo ele, a criança, ao relacionar-se com a<br />
mãe por meio do seio, aprende ao longo do tempo que ligada a este seio existe a mãe e passa<br />
aos poucos a ter um relacionamento também com ela.<br />
Bowlby (1990 apud FERREIRA, 2000) apresenta a diferença entre apego e<br />
comportamento de apego, o apego é definida como sistema comportamental, que tem como<br />
meta a busca de proximidade com a figura do apego. Já o comportamento de apego é descrito<br />
da seguinte maneira, consiste na mobilização expressivo-motora através da qual a criança<br />
alcança a proximidade com sua mãe, objetivo do sistema comportamental do apego.<br />
Na presença de alguém que merece nossa confiança, diminui o medo de situações de<br />
todas as espécies, se, em oposição, estamos sós, o medo de cada tipo de situação é ampliado.<br />
26
Considerando que, ao longo da vida, os companheiros que mais confiança merecem são as<br />
figuras de apego, segue-se que o grau de suscetibilidade ao medo gira, em boa parte, ao redor<br />
da presença ou da ausência dessas figuras (BOWLBY, 1990).<br />
Para relação de vínculo, Spitz (2004) traz formas de comunicação, enfatizando que as<br />
mesmas compreendem características expressivas, o que significa que elas se originam a<br />
partir de afetos e não são dirigidas.<br />
Também enfatizando a comunicação entre mãe e filho, Gable e Isabella (1992 apud<br />
KAIL, 2004) relatam que as mães e bebês gradualmente sincronizam seus comportamentos de<br />
modo que estejam ambos ligados ao mesmo tempo. Essas interações fornecem as bases para<br />
uma comunicação sofisticada e estimulam, no bebê, a confiança de que a mãe responderá de<br />
modo previsível e tranqüilizador.<br />
A pressão evolutiva favorece comportamentos capazes de despertar os cuidados de um<br />
adulto, como o abraço, a sucção, o choro e o sorriso, descrito por Bowlby (1969 apud KAIL,<br />
2004). Durante o curso da evolução humana, os comportamentos se tornaram parte da herança<br />
biológica do bebê humano, e as reações que evocam nos adultos criaram um sistema<br />
interativo que leva à formação do vínculo.<br />
Ferreira (2000) coloca que o vínculo é condicionado por uma estrutura básica genética<br />
do indivíduo em interação com o meio ambiente e, caracteriza um padrão de comportamentos<br />
instintivos da espécie humana.<br />
Por exemplo apesar, da óbvia variabilidade, os padrões comportamento humano,<br />
quase sempre intensamente motivados, que resultam no acasalamento, no cuidado e<br />
proteção aos filhos pequenos e no apego dos jovens aos pais, são encontrados em<br />
quase todos os membros da raça humana e parece preferível considera-los<br />
expressões de algum plano comum e, tendo um óbvio valor de sobrevivência,<br />
exemplos de comportamentos instintivos. (BOWLBY, 1990 apud FERREIRA 2000,<br />
p.13).<br />
Como formulação geral de sua teoria, Bowlby descreve que o comportamento de<br />
apego consiste em uma resposta desencadeada pela necessidade de sobrevivência da espécie e<br />
se estabelece a partir do contato entre mãe e bebê, em torno do sentido de proximidade e<br />
segurança (OLIVEIRA, 2008).<br />
Weiss (1993 apud OLIVEIRA, 2008) classifica o comportamento de apego através de<br />
três características distintas e universais: 1º busca constante de proximidade com seu objeto<br />
de ligação, podendo tolerar afastamentos temporários; 2º estabelecimento de maior ou menor<br />
segurança, segundo o padrão de confiabilidade e previsibilidade do objeto; 3º reação de<br />
protesto pela separação ou perda e a conseqüente busca de recuperação da figura de apego.<br />
27
Questionamento feito por Souza (2005), o instinto materno existe afinal? A autora<br />
coloca que na verdade muito se fala em instinto materno, instinto de preservação da vida,<br />
instinto de reprodução e similares. Mas, na verdade, todos os instintos, programas para<br />
garantir a sobrevivência da espécie, traduzem-se no plano físico meramente como dos<br />
aspectos básicos: a busca pelo prazer e a fuga da dor.<br />
O amor materno como o conhecemos atualmente é aquisição bem recente. A mãe tinha<br />
mais uma função biológica que afetiva, ficando as crianças ao cargo de amas-de-leite que lhes<br />
garantiam a sobrevivência física, o suporte emocional e humanização (NAZARETH, 2004<br />
apud SOUZA, 2005).<br />
Em divergência ao processo de formação de vínculo mãe-filho se inicia ou se<br />
intensifica ao aparecerem os movimentos fetais, relatado por Trucharte e Knijnik (2002 apud<br />
SOUZA, 2005), estes citam Bowlby salientando que existem condições necessárias para que o<br />
apego se dê entre a mãe e seu filho. Entre elas seria a sensibilidade da mãe frente aos sinais do<br />
bebê, como também a capacidade do bebê para sentir que suas iniciativas sociais, levam à<br />
troca afetiva com sua mãe.<br />
À medida que vai evoluindo, o feto tornar-se capaz de registrar e de dar significado às<br />
emoções e sentimentos maternos. É quando, então, começa a se formar sua personalidade, o<br />
que ocorre por volta do terceiro trimestre de gestação. A ansiedade materna é, de certa<br />
maneira, até benéfica ao feto, pois perturbando a neutralidade do ambiente uterino, perturba-o<br />
também, conscientizando-o de que é um ser distinto, separado desse ambiente (RICO, 2001<br />
apud SOUZA, 2005).<br />
Ferreira (2000) traz os tipos de figuras de apego, descritas por Bowlby (1990), onde a<br />
escolha da figura de apego recai sobre uma pessoa, isto é, nesta concepção teórica propõe-se<br />
que há uma tendência da criança apegar-se a uma figura principal de apego, denominada de<br />
monotropia.<br />
Continuando ela traz ainda que, a relação da criança com outras pessoas, por exemplo<br />
um companheiro de brincadeiras, é denominada de figuras subdisiárias do apego. Mas, nos<br />
momentos de medo, cansaço ou doença, a criança procura apenas uma pessoa, a figura<br />
principal de apego, que na cultura ocidental, geralmente é a mãe.<br />
três tipos:<br />
Para classificar os padrões de apego, Bowlby (1989 apud FERREIRA, 2000) destaca<br />
• Apego seguro: o bebê demonstra segurança e confiança em seus pais, acreditando que<br />
eles estarão imediatamente disponíveis no momento em que ele precisar;<br />
28
• Apego resistente e ansioso: há uma incerteza quanto à disponibilidade dos pais. Por<br />
conta dessa incerteza, a criança tende sempre a estar em um estado de angústia, o que<br />
faz querer ficar grudada na mãe e não explorar o mundo;<br />
• Apego ansioso com evitação: o indivíduo demonstra total confiança quanto a suas<br />
figuras parentais, no sentido de que não acredita encontrar resposta e ajuda para suas<br />
necessidades, mas sim provável rejeição.<br />
Contudo, o apego deve passar por situações não esperadas, marcado por situações<br />
ambivalentes: afeição, atração, dúvida, medo e angústia. A mãe, em particular, tem que<br />
elaborar o luto do bebê fantasiado durante a gestação e aprender a lidar com aquele novo ser,<br />
enquanto o bebê está sendo sobrecarregado e é absorvido pelos estímulos do mundo. Ficando<br />
claro que, o processo de formação do vínculo de apego é um processo complexo e delicado,<br />
dinâmico e não estático, embora se possam delimitar fases de desenvolvimento durante o<br />
desenrolar do mesmo. (SOUZA, 2005).<br />
Souza (2005) coloca que a interação mãe bebê é interferida quando ocorre, por<br />
exemplo, uma situação de prematuridade, onde o vínculo e o apego são afetados.<br />
3.5 OS PAIS NA UTIN: SEUS SENTIMENTOS EM RELAÇÃO AO FILHO<br />
Historicamente, o cuidado a criança foi responsabilidade materna, mas, com o<br />
processo de hospitalização das crianças doentes, a família foi excluída da assistência, conduta<br />
justificada tendo por base o conhecimento disponível em cada momento histórico<br />
(MARTINEZ, 2004).<br />
Gomes (1999 apud SANTOS et al 2007) descreve também que desde o início da<br />
humanidade, a família foi a responsável por prover cuidado aos seus membros, durante as<br />
experiências de nascimento, doença e morte. Foi com o desenvolvimento das ciências<br />
médicas que o lugar de cuidar passou das casas para os hospitais, e o cuidador deixou de ser<br />
um familiar, para ser um profissional de saúde, gerando o afastamento da família de seus<br />
doentes e, conseqüentemente, limitando sua capacidade de cuidar.<br />
A UTIN é um ambiente que necessita de uma atenção especial, por ser marcado por<br />
fortes emoções, conflitos e sentimentos, envolvendo desde o ambiente em si mesmo até os<br />
integrantes: o bebê internado, os pais, os familiares e a equipe profissional. Cada um deles<br />
29
apresenta um grau de vulnerabilidade, necessidades particulares e específicas que devem ser<br />
adequadamente atendidas (BRASIL, 2002 apud RAAD, CRUZ, NASCIMENTO, 2006).<br />
Raad, Cruz e Nascimento (2006) trazem que em detrimento ao bem-estar físico e com<br />
o intuito de precaver as infecções que podem ser trazidas ao meio externo para a UTIN, as<br />
necessidades emocionais da díade são deixadas de lado nesse ambiente, o contato é<br />
diminuído, dificultando o estabelecimento de vínculo do neonato com a família.<br />
Fatores fundamentais para a compreensão do desenvolvimento do afeto no ser humano<br />
são as modificações que ocorreram do ponto de vista da reprodução humana, conseqüentes<br />
das transformações que a marcha bípede trouxeram. Com a bipedismo e a posição ereta do<br />
corpo, as modificações anatômicas na pélvis são significativas, pois é necessária a redução de<br />
sua estrutura para possibilitar a marcha. Dentre as conseqüências do andar bípede, segue a<br />
redução da pélvis refletindo assim na gestação humana (DE TONI et al, 2004). O mesmo<br />
quando cita Leakey (1997) descreve que a gestação do humano deveria ser de vinte e um<br />
meses e não de nove meses como é. Essa diferença de um ano acarreta na fragilidade do RN<br />
se comparado com o neonato com das outras espécies (DE TONI et al, 2004).<br />
Em um estudo realizado por Raad, Cruz e Nascimento (2006), eles demonstram que o<br />
interesse em realizar as visitas aos bebês, segundo o relato das mães que pretendiam ver o<br />
filho freqüentemente é de 71,05%, porém durante o estudo não foi observado a presença<br />
freqüente das mães quanto elas haviam referido, podendo ser justificado pela falta de<br />
condições econômica, social e familiar e também pelo possível não interesse em ver o filho.<br />
Bebês prematuros, com problemas orgânicos ou com baixo peso, habitualmente<br />
precisam ficar internados em uma UTI, e esta internação poderá ser, muitas vezes,<br />
prolongada. Algumas unidades neonatais permitem o livre acesso dos pais, e estimulam a<br />
participação dos mesmos em algumas práticas, a fim de que possam contribuir para a<br />
humanização, como a visita de irmãos, incentivo para que as mães cuidem de seus bebês,<br />
convidar a mãe para dar de mamar ao seio, para tocá-lo, pegá-lo ao colo, ou simplesmente<br />
aninhá-lo em seus braços (OLIVEIRA, 2001).<br />
A mesma autora descreve que as práticas que favoreçam o relacionamento caloroso<br />
entre mãe e filho, precisam sempre ser estimuladas e oportunizadas, pois facilitam o<br />
desenvolvimento natural da relação e deixam os bebês e as mães mais calmos e tranqüilos,<br />
fortalecendo os seus vínculos.<br />
Scochi et al (2003), Daré (2004 apud SANTOS et al, 2007) coloca que a interrupção<br />
abrupta da gravidez traz à luz um RNPT, quanto pais prematuros, que além da separação<br />
física precoce, o corte do cordão umbilical, enfrentará uma separação ainda mais dramática<br />
30
imposta pelo quadro clínico desses pré-termos, que na maioria das vezes necessita de uma<br />
assistência intensiva nas unidades neonatais, e, nestes casos, o filho real em nada se assemelha<br />
ao filho imaginário, o que de certa maneira dificulta a formação do vínculo afetivo do casal<br />
com RN.<br />
Vieira (2007) registra que durante a hospitalização de um filho e, consequentemente,<br />
separação deste de sua família, é preciso, portanto, que se implementem medidas que visem,<br />
sobretudo a manutenção, dos vínculos familiares dessas famílias, que vivem uma situação de<br />
crise, para que se desenvolva uma repercussão positiva em sua dinâmica e desenvolvimento<br />
familiar.<br />
Prugh (1953 apud KLAUS; KENNEL, 1992) aborda o tema em questão, explicando<br />
que em uma série de observações perspicazes e sensíveis sobre as mães de bebês prematuros,<br />
uma delas relatou, que durante os primeiros meses de vida do bebê, a mãe é empurrada para<br />
uma posição periférica de apoio. Complementando, ele coloca que observou que a mãe pode<br />
também ter-se sentido culpada após o parto porque não podia cuidar do bebê tão habilmente<br />
quanto uma enfermeira. Prugh enfatiza que é essencial que a mãe veja o RNPT o quanto antes<br />
possível após o nascimento para que se minimizem as fantasias assustadoras que pode<br />
alimentar e para ajudá-la a começar o processo de lidar com qualquer lacuna emocional.<br />
O contato íntimo dos pais com seus filhos em uma primeira visita exprime uma tensão<br />
prolongada, entretanto os relatos dos pais mostra que a oportunidade de ter esse contato com<br />
seus bebês na UTIN é precioso, apesar da ansiedade (KLAUS; KENNEL, 1992).<br />
Tronchin e Tsunechiro (2006) trazem a experiência de um estudo realizado com o pai<br />
dentro de uma UTIN, concluindo que ter um filho internado em uma unidade de cuidados<br />
intensivos foi uma experiência inesperada que desencadeou reações de choque, incredulidade,<br />
sofrimento e profunda tristeza. Acima de tudo, o medo de perder a criança, pois o ambiente da<br />
UTI ainda carrega o estigma de ser um lugar para morrer.<br />
A participação dos pais na UTIN é descrita por Guimarães e Monticelli (2007) onde<br />
elas explicitam que o convívio diário dos pais no ambiente neonatal e as interlocuções que<br />
ocorrem vão enfraquecendo, e a sensação de estranhamento vão diminuindo à medida que<br />
eles passam a freqüentar mais vezes o ambiente. Segundo as autoras, em depoimentos dos<br />
pais, esse processo não se dá de uma hora para outra, necessitando de paciência, compreensão<br />
e atitudes pró-ativas da equipe neonatal.<br />
As autoras trazem ainda a necessidade que os pais sentem em circular dentro da UTIN,<br />
sem terem o sentimento de prisão, onde os mesmos utilizam a expressão “desejo de se<br />
sentirem livres para circular nas dependências da unidade”, quando então as autoras fazem um<br />
31
comentário: “talvez a única liberdade que realmente possam desfrutar no atual momento”.<br />
Outro desejo expresso pelos pais é o de poderem permanecer com a criança o tempo que<br />
acharem necessário e prazeroso.<br />
O apoio afetivo e o ambiente protetor são chaves para desenvolver na mãe uma relação<br />
com seu bebê. Esta preocupação especial e atitude de abertura da mãe para com seu filho são<br />
fatores-chave para no processo de criação do vínculo (MARTINEZ, 2004)<br />
Gomes (1999 apud SANTOS et al 2007) relata que a família de um RNPT tem<br />
dificuldade para vincular-se a este RN por causa do luto caracterizado pela perda do bebê<br />
imaginado. Quando esta família tem esperança na sobrevivência da criança isso representa<br />
uma tentativa de reassumir a relação interrompida pelo nascimento prematuro.<br />
Certamente os pais sabem de suas responsabilidade e atribuições, mas muitas vezes<br />
isto fica ofuscado pelo temor de não conseguirem dar conta daquele bebê que ali está e que<br />
difere por completo do esperado e planejado por eles. Neste caso, os pais podem até imaginar<br />
as necessidades da criança, porém não conseguem trabalhar com seus sentimentos, uma vez<br />
que estes contradizem um sonho (GUIMARÃES, MONTICELLI, 2007).<br />
3.6 O MÉTODO MÃE-CANGURU<br />
Caetano (2004) traz onde e como foi criado o método canguru, ela descreve que o<br />
mesmo foi criado na Colômbia, em 1979, pelo médico Edgar Rey Sanabria e desenvolvido<br />
por Hector Martinez Gómez, no instituto materno-infantil de Bogotá.<br />
Segundo a autora coloca, os pontos que levaram a implantação de tal método, expondo<br />
que o método mãe-canguru surgiu para remediar as deficiências de infra-estrutura no sistema<br />
público de saúde, dentre elas a situação crítica de infecção cruzada em conseqüência do<br />
abrigo de duas crianças em uma mesma incubadora, o pobre diagnóstico, o abandono da mãe,<br />
a ausência da tecnologia, a deficiência de recursos humanos e uma mortalidade extremamente<br />
alta entre os neonatos de baixo peso nas unidades neonatais, durante os anos 70.<br />
“O método mãe-canguru é uma forma de assistência neonatal inspirada nos mamíferos<br />
marsupiais, o cuidado do canguru” (MARTINS; MARTINS; VAZ, 2007, p.110).<br />
O método canguru consiste em manter o RN, cujo peso ao nascer é inferior ou igual a<br />
2000g, ligeiramente vestido em contato pele com a pele de um adulto. Tendo como<br />
32
princípios: mandar o bebê para casa desde que seu estado geral seja estável e que esteja<br />
adaptado à vida fora do útero, sem levar em conta seu peso (CAETANO, 2004).<br />
Caetano (2004) coloca que a trajetória da implantação do método no Brasil foi<br />
permeada, inicialmente, por interesse de equipes de saúde que viram na técnica canguru uma<br />
forma de promover um contato mais precoce entre mãe e filho, uma alternativa para a<br />
otimização de leitos neonatais muitas vezes escassos em diversas regiões do país e, ainda, a<br />
possibilidade de alta hospitalar precoce. Foi através da I Conferência Nacional do Método<br />
Canguru, em 1999, no Rio de Janeiro, que culminou a elaboração de normas nacionais para a<br />
implantação do método no Brasil.<br />
A publicação das normas para implantação do método canguru deu-se através da<br />
portaria 693 de 05/07/2000, do Ministério da Saúde (MARTINS; MARTINS; VAZ, 2007).<br />
Na portaria 693 de 05/07/2000, o Ministério de Estado da Saúde, resolve aprovar a<br />
norma de orientação para implantação do método canguru, destinado a promover a atenção<br />
humanizada ao RN de baixo peso.<br />
O método canguru é um tipo de assistência neonatal que implica o contato pele-a-pele<br />
precoce entre a mãe e o RN de baixo peso, de forma crescente e pelo tempo que ambos<br />
entenderem ser prazeroso e suficiente, permitindo, dessa forma uma maior participação dos<br />
pais no cuidado ao ser RN (MINISTÉRIO DA SAÚDE, PORTARIA 693/2000).<br />
Na portaria 693/2000, encontra-se discriminado as vantagens da aplicação do método<br />
canguru, como: aumenta o vínculo mãe-filho; diminui o tempo de separação mãe-filho,<br />
evitando longos períodos sem estimulação sensorial; estimula o aleitamento materno,<br />
favorecendo maior freqüência, precocidade e duração da amamentação; proporciona maior<br />
competência e amplia a confiança dos pais no manuseio do seu filho de baixo peso, mesmo<br />
após a alta hospitalar; favorece o melhor controle térmico; reduz o número de recém-nascidos<br />
em unidades de cuidados intermediários, devido à maior rotatividade de leitos; propicia um<br />
melhor relacionamento da família com a equipe de saúde; favorece a diminuição da infecção<br />
hospitalar; diminui a permanência hospitalar.<br />
Caetano (2004) expõe que a norma de orientação do método prevê o desenvolvimento<br />
do mesmo em três etapas. A primeira relaciona-se ao período logo após o nascimento de um<br />
RN de baixo peso que necessita de internação em uma unidade neonatal. Na segunda etapa, o<br />
bebê encontra-se estável clinicamente e pode ter contato contínuo com a mãe. Assim, após a<br />
adaptação e o treinamento ocorridos na primeira etapa, mãe e filho podem ir para a internação<br />
conjunta, onde a posição canguru deve ser realizada durante o maior tempo possível. Na<br />
terceira etapa, a criança recebe alta hospitalar com o peso de no mínimo 1500g, estar sugando<br />
33
exclusivamente no seio materno e estar com ganho de peso adequado nos três dias que<br />
antecedem a alta. Entre outros itens, com a segurança, orientação e também motivação da mãe<br />
para dar continuidade ao processo iniciado no hospital.<br />
Javorski (1997 apud FURTAN; SCOCHI; FURTADO, 2003) colocam que as etapas<br />
sugeridas estendem para a promoção do cuidado ao RN e à sua família. Cada etapa requer<br />
subsídios que assegurem à puérpera e ao bebê condições para o aprimoramento do vínculo, a<br />
promoção do aleitamento materno e a capacitação materna do cuidado com o filho.<br />
3.7 O TRABALHO DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR<br />
Para Bordoni (2004 apud PERREIRA, 2005) a interdisciplinariedade trata-se de um<br />
termo que não tem significado único, possuindo distintas interpretações, mas em todas elas<br />
está implícita uma nova postura diante do conhecimento, uma mudança de atitude em busca<br />
da unidade do pensamento.<br />
A prática multidisciplinar é uma gama de campos de saber que atua simultaneamente,<br />
mas, sem fazer aparecer às relações existentes entre elas. Possui um sistema de um só nível e<br />
objetivos isolados (VASCONCELOS, 2002 apud PERREIRA, 2005).<br />
Rosa (2005) afirma que o mínimo necessário para que se assista um ser humano de<br />
forma adequada, independentemente do diagnóstico firmado e até mesmo em condições de<br />
eutrofia, em que se objetiva a manutenção da saúde e a prevenção de doenças. O atendimento<br />
requer uma equipe de profissionais, ou seja, um atendimento multidisciplinar, integrado e<br />
articulado, para que se contextualize e reverta em solução às demandas apresentadas pelo<br />
paciente em sua integralidade.<br />
Fazenda (1991 apud PERREIRA 2005), define a interdisciplinariedade como uma<br />
relação reciprocidade, a substituição de uma relação fragmentária para uma visão integradora,<br />
na qual todo conhecimento é importante.<br />
Para assistir a família, o profissional da saúde não pode ter um agir segmentado, "uma<br />
postura por vezes inconsciente, mas reprodutora dos recursos institucionais, fragilizados pela<br />
ausência de crítica e criatividade” (TAKASHIMA, 1994 apud VIEIRA, 2007). Nesse caso,<br />
teria um olhar fragmentado, tanto a da realidade familiar quanto do contexto em que a família<br />
está inserida (VIEIRA, 2007).<br />
34
A UTI é um local em que os profissionais da equipe multidisciplinar de saúde<br />
possuem objetivos comuns, ou seja, a equipe trabalha pelo mesmo fim. Esta idéia favorece<br />
uma maior interação bem como um relacionamento mais recíproco entre as pessoas, nos<br />
aspectos ligados ao paciente, à família, à equipe e ao ambiente (RODRIGUES;<br />
COSTENARO, 2001 apud PERREIRA, 2005).<br />
Perreira (2005) aponta a equipe que deve compor uma UTIN: neonatologista,<br />
enfermeiro, técnico ou auxiliar, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, bioquímico,<br />
psicólogo. Ela afirma que depende desses profissionais o sucesso do trabalho da equipe. E<br />
complementa ainda que além dos profissionais acima citados, podem compor a equipe<br />
também: cardiologista, nefrologista, gastroenterologista, endocrinologista, hematologista,<br />
cirurgião pediátrico.<br />
Os RNs de termo, pré-termo ou pós-termo apresentam dependência de decisões<br />
adotadas pelos membros da equipe. Por isso a coesão entre a equipe, favorece a<br />
dinâmica funcional do atendimento ao RN. Planejar estratégias de atendimento<br />
desenvolve no pessoal da UTIN a integração e a visão de equipe, necessárias ao<br />
sucesso desejado na manutenção e na recuperação do bem-estar do RN. (MIURA;<br />
PROCIANOY, 1997 apud PERREIRA, 2005, p.47).<br />
Perreira (2005) destaca a importância da equipe multidisciplinar, expondo que devido<br />
à evolução da complexidade dos serviços de saúde, surgiu a necessidade dessa equipe para<br />
que pudesse alcançar uma gama de especialistas e procedimentos. Para tanto o processo de<br />
atendimento do neonato na UTI, se dá através da preocupação, do comprometimento e do<br />
envolvimento com o RN.<br />
A competência profissional e a possibilidade de estabelecer relações interprofissionais<br />
eficazes não podem ser mensuradas apenas pelo conhecimento técnico-científico requerendo<br />
uma postura norteada pela política e pela ética. (TASCA, 2002 apud PERREIRA, 2005).<br />
35
4 TRAGETÓRIA METODOLÓGICA<br />
4.1 TIPO DE ESTUDO<br />
Para o desenvolvimento desta pesquisa optamos em utilizar a metodologia qualitativa<br />
– descritiva e exploratória, com a finalidade de conhecermos a vivência dos pais com filhos<br />
recém-nascidos prematuros internados em uma UTIN.<br />
Segundo Polit, Beck e Hungler (2004) os métodos de pesquisas são técnicas utilizadas<br />
pelos pesquisadores que possibilitam a organização do estudo através da união e análise dos<br />
dados coletados. Geralmente são utilizados os paradigmas naturalistas que tratam da<br />
exploração dos aspectos da complexidade humana.<br />
Para Mercado e Bosi (2004, p.23):<br />
A pesquisa qualitativa (PQ) constitui, por um lado, uma modalidade de investigação<br />
cada vez mais empregada e aceita na área da saúde e das ciências humanas e sociais.<br />
Por outro lado, trata-se de um modelo que também tem sido alvo de criticas e de<br />
desconfiança por parte de uma parcela expressiva da comunidade cientifica que<br />
pelos temas que trata, pelo desenho empregado, pelo fato de trabalhar coma<br />
amostras não probabilísticas e/ou por efetuar análises não estatísticas dos dados.<br />
A pesquisa qualitativa possibilita abranger diversas formas de pesquisas favorecendo a<br />
compreensão e explicação de fenômenos, conceituada como método “guarda-chuva”<br />
(MERRIAN, 2002 apud GODOI; BALSINI, 2006).<br />
Polit, Beck e Hungler (2004, p.177) coloca que “a finalidade dos estudos descritivos é<br />
observar, descrever e documentar os aspectos da situação”.<br />
A pesquisa exploratória compreende a escolha de um tema, a delimitação de um<br />
problema, a classificação dos objetivos (geral e específicos), a construção do marco teórico<br />
conceitual, instrumento de coleta de dados e exploração do campo (MINAYO, 2004).<br />
A pesquisa exploratória investiga a natureza ou os fatores com os quais ele está<br />
relacionado (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).<br />
36
4.2 LOCAL DO ESTUDO<br />
Este estudo foi realizado em uma instituição de médio porte, que oferece os serviços<br />
de assistência médico-hospitalar em geral, realiza diversos procedimentos médicos-cirúrgicos,<br />
localizada na região do Vale do Itajaí.<br />
O trabalho foi desenvolvido em uma UTIN - pediátrica dessa instituição, que<br />
comporta nove leitos, sendo um deles isolamento, atendendo a área de neonatologia e<br />
pediatria, e também a cardiologia pediátrica, onde recebe pré e pós-operatório de cirurgias<br />
cardíacas.<br />
A equipe é composta de oito médicos intensivistas, uma supervisora de enfermagem,<br />
quatro enfermeiras, quatro técnicos de enfermagem por turno, participando também no<br />
atendimento fisioterapeutas, fonoaudióloga, nutricionistas, cardiologista, cirurgiões gerais e<br />
cardíaco.<br />
Durante o período de janeiro a junho de 2008, ocorreu a internação de 51 prematuros<br />
com IG variando entre 25 a 36 semanas de gestação.<br />
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA<br />
Utilizamos como critérios de inclusão para os sujeitos que participaram da pesquisa.<br />
• Pais com filhos prematuros internados na UTIN ;<br />
• Aceitação dos sujeitos para participação do estudo, mediante assinatura do termo de<br />
consentimento livre e esclarecido;<br />
• Mínimo de 5 pais;<br />
• Podendo ser o casal ou então individual, pai ou mãe.<br />
“Na pesquisa qualitativa, o tamanho da amostra deve ser determinado a partir da<br />
necessidade de informações [...] a saturação dos dados (isto é, amostrar até o ponto que não é<br />
obtida nenhuma informação nova e é atingida a redundância)” (POLIT; BECK; HUNGLER,<br />
2004, p.237, grifo do autor).<br />
Os sujeitos da pesquisa totalizaram quatro casais e duas mães, com filhos internados<br />
em uma UTIN após leitura e explicação do termo de consentimento livre e esclarecido<br />
37
(ANEXO B). Obtivemos seis entrevistas, sendo que a primeira foi utilizada como piloto não<br />
influenciando na análise da pesquisa.<br />
Optamos utilizar nomes fictícios (nome de seres marinhos) para preservar o anonimato<br />
dos entrevistados e respeitando as questões éticas da pesquisa.<br />
4.4 COLETA DE DADOS<br />
Os dados foram coletados nos meses de julho e agosto de 2008. Primeiramente<br />
conversamos com a enfermeira da unidade para facilitar o acesso, seguindo da aceitação dos<br />
sujeitos à participação do estudo.<br />
Após aprovação da instituição e do comitê de ética (ANEXO C) realizamos uma<br />
entrevista semi-estrutura previamente elaborada (APÊNDICE A) com cada participante ou<br />
casal, a mesma foi gravada mediante o consentimento do participante, e após transcrita, para<br />
melhor análise dos dados.<br />
Polit, Beck e Hungler (2004) colocam que algumas vezes na entrevista semi-<br />
estruturada, a flexibilidade permite que os participantes exponham informações relevantes de<br />
maneira natural.<br />
4.5 ÁNALISE DOS DADOS<br />
Os dados foram analisados no período de setembro a novembro de 2008, após serem<br />
coletados e transcritos.<br />
Segundo Polit, Beck e Hungler (2004), Minayo (2004) a análise do material possui<br />
três finalidades: primeiramente faz-se a interpretação; a segunda etapa traz a construção de<br />
possíveis hipóteses a partir da organização e integração do material; e, por último, realiza-se a<br />
compreensão dos dados através de sua redução, mantendo a riqueza original com a descrição<br />
de trechos do material narrativo.<br />
Minayo (2004) aborda e alerta que a pesquisa qualitativa pode causar ilusão da<br />
transparência, ou seja, o perigo da compreensão espontânea como se o real se mostrasse<br />
nitidamente ao observador.<br />
38
levantados.<br />
Após foi realizada a categorização dos dados, através de afinidades dos dados<br />
Conforme Polit, Beck e Hungler (2004) o procedimento mais utilizado para análise<br />
dos dados é a classificação por categorias, que se desenvolve a partir de agrupamentos de<br />
conceitos relacionados.<br />
Posteriormente à análise, foi descrito e discutido os dados, confrontando-os com a<br />
base bibliográfica.<br />
4.6 ASPECTOS ÉTICOS<br />
Entregou-se um termo de consentimento livre e esclarecido a cada participante, bem<br />
como se solicitou a assinatura dos mesmos, respeitando a resolução 196/96 do Conselho<br />
Nacional de Saúde, que confere o seguinte:<br />
“O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após<br />
consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus<br />
representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.”<br />
Devido à pesquisa ser gravada, explicamos para cada sujeito que sua identidade e seus<br />
depoimentos serão preservados, e os mesmos tiveram autonomia para desistir do estudo<br />
durante o processo.<br />
Após aprovação do Comitê de Ética da instituição em que foi realizado o estudo,<br />
iniciamos a pesquisa.<br />
39
5 DESVELANDO A VIVÊNCIA DOS PAIS<br />
5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS<br />
Neste quadro apresentamos os sujeitos do estudo, sendo estes pais de RN prematuros<br />
internados em uma UTIN. Foram caracterizados conforme as seguintes variáveis: estado civil,<br />
motivo que levou ao parto prematuro, IG, tempo de permanência no RN na UTIN.<br />
Totalizaram oito sujeitos, três casais e dois individuais. Foram utilizados nomes fictícios para<br />
preservar a identidade dos participantes. As iniciais dos RN estão descritas para identificação<br />
dos casais.<br />
NOME SEXO ESTADO<br />
CIVIL<br />
Lírio-do-<br />
mar <br />
Cavalo-<br />
marinho <br />
Alga-<br />
marinha<br />
INICIAIS<br />
DO RN<br />
Quadro 1 – Caracterização dos sujeitos.<br />
MOTIVO PARTO<br />
PREMATUTO<br />
IG<br />
40<br />
TEMPO DE<br />
PERMANÊN-<br />
CIA DO RN<br />
Fem. Casado M. R. V. Pré-eclampsia 31s 7 dias<br />
Masc. Casado M. R. V. -------- ---- -----------<br />
Fem. Casado J.P.S.L Pré-eclampsia 34s 36 horas<br />
Concha Fem. Casado S. M. M Pré-eclampsia 34s 11 dias<br />
Peixe Masc. Casado S. M. M -------- --- -----------<br />
Estrela do<br />
mar<br />
Fem. Casado N. G. S Pré-eclampsia 30s 104 dias<br />
Golfinho Masc. Casado N. G. S -------- --- ------<br />
Coral Fem. Solteiro A. S. H Pré-eclampsia 26 32 dias
Conforme o quadro acima é possível visualizar a predominância do sexo feminino<br />
entre os sujeitos entrevistados, em sua maioria casais, sendo somente uma solteira.<br />
Identifica-se a predominância da pré-eclâmpsia como causador do parto prematuro.<br />
A pré-eclâmpsia, caracteriza-se pelo aparecimento, em grávida normotensa, após a<br />
vigésima semana de gestação, da tríade sintomática: hipertensão, proteinúria e edema. É uma<br />
doença incurável, exceto pela interrupção da gravidez, e pode evoluir para quadros ainda mais<br />
complexos, como eclâmpsia, síndrome HELLP (DUSSE; VIEIRA; CARVALHO, 2001).<br />
Referendando as autoras, elas colocam que a manifestação mais característica dessa<br />
doença é uma acentuada vasoconstrição arteriolar, que acarreta um aumento da resistência<br />
vascular periférica e tem como conseqüência imediata o aparecimento da hipertensão. Um dos<br />
mecanismos compensatórios da hipertensão consiste na perda de plasma para o espaço<br />
extravascular, o que resulta no aparecimento de edema. A retração do volume plasmático na<br />
DHEG, no entanto, pode preceder a hipertensão. Com a evolução da doença, há um<br />
comprometimento da perfusão de vários órgãos, como placenta, rins, fígado, cérebro e<br />
pulmões. A retração do volume plasmático tem também como conseqüência a<br />
hemoconcentração, que compromete a velocidade do fluxo sangüíneo, favorecendo a ativação<br />
das plaquetas e a coagulação do sangue. Dessa forma, a hipercoagulabilidade evidenciada na<br />
gravidez normal acentua-se enormemente na DHEG.<br />
É uma das principais causas de um parto prematuro devido à dificuldade de passagem<br />
dos nutrientes para o feto, ocasionando um sofrimento fetal e um retardo no crescimento do<br />
mesmo. (DUSSE; VIEIRA; CARVALHO, 2001).<br />
Em relação à IG, dois casais tiveram filhos prematuros extremos os demais com<br />
prematuridade moderada.<br />
Durante as entrevistas os RN permaneciam na UTIN, variando de 36 horas a 104 dias.<br />
Não sendo possível relacionar o tempo de prematuridade como fator relevante na duração da<br />
internação.<br />
5.2 CLASSIFICANDO AS CATEGORIAS<br />
Diante da vivência dos pais, percebemos os sentimentos enfrentados por eles em<br />
vários momentos desde a descoberta da gravidez até a internação de seu filho na UTIN, sendo<br />
estes positivos e negativos.<br />
41
Durante a descoberta da gravidez os sentimentos se afloram, podendo ser observados<br />
nos relatos de medo, emoção e felicidade. Conseqüentemente ocorrem mudanças físicas e<br />
psicológicas, seguidas de preocupações.<br />
Os sentimentos continuam presentes no processo de hospitalização do filho e estes<br />
iniciam quando os pais são informados da possibilidade de uma internação na UTIN,<br />
seguindo com o confronto com a realidade ao ver o seu filho rodeado de aparatos<br />
tecnológicos.<br />
Esta internação possibilita aos pais conhecerem o papel da equipe de enfermagem,<br />
porém acreditam que todos os profissionais que trabalham naquele local desempenham as<br />
mesmas funções. Eles atribuem características aos profissionais enfermeiros, mesmo não<br />
sabendo quem realmente são depositando confiança nos mesmos.<br />
A partir disso dividimos o tema em três categorias com suas respectivas subdivisões<br />
conforme o quadro abaixo.<br />
TEMA CATEGORIA SUB-CATEGORIA<br />
Vivência dos pais com filhos<br />
prematuros internados em<br />
uma UTIN<br />
Descobrindo a<br />
gravidez<br />
Vivenciando o filho<br />
na UTIN<br />
Percebendo o<br />
cuidado da equipe de<br />
enfermagem<br />
Quadro 2: Classificação das categoriais e sub-categoriais<br />
Sentimentos<br />
Mudanças<br />
Preocupações<br />
Sentimentos<br />
Confrontando com a realidade<br />
Tendo confiança<br />
A equipe como mãe substituta<br />
Falta de conhecimento<br />
Humanização<br />
42
5.3 DESCOBRINDO A GRAVIDEZ<br />
As situações vivenciadas no momento da descoberta da gravidez geram para os casais<br />
diversas alterações, como a ambivalência dos sentimentos, as mudanças e adaptações, como<br />
também preocupações diante de um futuro desconhecido. Esta categoria foi subdividida<br />
conforme as palavras grifadas e evidenciadas respectivamente no decorrer do texto.<br />
Conforme Centa, Moreira e Pinto (2004) a gestação é considerada um acontecimento<br />
saudável e normal na vida do casal, contudo traz uma gama de sentimentos positivos e<br />
negativos.<br />
A gravidez é uma transição que faz parte do processo normal de desenvolvimento e<br />
exige mudanças psicológicas para um reajuste na nova definição de papéis do casal<br />
(MALDONADO, 1985).<br />
Dentre os sentimentos, os pais relatam, o medo, de como o filho nascerá. Chegará até<br />
o final da gestação? Nascerá com alguma síndrome? Bem como a preocupação sobre o futuro,<br />
após o nascimento, sua infância, sua adolescência e se conseguirão criar adequadamente esse<br />
filho, proporcionando conforto, alimento, afeto e carinho.<br />
“Primeiro eu senti medo, acho que todo mundo tem medo de não ser uma boa mãe ou<br />
de não conseguir fazer a coisa certa [...]. Foi uma ansiedade a cada mês para ver ele crescer,<br />
vê se ele estava bem.” CONCHA<br />
Os sentimentos negativos podem ser influenciados pelo medo do futuro desconhecido,<br />
de tornar-se responsável por outro ser. Influências externas como a violência, as doenças,<br />
situações presentes no dia-a-dia de todos, são pontos marcantes na vida do casal grávido.<br />
O medo pode ser identificado em qualquer gestação, seja do primeiro filho, ou outros<br />
filhos. Na fala de Golfinho é possível constatar esta observação.<br />
“Tinha medo de ter um filho e não saber como cuidar, porque o primeiro foi bem<br />
assustador.” GOLFINHO<br />
Em contra partida, os casais também podem receber a gravidez expressando<br />
sentimentos positivos. A felicidade é expressa de modo bastante singular. Estes sentimentos<br />
43
de saber que esta gerando uma nova vida, algo que tanto almejava, sonhava e planejava<br />
podem ser percebidos a partir das seguintes falas.<br />
“[...] é muito legal sabe, é muito emocionante quando a gente vai ter mais um<br />
filhinho.”CAVALO-MARINHO<br />
“Fiquei feliz, fiz tratamento durante quatro meses [...], pra mim foi tudo” CORAL<br />
Cunha (1991 apud JUNIOR et al, 2004) explica que esta felicidade dá-se devido às<br />
expectativas e planejamentos sobre o filho que virá. O casal grávido e a família geram<br />
intimamente uma imagem de filho idealizado, fazem planos sobre o nome, preferência de<br />
sexo, características do RN, perspectivas relacionadas à profissão futura e comportamento<br />
social.<br />
A gravidez pode ocorrer em várias circunstâncias, podendo ser planejada ou ocasional,<br />
rejeitada ou não. Independentemente da situação em que a gravidez ocorreu, diversas<br />
expectativas das famílias afloram sobre como será o desenvolvimento desse novo ser<br />
(JÚNIOR et al, 2004).<br />
“Foi bem legal sabe, [...] a gente sempre programa as coisas, nossa primeira filha já<br />
foi um planejamento, [...] na segunda agora, a gente ficou acompanhando os ciclos<br />
menstruais, os períodos que ela estava fértil”. PEIXE<br />
“Não esperava. A gente tava planejando não te mais.” GOLFINHO<br />
Maldonado (1997) conta que não existe uma gravidez totalmente aceita ou totalmente<br />
rejeitada, mesmo quando há clara predominância de aceitação ou rejeição, o sentimento<br />
oposto jamais está inteiramente ausente.<br />
Houve a possibilidade de perceber a ambigüidade de sentimentos relatados pela autora<br />
citada acima, no qual o casal não estando preparado ao descobrir a gravidez de um filho não<br />
esperado ou não planejado respondeu que pode ser assustadora, porém como evidenciado na<br />
entrevista ocorre à inversão dos sentimentos representados pela emoção.<br />
"Foi assustador um pouco. [...]. Mas depois do susto não tem como tu não ficar<br />
bem.”ESTRELA-DO-MAR<br />
44
Evidenciou-se no decorrer das entrevistas que os sentimentos aparentemente<br />
ocorrem a partir do que o casal almeja. Casais que planejam a gestação estarão felizes após a<br />
descoberta, outros mesmos sem planejar reagirão positivamente, enquanto alguns terão reação<br />
de susto e medo. Porém, na maioria dos casos, mesmo que inicialmente a descoberta<br />
represente sentimentos negativos, no decorrer da gestação as emoções tendem tornar-se<br />
positivas, isso relacionado aos significados que está etapa representa.<br />
Após a confirmação da gravidez iniciam-se os processos de mudanças físicas,<br />
psicológicas e sociais. Essas mudanças se diferenciam entre a mulher e o homem.<br />
Para a mulher o símbolo da maternidade inicia-se na infância através das<br />
brincadeiras, passando pela adolescência com o desejo de ter um filho até a gravidez<br />
propriamente dita. Neste momento ocorre uma inversão no papel vivido pela mulher, pois é<br />
ela deixa de ser somente filha para tornar-se mãe (PICCININI et al, 2008).<br />
A adaptação à gestação faz com que a mulher passe por uma dramática<br />
transformação na sua vida, pois deixa de ser responsável somente por si tornando-se<br />
responsável também pela vida e bem estar de uma criança (KLAUS; KENNEL; 1992). Essas<br />
adaptações são classificadas por Bibring (1961 apud PICCININI et al, 2008) como mudanças<br />
de diversas ordens: biológicas, somáticas, psicológicas e sociais. A mulher necessita<br />
reorganizar seu relacionamento, sua situação sócio-econômica e suas atividades profissionais<br />
(MALDONADO, 1997).<br />
Raphael-Leff (1997) explica que é no corpo da mulher que a criança se desenvolve<br />
trazendo mudanças físicas e conseqüentemente mudanças psicológicas.<br />
A gestação inicia fisiologicamente em comum a todas as mulheres, porém durante o<br />
curso desta nova etapa enfrentada pela gestante e sua família acontecem mudanças<br />
características e específicas a cada um, gerando ou não conflitos. As mudanças psicológicas e<br />
aceitação das alterações físicas irão depender da cultura e da rede social que esta convive.<br />
Destaca-se a fala de Alga-marinha demonstrando que a gravidez modificou toda sua vida.<br />
“Minha profissão mudou, minha casa mudou, meu cabelo mudou, tudo mudou, foi<br />
muito importante pra mim” ALGA-MARINHA<br />
Quando se fala em gravidez e filhos, as atenções e imagens se voltam para figura<br />
materna, no entanto a figura paterna é tão ou igual, Raphael-Leff (1997) escreve que quando o<br />
homem vê-se diante da paternidade ocorre uma regressão mental ao seu passado e uma<br />
reavaliação de sentimentos interiores, relembrando atitudes, gestos e imagem de seu pai ou da<br />
45
figura masculina mais presente e evidente em sua vida, levando a um conflito psicológico,<br />
porém esse conflito é deixado de lado por ele mesmo, devido à grande tarefa de manter a casa<br />
financeiramente.<br />
O homem sofre também diante da passagem de deixar de ser filhos para torna-se pai.<br />
Porém, para o homem os sentimentos se concretizam somente após o nascimento do filho,<br />
podendo ainda permanecerem imperceptíveis (FREITAS; COELHO; SILVA, 2007).<br />
Oibermann (1994 apud COUTINHO; MORSCH, 2006) explicam que o pai necessita<br />
de contato físico com o filho, exprimindo um desejo e um prazer por esta ação, percebendo-o<br />
como indivíduo, o RN provoca uma profunda atração para o pai que foca todo seu interesse e<br />
atenção. A paternidade é então vivida como uma experiência de exaltação e sensação de<br />
euforia, diante do nascimento do filho, o pai adquire maior sentimento de auto-estima.<br />
A gestação pode interferir no planejamento do casal, quando estão percorrendo um<br />
momento de vida para construção dos seus desejos próprios. Com a descoberta da gravidez o<br />
casal necessita rever os planejamentos para então incluir um filho em seus planos. Em nossa<br />
opinião as mudanças sociais são enfrentadas com mais dificuldade pelo homem, o que pode<br />
ser observado na seguinte fala.<br />
“No começo eu tinha vários objetivos e tinha que abandonar para ficar com ele e<br />
com ela, foi bom, tive um pouco de medo por financeiramente, de não dar conta, de criar ele,<br />
sentimentos normais.” PEIXE<br />
Ao mesmo tempo em que os pais adaptam-se para receber o filho, também<br />
preocupam-se com a possibilidade de um parto prematuro ou a presença de má-formação.<br />
Maldonado (1997) explica que a vontade de ter um filho saudável é tão fixo no pensamento<br />
dos pais, ocasionado um anseio de conseguir gerar um filho “normal”. Isso provém de uma<br />
auto-imagem que eles fazem de si próprios, vendo-se às vezes como pessoas boas, merecendo<br />
assim serem amados e valorizados, por vezes enxergam-se como pessoas más, carregando<br />
com si a sensação que devem ser castigados. Isso implica em pensamentos e sensações de que<br />
o filho possa nascer com alguma má-formação.<br />
incapaz.” PEIXE<br />
“Eu fiquei com medo [...], má formação, uma doença genética, ou que deixasse ele<br />
46
5.4 VIVENCIANDO O FILHO NA UTIN<br />
A gravidez é uma fase normal do desenvolvimento humano que envolve uma<br />
necessidade de reestruturar várias condições do meio familiar (MOUTA et al, 2006).<br />
Silva, Russo e Horta (2005) descrevem que o nascimento acontece de forma contínua<br />
durante todo período gestacional, caracterizando-se por uma fase de adaptação devido à<br />
ampliação familiar, um estágio de transição que produz sintomas e disfunções.<br />
Contudo quando a gestação é interrompida por um parto prematuro, todas as<br />
expectativas são substituídas por medo, ansiedade e sentimentos de culpa (MOUTA et al,<br />
2006).<br />
“O nascimento de um bebê prematuro é um acontecimento inesperado e as famílias<br />
não estão emocionalmente preparadas para enfrentar essa situação” (COSTA; SANTOS;<br />
BOAS, 2007, p.560). Conforme Mouta et al (2006) os pais desenvolvem sentimentos<br />
negativos ao enfrentar o parto prematuro, sendo estes a frustração, negação, culpa, medo e<br />
tristeza.<br />
Baseado nas literaturas citadas e na análise das entrevistas a categoria foi subdivida<br />
em dois tópicos: os sentimentos que reflete o momento em que receberam a notícia de que<br />
seu filho necessitaria de internação numa UTIN, no primeiro contato com o filho internado e<br />
quando deixaram o hospital sem levar o filho consigo e confrontando a realidade que<br />
caracteriza o impacto que esta internação causa para os pais.<br />
Quando um filho prematuro é internado em uma UTIN, os pais passam por um<br />
momento de adaptação entre a criança idealizada e a perda. Esta fase é acompanhada por<br />
sentimento de medo do ambiente desconhecido e assustador de uma UTI, pois muitas vezes<br />
seu filho encontra-se entubado, monitorizado, e em uma incubadora, impedindo o contato<br />
físico. Os pais fragilizados ficam submetidos às normas e rotinas da unidade (MOUTA et al,<br />
2006; MITTAG; WALL, 2004).<br />
O volume da aparelhagem, o ruído dos alarmes, o ir e vir de desconhecidos<br />
profissionais, que utilizam palavras novas e estranhas e sucessão de berços e<br />
incubadoras com crianças aparentemente tão diferentes da maioria dos outros bebês<br />
conhecidos (os nascidos a termos e saudáveis) são fatores que contribuem para um<br />
sentimento de irrealidade, corroborado por uma vontade muito forte, por parte dos<br />
pais, de que tudo isso nada mais fosse que um pesadelo, passível de ser interrompido<br />
47
DO MAR<br />
a qualquer momento, e do qual emergiria, como saúde e bem forte, o seu bebê<br />
(MOREIRA; BRAGA; MORSCH, 2003, p51).<br />
“Eu não sei nem o que dizer, porque foi tudo de repente [...], apenas chorei”. LÍRIO<br />
“Ainda não caiu a ficha, pra mim foi um susto fiquei muito nervosa, eu não tinha<br />
barriga nenhuma, minha expectativa que ia caí minha ficha do A. quando começasse a<br />
aparecer minha barriga enorme, não ia consegui nem andar, de repente meu médico mandou<br />
me internar, que tu vai para sala de parto.” CORAL<br />
“Quem sofreu mais com isso na verdade fui eu né [...], me pegou de surpresa [...] a<br />
gente sabia que ele era prematuro.” GOLFINHO<br />
Refletindo sobre a chegada de um filho prematuro identificamos que os pais passam<br />
por uma fase de negação, devido não acreditar que tal situação esteja ocorrendo com eles, isso<br />
acontece pela representação do ser idealizado. Durante as entrevistas percebemos na<br />
expressão dos entrevistados sentimentos de tristeza e angústia quando referiram que o filho<br />
necessitaria de uma internação na UTIN, por ser uma situação inesperada para os mesmos.<br />
Quando um RN é internado em uma UTIN, os pais enfrentam o medo da doença e do<br />
desconhecido (CENTA; MOREIRA; PINTO, 2004).<br />
Os pais diante da chegada do filho prematuro enfrentam um momento desgastante e<br />
desafiador pela preocupação com relação à sobrevivência do seu filho. Eles vêem o filho<br />
prematuro como um ser pequeno e frágil, simbolizando para a família uma grande tragédia<br />
(SANTOS et al, 2007).<br />
“De perde ele, medo dele morrer” CONCHA<br />
“Eu senti o mesmo, medo, ele não fala, não chorava, não sabia se estava bem ou<br />
estava ruim” PEIXE<br />
DO-MAR<br />
“[...] tu vê ele ali, uma criaturinha quase inanimada, mal e mal se mexe.” ESTRELA-<br />
O medo, sentimento evidente quando se trata da internação de um filho prematuro em<br />
uma UTI, a fragilidade do recém-nascido e a sua inanimação – característica definida pelos<br />
pais, ao referirem que seu filho não apresenta expressão, não se comunica gestualmente com<br />
48
os mesmos – simbolizam para os pais uma complicação, até mesmo a morte do filho, o que<br />
caracteriza esses sentimentos negativos como o medo.<br />
Ao nascer o bebê é tão esperado em sua casa, pelos avôs, pais e outros membros que<br />
fazem parte da convivência familiar. O quarto é preparado, as roupinhas limpas e cheirosas e<br />
os brinquedos aguardam pelo seu novo dono. Porém, com o nascimento prematuro a família<br />
encontra-se frente à internação do filho em uma UTI. E o sonho de voltar para casa com o<br />
filho no colo é desfeito (REPLE; TURAZZI; VENTURA, 2005).<br />
“Vontade era pega ela daquele berço, pega no colo” CAVALO-MARINHO<br />
“... eu ganhei alta que e tive que ir embora e deixa ela [...], levando flores, levando<br />
roupa, levando as coisas, e ela aqui.” LÍRIO DO MAR<br />
“Meu, é o primeiro filho, e todo mundo conta aquele historia vai nascer, vai pra casa,<br />
vai mama, ai nasceu e foi pra UTI.” PEIXE<br />
“No dia que eu fui embora eu não senti tanto, mas quando eu cheguei em casa que a<br />
gente foi para a nossa casa, daí bateu o desespero porque tem toda aquela fantasia ahhhhhh<br />
você vai ganhar ele de tantas semanas ele vai ficar no quarto contigo” CONCHA<br />
“[...] parecia que tavam me matando cheguei em casa com a garganta entalada,<br />
parecia que ai ele tinha morrido, acho que é pior que se ele tivesse morrido” CORAL<br />
Culturalmente a maioria das famílias se prepara da mesma forma para receber um<br />
filho, criando um ritual em que a criança nasce, fica no quarto com a mãe e vai para a casa no<br />
colo dos pais, onde é esperado por toda a família. Com o nascimento prematuro rompe-se esse<br />
ritual ocasionando na vida dos pais uma mudança maior ainda. Ir para a casa sem o filho<br />
representa para os pais uma sensação de vazio, pois além de não poder ter o filho ao seu lado,<br />
o mesmo encontra-se em uma situação de risco.<br />
Relacionando com a expectativa cultural dos pais, o nascimento simboliza<br />
“apresentar” o filho para a sociedade, quando uma criança nasce prematura rompe-se o<br />
preparado causando nos pais uma frustração de não conseguir manifestar o planejado. Essa<br />
frustração pode ser observada nas falas descritas anteriormente.<br />
Brazelton (1999 apud CUNHA, 2000) explica que o nascimento prematuro provoca<br />
inevitavelmente um luto para os pais, pois além do sentimento de perda do bebê perfeito que<br />
esperavam, eles também se culpam, consciente ou inconscientemente, pelos defeitos que<br />
causaram ao bebê levando ao nascimento prematuro.<br />
49
Complementando com Scochi et al (2003) a separação dos pais devido a necessidade<br />
de uma internação do neonato provoca sentimentos de culpa, por sentirem-se responsáveis<br />
pelo sofrimento do filho.<br />
Além da frustração gerada pelo nascimento de um filho prematuro representando o fim<br />
de um planejamento, outro sentimento identificado foi à culpa, expressado por CORAL por<br />
não ter sido capaz de manter a gestação até o fim levando o RN para uma condição de<br />
sofrimento.<br />
“Quando cheguei vi ele, meu Deus o que é que eu fiz contigo meu filho, daí eu<br />
desmaiei, porque novescentas gramas, todo pequininho, todo magrinho, de língua pra fora,<br />
eu pensava fui eu que fiz isso pra ele” CORAL<br />
Mouta et al (2006) descreve que muitas mães passam por um momento tão<br />
desesperador diante do sofrimento do filho, por desconhecer os procedimentos realizados<br />
impedindo de cuidar e permanecer perto dele.<br />
“Elas falavam pega ele, toca nele, eu não queria porque pensava que poderia<br />
machucá-lo [...] mas depois minha consciência mudou e eu vi que ele não era tão frágil.”<br />
ALGA-MARINHA<br />
Uma pesquisa realizada por Collet e Rocha (2004), os cuidados que a mãe oferece ao<br />
filho, as visitas dos pais a UTIN representam o vínculo que os pais querem estabelecer com o<br />
filho. Para as mães a sua presença na UTI representa proteção, segurança, confiança e<br />
carinho.<br />
Conforme Silva e Reis (2006) para algumas mães o toque vai muito além da<br />
demonstração de carinho, representa uma prática para melhorar o estado de saúde da criança.<br />
A necessidade inconsciente da formação do vínculo é observada nos relatos<br />
expressado pelo desejo e carência de pegar o filho no colo, ou seja, sentir a sua presença.<br />
“Não poder no colo para amenizar, a gente tinha a sensação de que ele estava<br />
sofrendo [...] foi o que mais me angustiou não poder pegar ele no colo e pensar que eu<br />
carreguei ele por tanto tempo e de repente ele está lá sozinho” CONCHA<br />
“[...] A gente não podia pegar ele no colo, a gente não podia fazer nada, mal e mal a<br />
gente podia abrir ali a janelinha e pegar o pezinho dele” ESTRELA-DO-MAR<br />
50
“Não poder pegar ele, passar aquele calor, aquele afeto, aquela coisa” GOLFINHO<br />
“[...] eu fui pegar ele no colo, ele já tinha cinqüenta e tantos dias. [...] Não receber de<br />
volta, só tu passar, porque assim agora pego ele no colo, ele encosta aqui em mim, nossa eu<br />
vou à loucura” ESTRELA-DO-MAR<br />
Para os pais a responsabilidade, o afeto e o carinho são o início da formação do<br />
vínculo que vai muito além de um simples toque, eles relatam a necessidade de aconchegar<br />
seu filho no colo, pois assim conseguem o retorno da ação fornecida.<br />
Após todo o desafio que os pais enfrentaram expressando sentimentos negativos e<br />
tendo que aprender a conviver com esta realidade evidenciada pela demonstração de afeto e<br />
carinho, os pais então depositam na esperança uma maneira de permanecerem fortes para<br />
proporcionar a recuperação de seu filho.<br />
“Cada dia que a gente recebia uma notícia ruim, eu sempre perguntava pro médico,<br />
tem chance dele ficar bom? Tem uma chance pequena, beleza é só isso que eu preciso saber<br />
nem que fosse só 1%, era nesse 1% que a gente se agarrava.” ESTRELA-DO-MAR<br />
“Se tem uma coisa que eu aprecio, uma coisa que eu sempre falo, em situações<br />
difícies, boas ou ruins, sempre coloco na mão de Deus, porque na verdade ele que sabe todas<br />
as coisas, não somos nós, milagres acontecem somente por causa Dele.”CAVALO-<br />
MARINHO<br />
Em um estudo realizado por Santos et al (2007) apesar de toda problemática do<br />
nascimento prematuro e da hospitalização do filho, a esperança esteve presente nas falas das<br />
mães entrevistadas, que através desse sentimento buscavam forças para continuar acreditando.<br />
Para enfrentar esta situação a família se apóia na espiritualidade. A religiosidade<br />
ligada a fé demonstra uma forma para encontrarem respostas para os problemas, muitas vezes<br />
utilizando de pensamentos acreditando que Deus é onipotente. Outros pais crêem que a força<br />
divina proporcionará a recuperação do filho buscando assim um conforto para seus corações<br />
possibilitando um contato com o RN com mais naturalidade chegando ao alcance de seus<br />
objetivos (COSTA; SANTOS; BOAS, 2007; MOUTA et al, 2006).<br />
A necessidade de aproximação com filho através do colo é expressa pelos pais, e<br />
quando o mesmo torna-se real, sentimentos positivos surgem, porém estes podem ser<br />
limitados diante do confronto com um ambiente confuso e estressante. (SCOCHI et al, 2003)<br />
51
A partir da análise da entrevistas foi possível perceber que a informação prévia a cerca<br />
da UTI proporciona um conforto psicológico. Em contra partida quando a internação ocorre<br />
devido um parto de emergência esse preparo não acontece ocasionando um impacto para os<br />
pais. Entretanto, para ambas situações esta internação gera insegurança e medo pelo<br />
significado que uma unidade intensiva representa.<br />
“Quando ele falou que ela ia direto pra uti, a uti pra gente assusta, eu não tinha<br />
noção o que era uma uti, porque pra mim uti é quando a pessoa ta morrendo né, já ta morta<br />
praticamente” LÍRIO DO MAR<br />
A chegada prematura do filho é marcada por uma surpresa, em que os pais necessitam<br />
adaptar-se com a aparência diferente da idealizada por eles. Eles imaginam um bebê gordinho,<br />
ativo, alegre que responda aos pais desde o nascimento. Um bebê prematuro é pequeno e<br />
frágil, assim o confronto entre o bebê imaginário e o bebê real expressa sentimentos de<br />
tristeza, frustração e desapontamento (WALDOW, 2007; TRONCHIN, 2003).<br />
Em um nascimento a termo naturalmente ocorrem frustração e desapontamento pela<br />
passagem daquilo que se espera com o que tornou-se real. Para os pais de um filho prematuro<br />
o impacto é ainda maior pela extrema diferença do que idealizava. Além do confronto do bebê<br />
imaginário com o bebê real, o seu aspecto frágil e dependente intensifica o medo do recém-<br />
nascido não sobreviver. O choque está representado nas falas abaixo.<br />
“Foi um choque [...] ninguém te prepara pra isso, ninguém te diz assim olha, vai lá<br />
que teu filho é pele e osso.” ESTRELA-DO-MAR<br />
“Por mais que tu sabe que vai ser pequeno, o que tu imagina, um mini-nenêm, um<br />
neném pequininho, rechonchudinho, bochechinha rosa, sabe tu não imagina.”ESTRELA-DO-<br />
MAR<br />
Durante a gravidez a família idealiza um nascimento saudável, porém, a chegada de<br />
um filho prematuro representa a destruição dos sonhos e também do papel materno e paterno<br />
que foi desenvolvido durante esse período (ARUDA; MARCON, 2007).<br />
Alguns pais não conseguem aceitar que seu filho tão frágil e pequeno possa sofrer<br />
tanto com tão poucos dias de vida. Eles ficam assustados com a realização de certos<br />
procedimentos como a punção venosa e a entubação (LIMA; ROCHA; LIMA, 2004).<br />
52
Diante do filho hospitalizado os pais têm sentimentos ambivalentes, pois eles<br />
entendem que isso é importante para a recuperação do bebê, porém ao observarem uma<br />
quantidade de aparatos tecnológicos eles identificam a fragilidade do RN e o sofrimento que<br />
esse enfrenta.<br />
“Ele é tão pequeno, tão frágil [...] primeiro eu senti pena porque tão pequeninho né<br />
[...] (choro). E dele sentir dor (choro)”. CONCHA<br />
“[...] De um lado era ruim [...] vê ele lá cheio de tubo, cheio de fio, cheio de coisa”.<br />
ESTRELA-DO-MAR<br />
“[...] quando eu vi ele entubado e todo mundo dizia ele esta bem, não parecia ser uma<br />
coisa verdadeira [...] não sabia se ele estava com dor ou não” PEIXE<br />
“[...] Quando eu conheci ele, ele tava com sete dias, ele já tava com icterícia já vi ele<br />
todo amarelinho, muito pequeno” ESTRELA-DO-MAR<br />
Os pais reagem negativamente quando se deparam com os aparatos tecnológicos e na<br />
maioria das vezes exitam em tocar no bebê por ser muito pequeno ou por estar na incubadora,<br />
ligado a vários tubos e máquinas (MOUTA et al, 2006).<br />
“Foi complicado ver ele na UTI-NEO, ele estava dentro de um caixinha de plástico<br />
como se fosse um peru no forno microondas.” ALGA-MARINHA<br />
O ambiente de uma UTI amedronta os pais e diminuem a sua auto-confiança podendo<br />
acarretar num julgamento de incapacidade de criar o filho, devido ao simples fato de não<br />
poder pegá-lo no colo e aconchegá-lo (SCOCHI et al, 2003).<br />
“É como se ele fosse um cristal que iria quebrar então ele estava dentro de uma caixa<br />
[...] eu achava que não podia tocar nele porque eu não era profissional da área, embora<br />
sendo mãe dele e responsável por ele.” ALGA-MARINHA<br />
A insegurança e as dúvidas impedem os pais de tocar em seus filhos pelo<br />
desconhecimento do ambiente e das aparelhagens, os pais acreditam não serem capazes de<br />
cuidar, afastando-se inicialmente de suas responsabilidades, dificultando a formação do<br />
vínculo.<br />
53
A presença da família nos cuidados ao RN é importante para o restabelecimento do<br />
quadro deste, porém toda tecnologia dificulta esta relação de aproximação no início, contudo<br />
no decorrer da internação os pais já conseguem desempenhar diversas atividades,<br />
influenciando na melhora do neonato (REPLE; TURAZZI; VENTURI, 2005).<br />
Diante das dificuldades, os pais terão que fortalecer os laços familiares e participar da<br />
recuperação do bebê para que se sintam responsáveis e promovam a formação do vínculo<br />
(MOUTA et al, 2006).<br />
Tames (2002 apud SILVA; REIS, 2007) destaca que para a recuperação do bebê<br />
prematuro o contato pele-a-pele com a mãe benefícios para ambos. Sendo de extrema<br />
importância, pois mantém a temperatura corporal estável, melhora a oxigenação, proporciona<br />
ciclos regulares de sono profundo, ganho de peso corporal mais rápido, diminui os períodos<br />
de agitação e choro. Além de favorecer um desenvolvimento mais rápido para o prematuro,<br />
auxilia e fortalece a formação do laço familiar.<br />
De acordo com Bowlby (1990) estudos e teorias explicam a importância da mãe e do<br />
pai se relacionar com o filho, pois se estabelece uma base segura para o vínculo e apego<br />
proporcionando o desenvolvimento adequado da personalidade e formação da criança.<br />
Acreditamos que a equipe de enfermagem deva auxiliar os pais a enfrentarem esta<br />
realidade, amenizando o impacto gerado pelo ambiente, para que eles consigam realizar os<br />
cuidados com o filho e aproximarem-se para que possa ocorrer uma troca de sentimentos<br />
favorecendo a formação do vínculo.<br />
“Eu não queria toca no começo, eu tinha medo [...] de quebra ela. [...] Hoje não já<br />
pego aquele creme, bezunto ela toda, [...] é uma festa agora.” LÍRIO DO MAR<br />
“Eles falaram que se eu não pegasse ele, ele ia ficar dependendo da caixinha, que ele<br />
tinha que ter calor, que ele tinha que me conhecer, que ele tinha que aprender a mamar,<br />
conhecer a minha voz e que ele era uma pessoa especial e que eu era especial pra ele. Então<br />
eu tinha que mexer nele porque eu era a mãe dele e não as outras pessoas.” ALGA-<br />
MARINHA<br />
“A gente vinha, tentava passar uma energia boa porque a gente também se sentia bem<br />
estando ali, apesar de pouco tempo, muita limitação de contato, enfim tudo. Ma sempre com<br />
aquela intenção de que é por bem dele.” GOLFINHO<br />
Para favorecer o contato entre os pais e o RN é importante que a equipe de<br />
enfermagem desenvolva um processo estimulando o vínculo pais-filho. Os enfermeiros que<br />
54
identificam esta importância a partir de sua sensibilidade são capazes de encorajar o mesmo<br />
crescimento em outros (MOUTA et al, 2006).<br />
5.5 PERCEBENDO O CUIDADO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM<br />
Os relatos analisados proporcionaram verificar o conhecimento que a família possui<br />
sobre o papel desempenhado pela enfermagem, bem como a importância do cuidado que a<br />
equipe realiza e a atuação especifica do profissional enfermeiro.<br />
Diante disto desenvolvemos esta categoria, e para a sua melhor compreensão e análise<br />
dos dados, subdividimos nos seguintes temas: tendo confiança, a equipe como mãe<br />
substituta, a falta do conhecimento da família em relação ao profissional enfermeiro e a<br />
humanização – os dois lados.<br />
Em decorrência da internação do filho em uma UTIN a família sente-se insegura e<br />
fragilizada por desconhecer o futuro da saúde de seu filho. Durante a hospitalização essa<br />
família encontra apoio na equipe de enfermagem, sentindo confiança no cuidado<br />
desenvolvido pela equipe (SCOCHI et al, 2003).<br />
“No começo não consegui nem sair daqui de dentro, mas agora eu penso assim, se eu<br />
deixar ele um pouco sozinho, ele vai estar bem cuidado, antes eu tinha medo.” CORAL<br />
Podemos perceber que além do cuidado que enfermagem desempenha com o recém-<br />
nascido internado ela também demonstra em atitudes a preocupação com os pais, fornecendo<br />
conforto diante da situação crítica que os mesmos vivenciam. Conforme as falas de Lírio-do-<br />
mar e Alga-marinha a importância do cuidado transcende as necessidades físicas<br />
proporcionando um acalento.<br />
“Eu chorava que nem uma condenada e de repente vem elas assim bota a mão no teu<br />
ombro, mãe não fica assim, não sei o que, são palavras, são gestos que confortam tanto a<br />
gente.” LÍRIO-DO-MAR<br />
“Elas sempre estão prontas a ajudar, pronta a explicar e por mais que você tenha<br />
medo de pegar o teu filho e sabe que esta fazendo tudo errado, ou tudo certo, elas ficam ali<br />
prontas para pegar ele, só que elas não transmitem isso para ti, mas você fazendo errado elas<br />
falam mãe vamos fazer assim, elas nunca dizem não pode.” ALGA-MARINHA<br />
55
Esse apoio está presente no trabalho que a equipe desempenha incentivando a<br />
participação dos pais no cuidado ao RN, deixando-os mais confiantes para assumirem seu<br />
papel de pais, promovendo o vínculo pais-filho.<br />
A participação da família no cuidado ainda é uma estratégia muito recente, são poucos<br />
hospitais que fazem uso deste processo, pois na maioria ainda não foi incorporado como<br />
filosofia dos serviços dificultando a assistência. Muitas equipes acreditam que é preciso<br />
envolver a família no cuidado para que eles possam cuidar do RN após a alta. Para os<br />
profissionais incluir os pais no desenvolvimento do cuidado significa desempenhar uma<br />
assistência humanizada, atendendo a criança plenamente (GAIVA; SCOCHI, 2005;<br />
PEDROSO; BOUSSO, 2004).<br />
“Considerando-se a idéia de caracterizar o cuidar como um modo de sobrevivência, a<br />
humanidade ainda demonstra essa forma de cuidado, agora bastante mais exigente e<br />
sofisticada” (WALDOW, 2008, p. 88).<br />
Na visão da mãe a enfermagem por desempenhar suas atribuições através do cuidado<br />
ao RN de forma afetuosa e similar a da mãe, ela entende e denomina a enfermeira como mãe<br />
substituta, pela situação que está vivenciando e muitas vezes pela inexperiência, a mesma<br />
exime-se das suas responsabilidades maternas.<br />
Por ser tão complexo o cuidado do RN, a enfermagem é indispensável para prática do<br />
mesmo, devem ser realizados com atenção, ternura e sensibilidade, porém não pode ser<br />
confundidos com a maternagem, pois este ato deve ser incentivado como uma função da mãe<br />
(BIESBROECK; CARDIM; NASCIMENTO, 2007).<br />
“Elas foram a mãe que meu filho não tinha, o que eu vou dizer. Quando eu não podia<br />
pegar ele no colo, elas pegavam, quando eu não podia embalar ela, elas embalavam, eu<br />
nunca vou poder pagar (choro), nunca.” ESTRELA-DO-MAR<br />
“Eu vejo como uma segunda mãe, não vejo que vão cuidar de um doente, vejo o<br />
carinho delas com ele, atenção, conversa, tudo, tudo, parece a mãe deles. CORAL<br />
“Seria uma substituta [...], seria a segunda mãe pra minha filha”LÍRIO-DO-MAR<br />
Acreditamos que a enfermagem tem um papel importante a realizar, incentivando as<br />
mães a desenvolverem o mais precoce a função materna, para que esta favoreça o<br />
desenvolvimento e recuperação da criança, também para que seja preparada para os cuidados<br />
pós-alta.<br />
56
O ambiente de uma UTIN para um RN é repleto de fatores estressantes,<br />
contraditoriamente do vivenciado no meio intra-uterino, também a separação do bebê da mãe<br />
dificulta o seu desenvolvimento. Cabe a equipe de enfermagem zelar pelo bem estar do<br />
neonato proporcionando o elo entre o mesmo e a sua família, tornando a assistência mais<br />
humanizada. Desta forma a arte do cuidar deve ser desempenhada com humanização, carinho<br />
e atenção (REICHERT; LINS; COLLET, 2007; SILVA; REIS, 2007)<br />
Percebemos a importância do cuidado e da humanização do mesmo para o<br />
desenvolvimento afetivo e emocional do bebê com os pais, bem como uma aproximação da<br />
família com a equipe de enfermagem, no qual nós, futuras enfermeiras sentimo-nos felizes em<br />
poder observar esse trabalho humanizado desempenhado pela equipe, podendo ser percebido<br />
nas falas citada por Concha e Estrela-do-mar.<br />
“O carinho que a gente via, não era um trabalho, era um carinho mesmo, tratavam<br />
ele com muita atenção [...] tudo que ele passou, até no tirar os curativinhos eram cuidadosas,<br />
era tudo cuidadoso, mínimas coisinhas, coisas que a gente nem pensava que eles olhavam,<br />
eles ficavam cuidando, tudo amenizava o coração da gente.” CONCHA<br />
[..] uma coisa é sabe que tu vai cuidar porque tem que cuidar daquela criança, outra<br />
coisa é aquela criança chorar e elas conversarem com ele, diziam o que tu tem N.”<br />
ESTRELA-DO-MAR<br />
Os pais que vivem a realidade de uma unidade intensiva ficam atentos a tudo que<br />
ocorre ao seu redor como os cuidados que os profissionais desempenham e as conversas da<br />
equipe. Concluímos através dos relatos, a importância de manter uma comunicação adequada<br />
evitando a exposição do RN e a impessoalidade. Diante do relato da Estrela-do-mar ficou<br />
evidenciado a intensa felicidade ao saber que seu filho não era um simples número.<br />
“Pra mim o que mais marcou, quando elas passavam plantão, fulano fica com o um e<br />
dois, você fica com o três e quatro, você com o cinco e o N., meu aquilo para mim dizia tanta<br />
coisa, significava tanto. [...] é muita estatística, teu filho vira um número.” ESTRELA-DO-<br />
MAR<br />
Observamos nos relatos que a equipe atuante na unidade intensiva procura realizar<br />
uma assistência humanizada de forma que favoreça o vínculo mãe-filho. Porém os<br />
57
profissionais ainda falham em um dos pontos mais discutidos nos ambientes de trabalho e<br />
cursos, com relação à rotulação do cliente como um número.<br />
No decorrer da pesquisa observamos os dois lados da humanização, no qual<br />
observamos nos relatos dos pais a demonstração de um cuidado humanizado pelas falas de<br />
carinho e atenção prestado ao RN, bem como a impessoalidade relatada na identificação do<br />
neonato como um número, com isso podemos citar Mouta et al (2006) e Costa, Santos e Boas<br />
(2007) apontam que o ato de humanizar não consiste somente na providência de sistemáticas<br />
do processo de trabalho que são consideradas como práticas humanizadas e sim sensibilizar as<br />
pessoas para o estabelecimento de uma relação destinada ao cuidado da família.<br />
Ademais na arte de cuidar, a comunicação é essencial. Através dela o enfermeiro pode<br />
estabelecer uma relação com a família, e assim auxiliar o enfrentamento da experiência da<br />
doença e sofrimento, e quando necessário assistí-los para que busquem significado naquela<br />
experiência (QUEIROZ, 1999 apud OLIVEIRA et al, 2005).<br />
“Eu acho que o enfermeiro deveria passar mais vezes e conversar com a gente, elas<br />
faziam mais a parte técnica, cuidar dele, faziam a parte de procedimentos” PEIXE<br />
Durante nossa vida acadêmica, em aulas práticas, observamos a deficiência do<br />
conhecimento da população acerca do profissional enfermeiro, acreditamos que em uma<br />
UTIN este profissional tenha a oportunidade de desenvolver a assistência de enfermagem,<br />
realizamos o seguinte questionamento: Quem é o enfermeiro para você? Contudo obtivemos<br />
respostas desfavoráveis as nossas expectativas.<br />
“Quem que é o enfermeiro?” ALGA-MARINHA<br />
“Eu não sei quem é o enfermeiro, não é a mesma coisa?”PEIXE<br />
A partir da identificação do não conhecimento do profissional enfermeiro por parte<br />
dos pais, acreditamos que isso ocorre pela falta de interação do profissional com a família<br />
diante das conversas e explicações conforme relato do Peixe ou talvez pela falta de<br />
identificação da categoria profissional para os pais.<br />
“O enfermeiro era aquele cara de branco que passava no corredor, não tinha contado<br />
com um hospital, [...] hoje o enfermeiro é tanto quanto o médico, isso senão contar senão for<br />
mais [...] eu respeito o enfermeiro tanto quanto eu respeito o médico para mim não tem mais<br />
58
diferença nenhuma, só acho que vocês não são valorizadas como deveriam ser, vocês atuam<br />
nos bastidores e quem aparece é o médico, fulano de tal salvou fulano de tal”. ESTRELA-<br />
DO-MAR<br />
Concordamos com Waldow (2008, p.90) ao descrever que:<br />
O cuidado compõe a linguagem da enfermagem e ao visualizá-lo como um modo de<br />
ser, relacional e contextual, caracteriza-se por ser a única ação verdadeiramente<br />
independente da enfermagem. O cuidado não pode ser prescrito; terapêuticas,<br />
técnicas, intervenções e procedimentos podem ser prescritos. Não se prescreve um<br />
modo de ser, não se ditam ou criam regras ou normas de cuidar, ou maneiras de se<br />
comportar. Eles podem ser sugeridos, aconselhados, recomendados, não prescritos.<br />
Na enfermagem, o cuidar compreende os comportamentos e atitudes demonstradas<br />
nas ações que lhe são pertinentes e asseguradas por lei e desenvolvidas com<br />
competência no sentido de favorecer as potencialidades das pessoas para manter ou<br />
melhorar a condição humana no processo de viver e morrer.<br />
Diante desta afirmação o profissional se faz reconhecido e suas atividades<br />
conseqüentemente serão valorizadas, da mesma forma que a profissão enfermeiro será<br />
reconhecida pela população e deixarão de atuar nos bastidores.<br />
O profissional enfermeiro será reconhecido à medida que suas funções sejam voltadas<br />
ao cuidar do outro humano com sabedoria, capacidade técnica, ética, respeito, humanidade,<br />
criatividade, empatia, simpatia e amor. Enfermagem é sobre tudo uma arte. A arte do cuidar.<br />
59
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A arte de cuidar exige dos profissionais um profundo conhecimento técnico-científico.<br />
Em nosso percurso acadêmico foi proporcionado pouco contato com a área neonatal, o que<br />
instigou-nos a buscar um conhecimento a cerca dos cuidados intensivos neonatais<br />
acrescentando esta experiência na nossa formação profissional.<br />
Em nossa revisão bibliográfica constatamos que a gestação é um processo de mudança<br />
no âmbito familiar e indiferente da maneira que ela foi concebida os pais se preparam para<br />
receber o filho. Quando o inicio da vida é antecipado, os pais são surpreendidos e os sonhos<br />
são desfeitos.<br />
O ambiente de uma UTI é aterrorizante pela simbólica representação de um provável<br />
fim de uma vida. Além do mais os pais julgam-se culpados pelo sofrimento do filho e que<br />
dificilmente serão capazes de cuidá-los.<br />
Em nossa busca delineamos a família como ponto principal, e acreditamos que através<br />
do entendimento de seus sentimentos seremos capazes de produzir um melhor cuidado ao RN.<br />
Na maioria das vezes os profissionais desta área atuam diretamente na assistência a<br />
criança. Isso se confirma nas falas de Costa, Santos e Boas (2007) que a grande demanda da<br />
unidade e o déficit de funcionários interfere na relação da enfermagem com a família,<br />
implicando num distanciamento em respostas a questões imediatas. A equipe de saúde<br />
preocupa-se em atender primeiramente as necessidades do neonato deixando em segundo<br />
plano os pais, não os reconhecendo como principais aliados no cuidado e terapêutica da<br />
criança.<br />
As famílias de um modo geral sempre se consideram responsáveis pelos seus entes<br />
adoecidos. Para a enfermagem eles são um importante elo entre o paciente e a realização do<br />
cuidado. Quando se trata da internação de um RNPT esta ligação fica prejudicada.<br />
Inicialmente os pais se eximem de suas obrigações, a prematuridade desperta<br />
inconscientemente nos pais sensações e sentimentos assustadores, desenvolvendo um<br />
processo de negação. Pois aprenderam a amar, criaram expectativas, sonhos, e planejaram o<br />
nascimento, porém de forma abrupta o filho nasce prematuro, implicando no distanciamento<br />
do RN como uma forma de enfrentar a realidade muito diferente da idealizada.<br />
Os pais ao entrarem pela primeira vez na unidade intensiva neonatal não reconhecem<br />
aquela criança como sendo realmente seu filho, devido à formação de um bebê imaginário<br />
durante a gravidez e a imensidão de aparatos tecnológicos que rodeiam o RN provoca um<br />
choque com a realidade.<br />
60
O impacto com a realidade é marcante desde o momento em que os pais descobrem<br />
que seu filho irá para UTI e quando o visualizam tão fragilizado. Diante disso julgam-se<br />
culpados e incapazes.<br />
Uma gama de sentimentos foi relatada pelos pais para descrever a sua vivência na<br />
UTI, dentre estes analisamos e discutimos os que se mostraram mais relevantes.<br />
A gestação é interrompida por diversos fatores, em nossas entrevistas houve a<br />
predominância da pré-eclampsia. O nascimento prematuro reflete para os pais uma frustração,<br />
ficando mais evidente nas falas das mães, pois as mesmas relatam não conseguirem segurar a<br />
gestação até o fim, provocando uma situação de risco para o filho.<br />
Essa frustração se estende até o momento em que os pais vêem uma criança tão<br />
pequena sofrendo. Demonstrando então insegurança e angústia por não poder tocar e<br />
amenizar este sofrimento.<br />
O medo é um sentimento que ocorre nos mais diversos momentos desta vivência. Ele<br />
inicialmente é relatado frente ao risco de morte que a criança enfrenta. Os pais também o<br />
descrevem como o impedimento para que possam cuidar do seu filho, temendo machucar ou<br />
cometer algum erro fatal.<br />
Quando o assunto é relacionado ao cuidado de seu filho existe uma contradição diante<br />
dos sentimentos. Dizem não se sentirem preparados e ao mesmo tempo, compreendem que a<br />
sua presença é importante na recuperação do filho, sentindo-se pais a partir do momento que<br />
pegam seu filho no colo.<br />
Frente aos diversos sentimentos expostos pelos pais nas entrevistas, concluímos que<br />
estes surgem à medida que as etapas vão sendo percorridas, numa espécie de sucessão de<br />
sentimentos. Entendemos que é necessário para os pais passar por essas fases, ocorrendo um<br />
amadurecimento e a partir de então enfrentar com mais clareza o processo de internação.<br />
Segundo Klaus e Kennell (1992), o vínculo afetivo por parte do bebê inicia-se nos<br />
primeiros minutos de vida, justificando a importância de um contato com os pais o mais breve<br />
possível.<br />
Na prematuridade a idéia dos autores acima não se aplica rigorosamente aos pais,<br />
devido o mecanismo de enfrentamento desenvolvido por eles para lidar com a situação<br />
inesperada do parto prematuro. Compreendemos que isso é de extrema importância para o<br />
desenvolvimento do neonato, porém quando tentamos antecipar este processo nos pais<br />
podemos prolongar a passagem pelas fases de adaptação.<br />
61
É importante que a equipe respeite o percurso de adaptação e adote uma postura<br />
cautelosa, identificando a fase que o casal está percorrendo, sem fazer nenhum julgamento.<br />
Esta conduta impede que os pais afastem-se ainda mais do filho.<br />
Quando os profissionais estão capacitados para atuar com a família, eles conseguem<br />
identificar o momento adequado para iniciar o processo de formação do vínculo.<br />
A partir do momento que a equipe sente que os pais estão mais preparados, eles devem<br />
incentivá-los a participar do cuidado tornando-os mais confiantes para assumirem seu papel<br />
de pais.<br />
Existem várias maneiras da equipe de enfermagem proporcionar ao casal a<br />
aproximação com o filho através do toque, da conversa, da canção, do sussurro, da troca de<br />
fralda, da alimentação seja ela através da sonda ou amamentação, aconchego no colo materno.<br />
Enfim simples gestos que para o casal representa uma grande conquista, pois quando entraram<br />
na UTI a primeira visão era de uma criança frágil e que a partir da aproximação tornou-se o<br />
filho tão sonho e amado.<br />
Segundo Costa, Santos e Boas (2007) descrevem a enfermagem-família-RN como<br />
uma tríade, sendo a família o alicerce na construção da vida do neonato e a enfermagem<br />
através dos seus saberes de cuidar o instrumento fundamental para a valorização do universo<br />
mãe-filho.<br />
Esta pesquisa nos proporcionou compreender o quanto o casal é importante no<br />
processo de recuperação do recém-nascido e que a partir do momento que eles se assumem<br />
como pais eles estão presentes e vibram a cada pequena evolução que o filho apresenta.<br />
Até determinado momento desconhecíamos a luta que cada família enfrenta com a<br />
passagem de seu filho prematuro por uma UTI, que até o nascimento estava protegido, longe<br />
de qualquer risco, e agora tem que enfrentar situações tão difíceis para sobreviver.<br />
O marco de nossa pesquisa se concretizou ao depararmos com uma família que<br />
vivenciou até o dia da entrevista 104 dias de internação do seu filho, o relato da mãe foi<br />
essencial para compreendermos o caminho percorrido pela família que inicialmente deparam-<br />
se com a fragilidade de um RN tão pequeno, no qual então o tamanho deixa de ser uma<br />
frustração e torna-se uma esperança para enfrentar a batalha.<br />
Destacamos o relato de Estrela-do-Mar como símbolo de nossa compreensão, que<br />
superou a nossa expectativa de desenvolver um melhor conhecimento profissional nesta área,<br />
isso nos possibilitou transcender o nosso olhar quanto ao cuidar do outro, que vai além da<br />
esfera técnico-científica. Devem ser desempenhada com carinho, sensibilidade e amor por<br />
62
aquilo que escolhemos como profissão desenvolvendo qualidades que se traduzem na arte do<br />
cuidar.<br />
“O N. era prematuro extremo, ele teve tudo que tu imagina e mais um pouco, ele teve<br />
hemorragia intracraniana grau 3 e grau 4, ele teve icterícia, ele teve é enterocolite<br />
necrotizante, ele fez cirurgia. Assim quando a gente pensava que tava tudo certo, foi depois<br />
da primeira cirurgia, aí venho a hemorragia intracraniana, ai demoro pra acorda da<br />
anestesia por causa da hemorragia intracraniana. Aí quando ele acordo da anestesia quando<br />
tava tudo bom, quando ele saiu do respirador foi pro CPAP, saiu do CPAP foi pro hallo, foi<br />
pro oxigênio, aí eu pude pega ele, a gente pode bota ele no meu peito, mas eu não tinha mais<br />
leite, a gente tentava, tentava. Quando tava tudo certo, fizeram outra cirurgia nele, ai começo<br />
tudo de novo, respirador, CPAP, hallo, oxigênio, aí a gente pode pega ele no colo. Foi uma<br />
luta.[...] É um aprendizado né, porque assim ó, a gente vai dando valor a cada coisinha, meu<br />
Deus a primeira vez que ele fez cocô depois da cirurgia, quem via achava que eu tava ficando<br />
doida, ele fez cocô. Cada vitória dele, era uma vitória pra gente”ESTRELA-DO-MAR<br />
Concluímos que a equipe de enfermagem deve perceber a família como parceira no<br />
cuidado do RN internado na UTI neonatal, ensinando o que eles podem fazer, proporcionando<br />
segurança e favorecendo nas questões emocionais da família.<br />
Além das atividades diretas pais-filhos, sugerimos ações que podem ser desenvolvidas<br />
para um cuidar mais humanizado, no qual possamos fornecer um suporte à família antes e<br />
durante a internação, e também os preparando para o momento da alta.<br />
Aos pais que durante a gravidez são informados que há uma possibilidade do filho vir<br />
a internar na unidade intensiva, seja proporcionada uma visita prévia ao ambiente com<br />
explicações sucintas do processo de internação.<br />
Outra forma de diminuir a ansiedade dos pais durante o processo de internação<br />
consiste em proporcionar um ambiente de lazer com atividades de relaxamento, acesso à<br />
internet e cuidados corporais.<br />
Sugerimos também a formação de um grupo de pais, que proporcione uma troca de<br />
para uma troca de experiências e esclarecimentos de dúvidas. Aplicando a resiliência como<br />
metodologia, que consiste em trabalhar a capacidade do ser humano responder de forma<br />
positiva as situações negativas enfrentadas (SILVA, ELSEN, LACHARITÉ 2003).<br />
Segundo Silva, Elsen e Lacharité (2003) a aplicação da resiliência em grupos<br />
possibilita a construção de competências, a partir da interação entre os sujeitos. Cria-se um<br />
63
vínculo através de uma rede de apoio, para assim superar as adversidades, neste caso o a<br />
internação de um filho prematuro na UTIN.<br />
Identificamos uma ambigüidade de sentimentos em relação ao cuidado de seu filho,<br />
pois ao mesmo tempo em que os pais expressam querer desempenhar eles também relatam o<br />
medo. Não conseguimos identificar o real motivo que leva o casal a esses sentimentos,<br />
deixamos então como sugestão para uma futura pesquisa.<br />
A enfermagem é a arte de cuidar. Refletindo em cima desta frase, pensamos que o<br />
tema estudado é de grande relevância para enfermagem, pois aproxima esta do cuidar mais<br />
humanizado. Possibilita conhecimento a cerca do grande alicerce da enfermagem: a família.<br />
Enfermeiros devem conhecer o modo de viver, os gostos e desgostos, a rede familiar,<br />
o ciclo de relacionamentos para conseguir compreender e desenvolver uma melhor assistência<br />
ao seu cliente/paciente. Para tanto é indispensável a participação da família.<br />
Acreditamos que o desenvolvimento desta pesquisa além de proporcionar a nós um<br />
acréscimo profissional pessoal, a enfermagem poderá compreender um pouco da vivência dos<br />
pais com filhos prematuros internados em uma UTIN, somando em um conhecimento para<br />
melhorar a assistência ao RN e apoiar a sua família.<br />
64
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8.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. 696p. Tradução de: Obstetric nursing.<br />
71
APENDICÊ A – INSTRUMENTO PARA ENTREVISTA DA COLETA DE DADOS<br />
Serão utilizadas questões abertas, que permitirão uma abertura melhor para pesquisa,<br />
sendo elas abaixo:<br />
- Como você se sentiu quando soube que estava grávida?<br />
- Quais foram os sentimentos quando soube que seu filho necessitaria permanecer na UTIN?<br />
- Descreva como é quando você vem visitar seu filho?<br />
- Como você percebe o cuidado da equipe de enfermagem com seu filho?<br />
72
ANEXO A – MÉTODO CAPURRO PARA A AVALIAÇÃO DA IDADE<br />
Formação do mamilo<br />
0 apenas visível<br />
GESTACIONAL DO RN<br />
5 aréola bem-definida, < 7,5mm de diâmetro<br />
10 aréola bem-definida, bordas não-salientes, > 7,5mm de diâmetro<br />
15 aréola bem-definida, bordas salientes > 7,5mm de diâmetro<br />
Textura da pele<br />
0 fina e gelatinosa<br />
5 fina e lisa<br />
10 um pouco mais grossa, discreta descamação superficial<br />
15 grossa, marcas superficiais, descamação de mãos e pés<br />
20 grossa, enrugada, com marcas profundas<br />
Forma da orelha<br />
0 chata, disforme, pavilhão não-encurvado<br />
8 pavilhão parcialmente encurvado na borda<br />
16 pavilhão parcialmente encurvado em toda a parte superior<br />
24 pavilhão totalmente encurvado<br />
Glândula mamária<br />
0 não-palpável<br />
5 palpável menor que 5 mm<br />
10 entre 5 e 10 mm<br />
73
15 maior que 10 mm<br />
Pregas plantares<br />
0 sem pregas<br />
5 marcas maldefinidas sobre a parte anterior da planta<br />
10 marcas bem-definidas sobre a metade anterior e sulcos no terço anterior<br />
15 sulcos na metade anterior da planta<br />
20 sulcos em mais da metade anterior da planta<br />
Fonte: Renato, S. (2001, cap.29, p.336)<br />
74
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO<br />
COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA<br />
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO PARTICIPANTE<br />
1.Identificação do projeto de pesquisa<br />
Título do Projeto: “Vivência dos pais com filhos prematuros internados em uma unidade de<br />
terapia intensiva neonatal”<br />
Área do conhecimento: Ciências da Saúde<br />
Curso: Enfermagem<br />
Número de sujeitos no centro: Número total de sujeitos:<br />
Instituição onde será realizada a pesquisa: Hospital Santa Catarina<br />
Nome dos pesquisadores e colaboradores: Carmen Liliam Brum Marques Baptista; Luciéle<br />
Neuenfeld Weiduschadt; Luísa Helena Torres<br />
Você está sendo convidado a participar do projeto de pesquisa acima identificado. O documento abaixo<br />
contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos desenvolvendo. Sua<br />
colaboração neste estudo será de muita importância para nós mas se desistir, a qualquer momento,<br />
isso não causará nenhum prejuízo a você.<br />
2. Identificação do sujeito da pesquisa<br />
Nome:<br />
Data de Nascimento: Nacionalidade:<br />
Estado civil: Profissão:<br />
CPF: RG:<br />
Endereço:<br />
Telefone: Email:<br />
3. Identificação do pesquisador responsável<br />
Nome: Carmen Liliam Brum Marques Baptista<br />
Profissão: Enfermeira Nº Registro Conselho: 48538<br />
75
Endereço: Rua Vereador Newton Borges dos Reis, 321<br />
Telefone: (47) 3339-7867 Email: cliliambaptista@furb.br<br />
Eu, sujeito da pesquisa, abaixo assinado, concordo de livre e espontânea vontade em participar como<br />
voluntário do projeto de pesquisa acima identificado, após ter sido convidado pelo pesquisador<br />
responsável, e estou ciente de que:<br />
1. O objetivo da pesquisa é conhecer as vivências (o cotidiano, o dia-a-dia, os sentimentos) dos pais<br />
com filhos prematuros internados em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI-NEO).<br />
2. Os dados serão coletados mediante a assinatura do termo, após a leitura e esclarecimento do<br />
mesmo, a coleta será realizada com o auxílio de uma gravador, utilizado somente durante as<br />
entrevistas, estas serão feitas a partir de perguntas realizadas pelos entrevistadores.<br />
3. Não haverá benefício financeiro algum para mim como participante, assim como nenhum ônus pela<br />
participação.<br />
4. Minha participação não acarretará qualquer tipo de desconforto, riscos ou danos.<br />
5. A minha participação nesta pesquisa tem como objetivo possibilitar e acrescentar um aprimoramento<br />
no conhecimento das vivências (o cotidiano, o dia-a-dia, os sentimentos) dos pais com filhos internados<br />
em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI-NEO).<br />
6. Tenho total liberdade para desistir ou interromper a colaboração nesta pesquisa no momento que<br />
desejar, sem a necessidade de qualquer explicação ou justificativa.<br />
7. A minha desistência não causará nenhum prejuízo à minha saúde ou bem estar físico.<br />
8. Os resultados obtidos durante este estudo serão mantidos em sigilo, mas concordo que sejam<br />
divulgados em publicações científicas, desde que meus dados pessoais não sejam mencionados.<br />
9. Poderei consultar o pesquisador responsável acima identificado sempre que entender necessário<br />
obter infomações ou esclarecimentos sobre o projeto de pesquisa e sobre a minha participação neste.<br />
10. Tenho a garantia de tomar conhecimento, pessoalmente, dos resultados parciais e finais desta<br />
pesquisa.<br />
Declaro que obtive todas as informações necessárias e esclarecimentos quanto às dúvidas por mim<br />
apresentadas e, por estar de acordo, assino o presente documento em duas vias de igual conteúdo e<br />
forma, ficando uma em minha posse.<br />
76<br />
Blumenau, de de 2008.
Assinatura do pesquisador responsável Assinatura do sujeito da pesquisa<br />
Testemunhas:<br />
Nome:<br />
CPF:<br />
Telefone:<br />
77
ANEXO C – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA<br />
78