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Para o Método Suzuki, é possível aplicar os princípios da linguagem ao aprendizado musical<br />
A, b, c, dó, ré, mi<br />
As relações entre a linguagem musical e a <strong>língua</strong> falada são muitas, <strong>com</strong>o<br />
mostra o Método Suzuki de ensino de música a crianças.<br />
Por Carlos Costa | Fotos Luana Fischer<br />
reportagem<br />
Antes de existir o alfabeto, existia o som. A música do vento, árias de ar e poeira, os estalos do fogo, as batucadas<br />
de trovões... A música talvez seja a primeira das <strong>língua</strong>s e, apesar de não ser propriamente <strong>um</strong> idioma, é<br />
considerada <strong>um</strong>a linguagem universal – que tem na partitura o padrão mundial de <strong>sua</strong> representação gráfica.<br />
Formada por conjuntos de cinco linhas, chamados de pauta ou pentagrama, a partitura dá suporte a <strong>um</strong>a<br />
série de símbolos que definem <strong>com</strong>o <strong>um</strong>a peça musical será interpretada: as notas, os tons e a duração<br />
dos sons, das suspensões e dos silêncios. Trata-se de <strong>um</strong> sistema de escrita conhecido genericamente por<br />
notação musical, cuja origem está ligada aos cantos da Igreja Católica Romana da Idade Média e à figura do<br />
monge italiano Guido D’Arezzo (992-1050) – que deu nome, a partir das frases iniciais do hino a São João<br />
Batista Hymnus in Ioannem, às sete notas musicais (dó, ré, mi, fá, sol, lá e si).<br />
Os registros musicais mais antigos, datados da Idade<br />
Média, eram realizados em manuscritos que não<br />
tinham o pentagrama <strong>com</strong>o base. Foi no século XIX,<br />
<strong>com</strong> a consolidação da indústria de edição musical,<br />
que surgiu a partitura no formato atual. A música e<br />
seu sistema de escrita evoluíram. Além das notas, surgiram<br />
as figuras musicais, os <strong>com</strong>passos, as claves, as<br />
pausas, as deslocações de tons e as especificações sobre<br />
a forma de execução (vol<strong>um</strong>e, tempo, articulação<br />
e acentuação). Hoje, a linguagem da notação musical<br />
é <strong>com</strong>preendida por músicos de qualquer nacionalidade;<br />
mas, apesar do progresso, essa linguagem não<br />
foi capaz de solucionar a contradição de a partitura<br />
não ter som.<br />
Alunas da Escuela Cuatro Cuerdas, em Madri<br />
“A notação musical não dá conta de <strong>um</strong>a série de aspectos<br />
relacionados à interpretação e, de forma alg<strong>um</strong>a,<br />
substitui a experiência concreta da audição”, diz<br />
Eduardo Patrício, <strong>com</strong>positor, professor e mestrando<br />
em música pela Universidade Federal do Paraná. “Mas<br />
ela é <strong>um</strong> imenso recurso, não só para registro, mas<br />
para o exercício da criatividade e a expansão de possibilidades<br />
estruturais na música.”<br />
Língua e música<br />
Contudo, a partitura não é a única forma de escrita<br />
musical. A cifra – sistema de representação de<br />
acordes – e a tablatura – sistema baseado na posição<br />
dos dedos do músico nos instr<strong>um</strong>entos<br />
– são outras maneiras de escrever música. E,<br />
além da escrita, há o registro auditivo, a<br />
chamada “música de ouvido”.<br />
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