T - DENIPOTI, CLAUDIO.pdf - Universidade Federal do Paraná
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disposição em uma visão radicalmente não-cristã <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>", 55 e o próprio trabalho<br />
de Darnton sobre um burguês leitor de Rousseau que incorpora as idéias <strong>do</strong> filósofo e<br />
as aplica em sua própria vida "organizan<strong>do</strong> seu mun<strong>do</strong>". 56 Outro exemplo de história<br />
da leitura feita a partir <strong>do</strong> registro de leitores pode ser encontra<strong>do</strong> com os leitores<br />
curitibanos <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XIX que buscavam, na biblioteca pública local, as<br />
informações sobre amor e casamento que permeariam seus escritos posteriores,<br />
demonstran<strong>do</strong> os princípios de transmissão de conhecimento e idéias que estão na<br />
base da leitura. 57 No jogo de interpretações que vai <strong>do</strong> texto impresso ao leitor e<br />
volta ao texto (anota<strong>do</strong> pelos inquisi<strong>do</strong>res no caso <strong>do</strong> moleiro de Ginzburg; em<br />
cartas, como no burguês de Darnton, ou em poemas e romances escritos pelos<br />
leitores curitibanos) Darnton identifica a possibilidade de desenvolvermos<br />
34<br />
uma história e também uma teoria da reação <strong>do</strong> leitor. [Esta é uma<br />
história] possível, mas não fácil; pois os <strong>do</strong>cumentos raramente<br />
mostram os leitores em atividade, moldan<strong>do</strong> o significa<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s<br />
textos, e os <strong>do</strong>cumentos são, eles próprios, textos, o que também<br />
requer interpretação. Poucos deles são ricos o bastante para propiciar<br />
um acesso, ainda que indireto, aos elementos cognitivos e afetivos da<br />
leitura, e alguns poucos casos excepcionais podem não ser suficientes<br />
para se reconstruírem as dimensões interiores dessa experiência. 58<br />
Além disso, Darnton aponta para cinco abordagens possíveis para tal trabalho.<br />
Em primeiro lugar, ele sugere o estu<strong>do</strong> das descrições da leitura na ficção, em<br />
autobiografias, diários, cartas, etc... para descobrir-se "algumas noções básicas<br />
daquilo que as pessoas imaginavam ocorrer, quan<strong>do</strong> liam". 59 Um exemplo desse tipo<br />
55 DARNTON, Robert. Edição e sedição; o universo da literatura clandestina no século XVI11. São<br />
Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 201; GINZBURG, O queijo e os vermes;...<br />
56 DARNTON, Robert. Um burguês organiza seu mun<strong>do</strong> In: . O grande massacre de gatos...,<br />
p. 141-190.<br />
57 DEN1POTI, Cláudio. Leitores, escritores e o casamento. Boletim <strong>do</strong> departamento de História da<br />
UFPr 31, Curitiba, 1994. p. 33-48. _ . Páginas de prazer, ...<br />
58 DARNTON, História da leitura... p. 203.<br />
59 Ibid., p. 218.