T - DENIPOTI, CLAUDIO.pdf - Universidade Federal do Paraná
T - DENIPOTI, CLAUDIO.pdf - Universidade Federal do Paraná
T - DENIPOTI, CLAUDIO.pdf - Universidade Federal do Paraná
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
se ensinar o alfabeto através de tábuas, de micrografias, de borda<strong>do</strong>s ou de utensílios<br />
<strong>do</strong>mésticos nos quais se apresentavam as letras. A disposição destas em seqüências<br />
lineares, horizontais, verticais ou circulares, permitia que se efetuasse um aprendiza<strong>do</strong><br />
precoce da leitura. Buscava-se a identificação com as escrituras sagradas, fosse<br />
associan<strong>do</strong>-se o alfabeto aos dez mandamentos, fosse através de uma pedagogia que<br />
se equiparasse temporalmente à criação. 29<br />
Também durante a Idade Média, a leitura era indissociável da palavra,<br />
"sobretu<strong>do</strong> nos primeiros momentos, quan<strong>do</strong> a mãe ou o mestre deviam verificar<br />
constantemente o progresso <strong>do</strong> aluno". 30 Este aprendia principalmente através de<br />
incansáveis repetições de formulas consagradas - principalmente religiosas -<br />
caracterizan<strong>do</strong> um aprendiza<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> por uma leitura oral associada aos alfabetos<br />
que as crianças tinham constantemente a sua frente, nas tábuas, na louça <strong>do</strong>s pratos e<br />
nos borda<strong>do</strong>s. Essa oralidade da leitura era também aquela da palavra divina contida<br />
na Bíblia e nas obras de difusão da fé, como a Ave Maria e um <strong>do</strong>s textos mais<br />
utiliza<strong>do</strong>s no processo de ensino: o verso Domine, labia mea aperies et os meum<br />
annunciabit laudem tuam [ . . .]" 31<br />
Dentre as várias discussões e debates surgi<strong>do</strong>s a partir de trabalhos sobre a<br />
história da leitura, o mais profícuo foi certamente aquele sobre a cultura e as relações<br />
simbólicas que as práticas culturais assumem. Darnton e Chartier travaram esse<br />
debate inicialmente, com fortes divergências sobre como os próprios conceitos de<br />
28 CANFORA, Luciano. Lire a Athènes et a Rome. Annales E.S.C., Jul./Aut., 1989, 44 aneé, n.4, p.<br />
936.<br />
29 ALEXANDRE-BIDON, Daniele. La lettre volée; aprendre a lire a l'enfant au moyen age. Annales<br />
E.S.C., 44(4). p. 967. Jul./Aut., 1989.<br />
30 Ibid, p. 988.<br />
31 "Senhor, abre meus lábios, e minha boca publicará tuas palavras"<br />
24