T - DENIPOTI, CLAUDIO.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Torrezão, na qual os livros exerciam uma irresistível e envolvente sedução sobre o<br />
leitor, a leitura tornan<strong>do</strong>-se um <strong>do</strong>ce sacrifício.<br />
163^<br />
É um tipo de leitura próximo daquele de Deusdedit, que se sentia em pleno<br />
martírio (ferrões de abelhas, alfinetes e torquazes rasgan<strong>do</strong> sua carne) após a leitura,<br />
e somente após a purificação de fazer a leitura da forma mais ampla possível, pode<br />
afirmar ter alcança<strong>do</strong> algum conhecimento. Deusdedit referia-se a uma leitura<br />
estudantil, e a maior parte <strong>do</strong>s escritores, comentaristas e cronistas de então<br />
começaram suas atividades durante o perío<strong>do</strong> em que ainda se dedicavam aos<br />
estu<strong>do</strong>s. Para estes, a leitura estudantil, particularmente aquela feita à época <strong>do</strong>s<br />
exames, era uma forte fonte de preocupação. A cavação, como era, por eles mesmos,<br />
definida tal leitura, era um <strong>do</strong>s raros momentos em que uma certa carga de<br />
negatividade era lançada sobre os livros. Assim, no "microcosmo <strong>do</strong>s livros" 140 em<br />
que viviam, os estudantes lançavam anátemas às obras utilizadas para o ensino. Em<br />
uma ode à sua estante, um desses estudantes colocou a questão da leitura obrigatória<br />
no ginásio de forma clara:<br />
[•••]<br />
Sabbatinas cruéis, noutes em claro,<br />
Rouba<strong>do</strong>s ao prazer de namorar,<br />
Eis tu<strong>do</strong> quanto rende o * tão caro,<br />
Que tu com tanto pó sabes guardar.<br />
Vê bem! Laffite é duro e Comte avaro,<br />
Quem é que o Poncelet pode tragar?!...<br />
[••J 141<br />
A leitura, nesses termos, era vista como uma cruel obrigação que interrompia<br />
os prazeres da juventude, e o livro didático, um empecilho à livre escolha <strong>do</strong>s<br />
estudantes. Não é de surpreender que eles aban<strong>do</strong>nassem essas leituras assim que<br />
pudessem, deixan<strong>do</strong> "com saudade, a capital, o collegio, os amigos, os livros, para ir<br />
140 "Dr. Koltz". Ao correr da Penna. O <strong>Paraná</strong>, Curitiba, 30/nov./1910, p. 3.