T - DENIPOTI, CLAUDIO.pdf - Universidade Federal do Paraná
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destilava emoções "sadias" que faziam-no sentir "vibratiza<strong>do</strong>", a partir da leitura <strong>do</strong><br />
' ' • 129<br />
relato da viagem de Andrade Muricy A Foz <strong>do</strong> Iguassú, cita<strong>do</strong> acima.<br />
Esta prática de leitura, que identifica diferentes emoções com o livro, pode ser<br />
associada àquilo que Peter Gay chama de prática econômica da leitura, como foi<br />
apresenta<strong>do</strong> no primeiro capítulo. Se o ato de 1er "prova o id ao simular a satisfação<br />
<strong>do</strong>s instintos, lisonjeia o ego com belezas formais, aplaca o superego ao incluir o<br />
leitor numa comunidade moral invisível em que é feita justiça aos maus e aos<br />
inocentes", ele prova ser uma atividade econômica ao evitar que o leitor se exponha<br />
aos perigos envolvi<strong>do</strong>s em buscar aquelas emoções por conta própria, sem o<br />
intermédio <strong>do</strong> escritor. 130 Por outro la<strong>do</strong>, a apreciação <strong>do</strong>s livros como "amigos"<br />
pode ter uma raiz no século XVIII, à medida que possamos inferir maior ou menor<br />
grau de indentificação da leitura <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> com a leitura <strong>do</strong> iluminismo, que se<br />
pensava liberta<strong>do</strong>ra e <strong>do</strong>tada de valores universais. Seja qual for a origem de tais<br />
associações, elas demonstram intimidade com o objeto físico que contém aquilo que<br />
se deseja 1er, ao mesmo tempo que aponta para uma visão favorável da leitura e <strong>do</strong><br />
livro - qualquer leitura e qualquer livro - até que eles mesmos - livro e leitura -<br />
provem não serem bons de alguma forma. 131<br />
159^<br />
Uma outra série de sentimentos era associada ao livro. O desejo ou a posse<br />
efetiva de um determina<strong>do</strong> livro geravam diversas outras emoções nos leitores. A<br />
primeira - e mais facilmente evidente - era a felicidade da posse de um objeto<br />
deseja<strong>do</strong>. Alberto Manguei nos fala <strong>do</strong> mais famoso ladrão de livros da história - com<br />
129 Respigas. Cenáculo 11(3). Coritiba, 1896, p. 157-160.<br />
130 GAY. A experiência burguesa../, a paixão terna. p. 145.<br />
131 O argumento central é de que, como já falamos, a censura não era uma condição prévia da<br />
leitura, como queriam alguns líderes católicos e como seria o caso no pós-1930.