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moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...

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que veio a transformar a maior parte das socieda<strong>de</strong>s em socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>generadas, que veio a<br />

tornar a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em uma <strong>de</strong>sejada sobrevida, que veio a tornar o i<strong>de</strong>al oriundo da<br />

déca<strong>de</strong>nce numa espécie <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al geral da humanida<strong>de</strong>. Essa intrigante “contaminação”,<br />

essa morbi<strong>de</strong>zza geral da humanida<strong>de</strong> constitui, para Nietzsche, o gran<strong>de</strong> enigma que o<br />

animal homem propõe ao filósofo:<br />

Uma tal errância-total da humanida<strong>de</strong> em relação aos seus instintos<br />

fundamentais, uma tal déca<strong>de</strong>nce-total do juízo <strong>de</strong> valor é o sinal <strong>de</strong><br />

interrogação par excellence, o enigma propriamente dito que o animal<br />

homem propõe ao filósofo – (VP §39)<br />

Uma espécie <strong>de</strong> sobrevida <strong>de</strong>generada seria, pois então o que, para Nietzsche,<br />

caracterizaria o terceiro período da saga humana – período que só no que se refere ao<br />

Oci<strong>de</strong>nte dataria <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois mil anos. Em palavras breves, essa “sobrevida” significa<br />

que apesar <strong>de</strong> o homem não ter sucumbido absolutamente, a sua permanência foi<br />

assegurada através da sua crescente automortificação. Para que compreendamos com<br />

proprieda<strong>de</strong> o que isto quer dizer, não basta que estabeleçamos a conexão entre o período<br />

<strong>de</strong> apogeu e os primórdios do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>generescência das concreções sociais – o que<br />

faltou no capítulo anterior. É necessário que antes realizemos um retrocesso, isto é, que nos<br />

<strong>de</strong>tenhamos no aspecto doentio do processo <strong>de</strong> hominizição. Pois todo o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>generescência das concreções humanas, que é o mesmo que o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>generescência do homem em geral, está, como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, diretamente<br />

relacionado às doenças que surgiram ao longo dos dois períodos que conformam a sua<br />

história. Bem verda<strong>de</strong>, o próprio modo pelo qual o homem, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>flagrada a<br />

<strong>de</strong>generescência, veio a permanecer (sua “sobrevida <strong>de</strong>generada”), foi cunhado pela<br />

doença.<br />

Remetendo-nos ao que foi <strong>de</strong>senvolvido anteriormente, o processo <strong>de</strong> hominização<br />

possibilitou, como fruto maduro e tardio, o homem soberano. Esse tipo <strong>de</strong> homem que,<br />

como vimos, é o tipo <strong>de</strong> homem reverenciado por Nietzsche – e ao qual ele, através da sua<br />

filosofia, conce<strong>de</strong> um lugar natural <strong>de</strong> primazia na hierarquia –, não <strong>de</strong>ve ser encarado<br />

como algo que já estava inscrito, <strong>de</strong> maneira necessária, quando se <strong>de</strong>u o início da<br />

formação humana. O homem não se formou enquanto homem, não se agregou, para atingir<br />

civilizações.<br />

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