moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
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1. Doença e <strong>civilização</strong><br />
CAPÍTULO III<br />
A origem do i<strong>de</strong>al ascético<br />
No capítulo anterior expusemos dois movimentos significativamente opostos:<br />
apresentamos o da moral como auto-elevação – ápice evolutivo das organizações sociais –<br />
e, o da déca<strong>de</strong>nce – processo natural <strong>de</strong> <strong>de</strong>generação social. Observemos que esses<br />
movimentos são condizentes com o ciclo do organismo social: o seu vigor e exuberância<br />
juvenis e a sua senilida<strong>de</strong>.<br />
Contudo, nem sempre o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>generescência das organizações sociais culmina<br />
– como seria <strong>de</strong> se esperar, uma vez que Nietzsche as compreen<strong>de</strong> como organismos<br />
dotados <strong>de</strong> um ciclo vital – com a morte propriamente dita. Em virtu<strong>de</strong> das complexas e<br />
potentes teias que compõem esse tipo <strong>de</strong> organismo, faz-se possível a criação <strong>de</strong> artifícios<br />
capazes, não <strong>de</strong> reverter a <strong>de</strong>generescência, mas <strong>de</strong> cristalizá-la e assim, garantir uma<br />
sobrevida.<br />
Excetuando o último item do capítulo anterior, <strong>de</strong>tivemo-nos, até então, unicamente à<br />
perspectiva saudável, “feliz” – ao menos, no que se refere aos parâmetros nietzschianos –<br />
da formação do homem e da <strong>moralida<strong>de</strong></strong>. Todavia, essa saú<strong>de</strong> das concreções sociais – que,<br />
como bem o sabemos, engloba tanto a do homem, quanto a da <strong>moralida<strong>de</strong></strong> – configura um<br />
período (o período intermediário) que, <strong>de</strong> um modo geral, já passou. E isso não porque os<br />
diferentes organismos sociais tenham chegado à fase da <strong>de</strong>generescência<br />
concomitantemente. Afinal, diferentes povos tanto po<strong>de</strong>m surgir em épocas distintas,<br />
quanto as suas fases po<strong>de</strong>m ter diferentes durabilida<strong>de</strong>s – e, assim, um povo po<strong>de</strong> sucumbir<br />
enquanto outro se forma. Se, para Nietzsche, po<strong>de</strong>mos afirmar que o período <strong>de</strong> apogeu<br />
das concreções sociais já passou – o que, por sua vez, não impe<strong>de</strong> que haja novos apogeus<br />
–, é porque, para ele, houve uma contaminação geral da <strong>de</strong>generescência 66 , contaminação<br />
66 Na anotação §143 da Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Potência, po<strong>de</strong>mos observar que o filósofo compreen<strong>de</strong> a <strong>civilização</strong><br />
egípcia como a primeira que esteve sob o domínio do i<strong>de</strong>al ascético. Para Nietzsche foi a <strong>de</strong>generescência<br />
<strong>de</strong>ssa <strong>civilização</strong> que veio a contaminar a grega – vi<strong>de</strong> nota §427. Ainda na anotação §143, Nietzsche<br />
coloca a <strong>de</strong>generescência cristã como <strong>de</strong>rivada da judia e esta última como <strong>de</strong>rivada da raça ariana.<br />
Enfim, temos nessa nota todo um esquema da contaminação da <strong>de</strong>generescência entre as diferentes<br />
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