moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
moralidade, civilização e decadência - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
sempre existiu – a sua dor é dada pela ausência <strong>de</strong> resposta à pergunta para qual ele volta<br />
todo o seu clamor: “para que sofrer?”. O sofrimento sem interpretação é o que lhe era<br />
<strong>de</strong>masiado difícil <strong>de</strong> suportar (GM III, §28). O bicho homem <strong>de</strong>generado, sem força para<br />
tomar a vida em suas mãos, para significá-la, per<strong>de</strong>-se no fluxo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>vir <strong>de</strong>senfreado<br />
que lhe provoca intenso sofrimento. Incapaz <strong>de</strong> valorar, as portas do suicídio são abertas. A<br />
morte passa a ser o único consolo, a única saída para um <strong>de</strong>vir sem sentido e cruel – nesse<br />
momento a déca<strong>de</strong>nce se aproxima do seu <strong>de</strong>sfecho.<br />
Ao <strong>de</strong>sestruturar o sistema <strong>de</strong> valores sob o qual se funda uma socieda<strong>de</strong>, o processo<br />
<strong>de</strong> déca<strong>de</strong>nce impossibilita não só uma existência saudável, como a própria existência.<br />
Quanto mais esse processo avança, mais o homem é assolado pelo <strong>de</strong>sejo, pela necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> perecer. Sem forças para lutar contra a morte, a favor da vida, o que resta ao bicho<br />
homem doente é tomar o partido da morte. Dessa maneira, não ficando satisfeito em<br />
simplesmente <strong>de</strong>ixar-se morrer, po<strong>de</strong> utilizar, tamanho é seu <strong>de</strong>sgosto com a vida, o pouco<br />
<strong>de</strong> força que lhe resta para organizar verda<strong>de</strong>iras epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> aniquilamento. Contudo,<br />
paradoxalmente, <strong>de</strong>sse ódio contra a vida, <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> morte, um direcionamento, uma<br />
valoração é extraída pelos instintos <strong>de</strong> cura e proteção da vida que <strong>de</strong>genera – e é assim<br />
que o instinto da déca<strong>de</strong>nce entra em cena como vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência (VP § 401).<br />
93